Cristina Reis

Encontros ACARTE 96

Exposição/Instalação da artista portuguesa Cristina Reis (1945), realizada no âmbito da inauguração dos Encontros ACARTE 96. Com a museografia a cargo da artista e crítica de arte Ruth Rosengarten, foi apresentada a instalação Ou Talvez Não.
Exhibition/Installation by Portuguese artist Cristina Reis (1945) organised for Encontros ACARTE 96. The installation “Ou Talvez Não” (“Or Maybe Not”) was coordinated by artist and art critic Ruth Rosengarten (1954).

O convite dirigido pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) à cenógrafa, figurinista e designer gráfica Cristina Reis (1945) concretizou-se na organização de uma exposição/instalação com o intuito de sinalizar a abertura dos Encontros ACARTE da FCG em 1996.

A exposição contou com a curadoria de Jorge Molder e Rui Sanches (à data diretor e diretor-adjunto do CAMJAP), que entenderam dar protagonismo às artes cénicas no universo das artes plásticas, pela sua relevância enquanto estímulo e inspiração. Nesse sentido, como declara Jorge Molder no comunicado de imprensa, a artista recebeu carta branca para criar «a seu gosto, sem constrangimentos especiais, valorizando a sua vasta experiência nas artes cenográficas» (Comunicado de imprensa, 1996, Arquivos Gulbenkian, CAM 00379).

A proposta de Cristina Reis resultou na instalação Ou Talvez Não, sendo o projeto museográfico da exposição entregue a Ruth Rosengarten, numa encenação em que, segundo a autora, nenhum detalhe foi aleatório. Nos dois quartos escuros, erguidos propositadamente para a instalação, foram depositados vários objetos rígidos que se encontravam iluminados com nitidez. Os objetos pontuavam o espaço, como a medi-lo ou a cartografá-lo. Estes objetos, «embora não apontassem para uma história específica, acabavam por criar um ambiente de clausura e de libertação» (Rosengarten, Visão, 7 nov. 1996, p. 88). A presença humana foi sugerida através de objetos metonímicos: uma cadeira, uma porta, uma camisa.

Como refere Ruth Rosengarten, num artigo que escreveu para a exposição, a obra de Cristina Reis pretendeu apontar e esclarecer questões como «a relevância (ou talvez não) da instalação como opção museográfica; o estatuto do objecto de arte; o lugar e o estatuto da narrativa em tais contextos» (Ibid.).

Segundo Jorge Molder e Rui Sanches, o desafio proposto à artista resultou numa «obra cujo próprio título parece confiná-la, numa prévia aproximação, à forma de uma dúvida, ou de uma interrogação: como se a artista questionasse o sentido deste seu fazer; ou talvez pretendesse questionar em sentido amplo essa forma de arte, tão do nosso tempo, a que chamamos instalação» (Comunicado de imprensa, 1996, Arquivos Gulbenkian, CAM 00379).

Retomando Rosengarten: «Raras vezes este espaço de exposições temporárias foi trabalhado de forma tão inteligente, convidando-nos a vivenciá-lo em modos inesperados. Com uma depuração de meios raramente vista, Cristina Reis tratou de eliminar possíveis materiais de toda uma série com que poderia trabalhar o espaço que lhe foi oferecido. Os objectos postos de parte encontram-se arrumados cuidadosamente à entrada. Um corredor branco estreito divide o espaço diagonalmente em dois quartos trapezoidais obscurecidos. O corredor parece conduzir a um beco sem saída, e a surpresa que temos à entrada nos dois quartos só pode ser referida como teatral. Uma “pedra” branca entalada entre as paredes do corredor ameaça o nosso percurso aos passarmos debaixo dela: feita de esferovite, o seu efeito de ilusão é também um artifício das artes cénicas. […] Ao jogar no limiar entre o real e o ilusório, entre a narrativa e o esvaziamento de narrativa, Cristina Reis criou uma instalação sugestiva e provocadora.» (Rosengarten, Visão, 7 nov. 1996)

A exposição, que contou com um conjunto de visitas guiadas, não seria acompanhada da publicação de catálogo. Foi apenas possível localizar o comunicado de imprensa, assinado pelos diretores do CAMJAP, que esclarece sobre os objetivos da mostra.

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Programa cultural

Encontros ACARTE 96

set 1996 – out 1996
Fundação Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal

Publicações


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00379

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência oficial, comunicado de imprensa e recortes de imprensa. 1996 – 1997

Arquivos Gulbenkian (ACARTE), Lisboa / ACARTE 00674

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência relativa à instalação de Cristina Reis intitulada «Ou Talvez Não». 1996 – 1996


Exposições Relacionadas

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