Arte Pré-Colombiana da Colecção Barbier-Mueller

Exposição coletiva e itinerante de arte pré-colombiana, realizada por iniciativa da Embaixada da Suíça em Portugal e do Museu Barbier-Mueller, de Genebra. A mostra apresentou um conjunto de peças diversificado, como cerâmicas, esculturas e tecidos, que deram a conhecer os costumes destas antigas civilizações, até então praticamente desconhecidas.
Collective travelling exhibition of pre-Columbian art organised by the Swiss Embassy in Portugal and the Barbier-Mueller Museum, Geneva. The show featured a diverse selection of works, including ceramics, sculptures and fabrics, which revealed the customs of these ancient civilisations, practically unknown at the time. 

Exposição coletiva e itinerante, realizada por iniciativa da Embaixada da Suíça em Portugal e do Museu Barbier-Mueller, de Genebra, organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e apresentada no Museu Calouste Gulbenkian (MCG). Comissariada por Elvira Maluquer, a exposição contou com a conceção de Jean Paul Barbier.

Após ter sido contactada pela Embaixada da Suíça em Portugal em setembro de 1993, em nome do embaixador Erik-Roger Lang, a Fundação Calouste Gulbenkian recebeu esta exposição, que deu a conhecer ao público um conjunto de aproximadamente 148 peças de arte pré-colombiana, datadas do século XII a.C. ao século XV d.C. e provenientes de várias regiões da América Latina. Do total de peças contabilizadas, cerca de 65 eram originárias do México, dez da Guatemala, uma das Honduras, sete da Costa Rica, 40 do Peru, duas do Panamá, uma da Nicarágua e 21 do Brasil (Carta de Helena de Matos para Maria Rosa Figueiredo, 3 fev. 1995, Arquivos Gulbenkian, MCG 03086).

A mostra apresentou uma diversidade de tipos de arte e materiais – cerâmicas, têxteis e esculturas de pedra e metal – que deram a conhecer a cultura, o estilo e a expressividade das antigas civilizações pré-colombianas e o modo como encaravam certos assuntos, como a sua relação com as divindades astecas ou a sua visão do que seria a vida após a morte. Jean Paul Barbier aborda um pouco desta temática no catálogo, fazendo também referência a um dos mais notáveis poetas do século XX: «Octavio Paz escreveu algures que o homem da antiguidade meso-americana não tinha outro objectivo, outra preocupação, senão o “alimentar os deuses esfomeados”, o que se opõe às nossas concepções modernas europeias.» (Arte Pré-Colombiana da Colecção Barbier-Mueller, 1995, p. 5)

Alexandre Pomar, em artigo publicado no jornal Expresso, faria um retrato sintético: «Em vitrines sucessivas, através da singularidade dos objectos religiosos, mágicos, votivos e por vezes talvez só utilitários, desdobra-se um muito complexo itinerário artístico com cerca de três milénios de existência, desde as primeiras aldeias neolíticas da América Central até ao momento do choque com os invasores-descobridores de pré-colombianos que os reúne.» (Pomar, Expresso, 1 abr. 1995, p. 81)

Alguns dos objetos apresentados demonstravam por vezes algum nível de realismo nas representações humanas e animais, realismo esse que era interligado com novas linguagens conceptuais próprias das civilizações em questão. Na opinião de Alexandre Pomar, estes faziam parte de um «contexto cultural em que real e simbólico não se constituíram como planos diferenciados» (Ibid.).

As peças apresentadas nesta mostra fazem parte da coleção privada de Joseph Mueller, que foi iniciada após o fim da Primeira Guerra Mundial e posteriormente continuada pelos seus descendentes – sendo um deles o seu genro, Jean Paul Barbier –, depois de terem passado por diversas leiloeiras e antiquários da Europa e dos Estados Unidos da América. A coleção pertence na sua totalidade ao Museu Barbier-Mueller, em Genebra, criado em 1977 por Jean Paul Barbier em parceria com a sua mulher, com o principal objetivo de conseguir tornar pública a longa coleção estabelecida por Mueller.

Acerca do percurso da coleção, Jean Paul Barrier declararia: «A sua presença num museu privado suíço deve-se à curiosidade incansável do coleccionador Joseph Mueller (1887-1977), proprietário, antes de 1918, de quadros de Van Gogh, Cézanne, Picasso, Matisse ou Hodler, o qual, a partir de 1921, ano em que fixou residência em Paris, começou a reunir esculturas e máscaras africanas, ídolos da Oceania e peças originárias da América antiga.» (Arte Pré-Colombiana da Colecção Barbier-Mueller, 1995, p. 5)

Até à época, a arte pré-colombiana era praticamente desconhecida no resto do mundo, daí a iniciativa da exposição em causa ser um marco fundamental para a sua divulgação. Segundo José Sommer Ribeiro, já tinha sido apresentada uma exposição de arte pré-colombiana em 1965, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, designada «Ouros do Peru» (Apontamento de José Sommer Ribeiro para Maria Teresa Gomes Ferreira, 20 out. 1993, Aquivos Gulbenkian, MCG 03085). Barbier, acerca das civilizações pré-colombianas, afirmaria tratar-se de «uma das civilizações mais ignoradas do planeta, que existiu há mais de um milénio» (Arte Pré-Colombiana da Colecção Barbier-Mueller, 1995, p. 6).

Antes de ser tornada pública, em 1977, com a criação do Museu Barbier-Mueller, a coleção passou por vários locais em Espanha. Em 1922, foi exposta na Fundação Maeght, em Saint Paul-de-Vence, e no Centro Cultural da Fundació «la Caixa», em Barcelona. Em 1994, passou ainda por Santiago de Compostela, Valladolid, Palma de Maiorca, Madrid e Granada.

A mostra e o catálogo estão estruturados de forma temática, dividindo-se em três zonas culturais: a primeira zona (conhecida como Mesoamérica) é composta pelo México e pelos países da América Central, desde Guatemala, Honduras, El Salvador e Nicarágua; a segunda zona centra a sua atenção na região do Peru e na civilização dos Andes; a terceira região diz respeito ao Brasil e às diferentes culturas da Amazónia. Todas as regiões compreendiam uma grande diversidade de objetos, sendo particularmente expressivas as peças ligadas ao culto dos deuses, dado o lugar fundamental que a religião ocupava na vida destes povos.

Foram ainda realizadas algumas atividades paralelas à exposição, tais como um ciclo de conferências, um ciclo de cinema e uma sessão de audiovisuais. Também estaria planeado um bailado, que, todavia, não chegou a realizar-se.

O ciclo de conferências foi inteiramente proferido por Carlos Villegas-Ivich, um artista, museólogo e especialista em arte pré-hispânica e professor de História de Arte e da Civilização Pré-Hispânica no Centro de Estudos de História da Arte Bernard Bruyère. As três conferências foram dedicadas a diversos aspetos dos povos pré-hispânicos, nomeadamente: o pensamento e as crenças, conhecimentos astronómicos, cartográficos e matemáticos, ou a relação com o cosmos evidenciada na estatuária e na arqueologia.

O ciclo de cinema, organizado pelo Instituto Nacional de Antropologia e História, pela Direção-Geral dos Assuntos Culturais e pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do México, complementou e enquadrou o tema da exposição com a seleção de filmes que iam ao encontro de alguns tópicos como a história do México, as práticas religiosas e os seus pontos de vista e os costumes pré-hispânicos.

Jean Paul Barbier termina a sua entrada no catálogo expressando o seu entusiasmo pela oportunidade de poder ver esta coleção exposta e por conseguir partilhá-la com o público em geral, defendendo a ideia de que a arte «é o caminho mais curto que vai de um homem a outro homem» (Arte Pré-Colombiana da Colecção Barbier-Mueller, 1995, p. 6).

Antes de ser apresentada em Lisboa, a mostra passou por cinco cidades espanholas no âmbito das comemorações do quinto centenário da assinatura do Tratado de Tordesilhas (Comunicado de imprensa, 3 mai. 1993, Arquivos Gulbenkian, ID: 267753).

Joana Atalaia, 2018


Ficha Técnica


Eventos Paralelos

Ciclo de conferências

Ciclo de conferências sobre Arte Mexicana/Pré-Colombiana

8 mai 1995 – 10 mai 1995
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Ciclo de cinema

Ciclo de Cinema Etnográfico e Arqueológico

20 mai 1995 – 28 mai 1995
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Exibição audiovisual

Arte Pré-Colombiana da Colecção Barbier-Mueller

3 mai 1995 – 6 mai 1995
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Carlos Villegas-Ivich (conferencista)
Ciclo de conferências sobre Arte Mexicana/Pré-Colombiana
Visita oficial do ministro dos Negócios Estrangeiros da República de San Marino. Pasquale Valentini e João Castel-Branco Pereira
Maria Elisa Domingues (á esqu.) e Maria Teresa Gomes Ferreira (à dir.)
Mário Soares (ao centro)
Mário Soares (à esq.) e Maria Teresa Gomes Ferreira (à dir.)
Luís Guimarães Lobato
José Blanco, Pedro Tamen e Maria Teresa Gomes Ferreira (da esq. para a dir.)
Mário Soares (centro, dir.)
Luís Magalhães Lobato, António Ferrer Correia, Mário Soares e Maria Teresa Gomes Ferreira (da esq. para a dir.)
Mário Soares
Mário Soares (ao centro)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03085

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, programas, correspondência interna e externa, orçamentos de transporte das obras, convite da itinerância em Madrid. 1993 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03086

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, programa provisório das sessões de vídeo, programa do ciclo de cinema e do ciclo de conferências, orçamentos, convite. 1994 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG/02/007-S007/04-P0023-D00288

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1995


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