O Todo na Parte. Amelia Toledo. Pintura. Escultura. Instalação

Primeira exposição individual de Amelia Toledo (1926-2017), organizada pelo Serviço de Exposições e Museografia. Com esta mostra a artista brasileira pretendia apresentar ao público português uma panorâmica da sua obra, reunindo para tal trabalhos em vários suportes, que abrangiam o seu percurso desde o seu exílio em Portugal, na década de 1960, até à atualidade.
First solo exhibition of the work of Amelia Toledo (1926-2017), organised by the Exhibition and Museography Department. The Brazilian artist sought to present the Portuguese public a panorama of her work, bringing together projects on various media in a display that covered her career from the time of her exile in Portugal in the 1960s to the present day.

Exposição individual de Amelia Toledo (1926-2017), apresentada na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01).

Com esta mostra a artista brasileira pretendia, como a própria explica, «trazer para o conhecimento de Portugal, país onde fui acolhida e formei laços profundos, algumas obras de meu percurso, que de alguma forma se complementam e corroboram, indicando as tendências da obra em seu conjunto» (Carta de Amelia Toledo, 1991, Arquivos Gulbenkian, SEM 00479).

Amelia Toledo viveu em Portugal entre 1965 e 1969, como exilada política. Durante esses anos organizou e ministrou cursos na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa. O trabalho mais antigo trazido para esta exposição – Mundo de Espelho (1966) – remonta precisamente a este período. Trata-se de uma escultura composta por cinquenta placas em aço inoxidável, perfuradas e fendidas, ligadas através de um sistema de encaixe, formando diferentes ângulos entre si, numa infinidade de possibilidades. O resultado é um espelho constituído por vários espelhos dirigidos para pontos distintos, tornando-se verdadeiramente abrangente. José-Augusto França refere-se a esta obra nos seguintes termos: «É escrita múltipla no espaço que corta e multiplica também; é imagem de tudo e de nós próprios, espelho do mundo realíssimo; é presença humilde, à medida do espectador que queira entrar no grande jogo da imaginação.» (O Todo na Parte. Amelia Toledo. Pintura, Escultura, Instalação, 1991)

A temática finito-infinito é abordada pela artista, ao longo do seu percurso, de diversos modos, quer através dos materiais usados quer das formas orgânicas exploradas. Outra característica relevante é a componente lúdica que algumas destas peças assumem.

A algumas obras de referência das décadas de 1960, 1970 e 1980 (Discos Tácteis, 1968; Pegada da Onça, 1974; Caligrafias, 1982; Gambiarra, 1982, entre outras) junta-se uma seleção de trabalhos recentes, concebidos propositadamente para esta exposição, como as instalações Oceânico (1990) e Luzango (1990), as quais produzem diferentes efeitos cromáticos e lumínicos.

Ao longo da Galeria de Exposições Temporárias foram criados diferentes ambientes compostos por duas ou mais peças escultóricas. Para tal, contribuiu fortemente o tipo de iluminação usada. A sala dedicada à série Frutos do Mar, realizada em 1982-1983, encontrava-se praticamente na penumbra, encontrando-se apenas iluminadas, através de focos dirigidos, as pequenas esculturas em resina poliéster com formas marinhas (conchas, búzios). Esta opção simulava o meio subaquático, sendo, por outro lado, uma encenação que evidenciava a sensação de descoberta fascinante. Estas peças encontravam-se dispostas sobre areia, em grandes caixas pretas paralelepipédicas – Cheio do Oco (1982); Limites do Dentro (1982) –, conjugando-se, assim, elementos naturais e artificiais. Outros dos trabalhos expostos faziam uso de matérias outrora orgânicas (conchas de diferentes formatos) reunidas em pequenas caixas de madeira, ou suspensas, como no caso da peça Gambiarra (1982), composta por conchas de ostras montadas num fio de nylon, formando uma espécie de instrumento musical. Seguiam-se algumas salas de luz branca, como aquela onde se encontrava Luzango (1990), uma obra formada por 150 quilos de cacos de cristal, e a sala onde predominavam formas ondulantes e coloridas, apresentando o projeto escultórico O Corte na Cor (1990) e os Discos Tácteis (1968). No corredor de comunicação entre as salas foi exposta uma seleção de aguarelas e pinturas gestuais marcadas pela exploração da cor.

A mostra culminava numa grande sala de cantos arredondados, na qual o visitante mergulhava num ambiente etéreo, graças a um jogo de luz azul-celeste e branca. Neste espaço, foram expostas Oceânico (1990) e Frutos do Mar (1982), que, além da temática, possuíam em comum o facto de resultarem de ações de agentes ao longo do tempo – no primeiro caso, de uma solução de pigmentos azuis, na qual estivera embebida a juta de trama larga, e, no segundo, das cracas e briozoários que se fixaram nos moldes em poliéster mergulhados no mar.

Nota-se, portanto, um fascínio particular pelo mundo subaquático, uma realidade paralela, com o seu ritmo próprio, cuja flora e fauna, com pormenores ainda por desvendar, exercem fascínio sobre a artista. A noção de realidades paralelas é aprofundada através de esculturas e instalações produzidas com materiais cujas diferentes características (refletores, transparentes, opacos) contribuem para dar a ver «o todo na parte», como o título da exposição anuncia.

Após a exposição, uma das pinturas expostas foi integrada na coleção do Centro de Arte Moderna (Inv. PE30).

Mariana Roquette Teixeira, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Da cor da trama

Amélia Toledo

Da cor da trama, (1989) / Inv. PE30

Da cor da trama

Amélia Toledo

Da cor da trama, (1989) / Inv. PE30


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

José Sommer Ribeiro (à esq.)

Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Biblioteca de Arte Gulbenkian, Lisboa / Dossiê BA/FCG

Coleção de dossiês com recortes de imprensa de eventos realizados nas décadas de 80 e 90 do século XX, organizados de forma temática e cronológica. 1984 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00479

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, orçamentos para convite, cartaz, catálogo, lista de obras para efeitos de seguro, material para o catálogo, publicações de exposições anteriores, comunicado de imprensa, convite, recortes de imprensa. 1987 – 1991

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0273-D00879

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1991

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0273-D00880

Coleção fotográfica, p.b.: aspetos (FCG, Lisboa) 1991

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0273-D00882

Coleção fotográfica, p.b.: inauguração (FCG, Lisboa) 1991

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0273-D00883

Coleção fotográfica: inauguração (FCG, Lisboa) 1991


Exposições Relacionadas

Aparício

Aparício

1984 / Sede Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

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