Doris Salcedo. Plegaria Muda

Exposição individual itinerante da artista colombiana Doris Salcedo (1958), apresentando uma instalação inédita, Plegaria Muda, composta por 162 esculturas. Esta mostra, inserida num projeto internacional de várias itinerâncias, contou com o projeto expositivo da própria artista.
Solo travelling exhibition by Colombian artist Doris Salcedo (1958) displayibg the installation work Plegaria Muda, composed of 162 sculptures. The show was staged several times in the world and was curated by the artist herself.

Exposição individual e itinerante da artista colombiana Doris Salcedo (1958), na qual foi apresentado o projeto Plegaria Muda, composto por 162 esculturas. Inaugurada a 11 de novembro de 2011, com a presença da artista, a exposição estaria patente na Nave do Centro de Arte Moderna (piso 0) até 22 de janeiro de 2012.

Numa iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a exposição seria integrada num projeto internacional com várias itinerâncias que cruzariam continentes. A primeira itinerância iniciou-se no MUAC (Museo Universitario Arte Contemporáneo), da Cidade do México, entre 8 de abril e 3 de julho de 2011, seguindo depois para a Suécia, onde esteve em exposição no Moderna Museet Malmö, de 20 de maio a 4 de setembro de 2011, à qual se seguiu a itinerância lisboeta. Já em 2012, a mostra seria apresentada no MAXXI (Musei Nazionale delle Arti del XXI Secolo), em Roma, entre 15 de março e 24 de junho, quase em simultâneo com a exposição no White Cube, de Londres, entre 19 de abril e 23 de junho. A última etapa desta itinerância seria na Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre 20 de setembro e 9 de dezembro de 2012. Importa destacar, contudo, que inicialmente o projeto estava pensado para arrancar com uma exposição na Colômbia, no Museo de Arte Moderno de Medellín, no período de 29 de novembro de 2010 a 13 de fevereiro de 2011. Todavia, os requisitos do projeto desenvolvido por Salcedo implicavam a existência de condições de humidade e temperatura específicas, cuja ausência impediu a viabilidade da exposição no espaço do museu colombiano.

Desenvolvida especificamente para este programa de itinerâncias, a instalação conceptualizada por Doris Salcedo, intitulada Plegaria Muda, teve como ponto de partida o seu país natal, a Colômbia, e o cenário de violência ali vivida, especificamente os numerosos casos de jovens assassinados. Consequentemente, a artista acompanhou a jornada de um conjunto de mães em busca dos seus filhos desaparecidos e o seu processo de luto após descobertos e identificados como vítimas de assassinato. Cada estrutura que ocupou o espaço expositivo possuiu um caráter individual, remetendo para o luto e para o rito funerário que esteve associado a cada uma das vítimas.

A instalação estabeleceu uma relação direta entre violência, morte, memória e sua perpetuação, abordando sobretudo a dimensão humana do ritual funerário, ainda que a morte das vítimas fosse um ato de dessacralização. Nas palavras da autora: «Ao individualizar a experiência traumática através da repetição, espero que esta obra consiga, nalguma medida, evocar e restituir a cada morte a sua verdadeira dimensão, permitindo assim o retorno à esfera do humano destas vidas dessacralizadas. Espero que, apesar de tudo, e mesmo em condições difíceis, a vida prevaleça… como sucede em Plegaria Muda.» (Doris Salcedo. Plegarida Muda, 2011, p. 32)

Tendo em conta as palavras da artista, podemos estabelecer uma relação umbilical entre vida e morte, pois as esculturas semelhantes a caixões, sinónimo do fim de um ciclo, são também redutos de vida, uma vez que delas brotam plantas que vão crescendo no espaço expositivo ao longo do período em que estão patentes ao público.

Gera-se uma dualidade entre fim e renovação, a brutalidade da morte e a fragilidade da vida, simbolizadas pelas esculturas que Salcedo denomina como «criaturas», que por sua vez se interrelacionam com os espectadores. O visitante tem a oportunidade de estabelecer uma ligação com as esculturas, já que se pode deixar afetar por elas, tal como a sua presença tem a capacidade de afetar as esculturas, pois através do corpo, da ativação da respiração e dos sentidos, as plantas podem tornar-se mais vulneráveis.

O ato reflexivo da artista, que assume um caráter disruptivo, evitando o silêncio e invisibilidade das vítimas de assassínio na Colômbia, é extensível ao espectador, que é levado a pensar sobre a sua própria finitude, bem como na da obra de arte.

De certa forma, esta instalação assume-se como uma síntese da obra produzida pela artista ao longo da sua carreira, conservando algumas das suas marcas autorais, nomeadamente o uso de madeiras velhas usadas, o cinzento das mesas que remete para o cimento, um dos seus materiais de eleição, bem como a permanência do objeto como vestígio, como um marco da passagem do tempo.

O projeto expositivo foi um trabalho conjunto entre Doris Salcedo, que se mostrou ativamente interessada na construção do espaço, onde cada peça desempenhava um papel específico na idealização do espaço conjunto, e da arquiteta Cristina Sena da Fonseca, do Centro de Arte Moderna. Em Lisboa, foram apresentadas 162 esculturas, e cada itinerância apresentou um conjunto distinto de peças. Na Suécia, foram apresentadas 66 esculturas, no White Cube, em Londres, 45 peças, e 96 na mostra de Roma e São Paulo (Arquivos Gulbenkian, CAM 00645).

O catálogo que acompanhou a exposição inclui textos de Isabel Carlos, curadora da exposição em Lisboa, bem como de Mieke Bal, Moacir dos Anjos e da própria artista. Na sua produção, o catálogo enfrentou alguns problemas, por causa do cancelamento da primeira itinerância em Medellín, pois a sessão fotográfica que deveria ser incluída no catálogo teve obrigatoriamente de transitar para a exposição na Cidade do México. Consequentemente, os planos iniciais de publicação em edições bilingues (espanhol/inglês, sueco/inglês, português/inglês e italiano/inglês) sofreram alterações. O catálogo da exposição em Lisboa viria a ser editado em versão trilingue (português/sueco/inglês). A versão espanhola acabaria mesmo por ser cancelada.

Paralelamente à mostra, tiveram lugar algumas iniciativas de ação educativa, nomeadamente visitas guiadas, a apresentação de um filme de Mieke Bal (1946), intitulado A Long History of Madness, no dia 10 de novembro, bem como uma conferência, conduzida por Doris Salcedo e subordinada ao tema da exposição, no dia em que esta inaugurou.

Após o encerramento da mostra foram adquiridas três esculturas presentes na exposição, que atualmente pertencem à coleção do Centro de Arte Moderna da FCG.

Ao longo de cerca de três meses, a exposição de Doris Salcedo recebeu 11 861 visitantes e foi considerada pelo curador Cuauhtémoc Medina González, na revista Artforum, uma das melhores exposições de 2011.

Patrícia Simões, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Plegaria Muda

Doris Salcedo (1958 - )

Plegaria Muda, Inv. 13EE81

Plegaria Muda

Doris Salcedo (1958 - )

Plegaria Muda, Inv. 13EE81


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

[Doris Salcedo. Plegaria Muda]

11 nov 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 2
Lisboa, Portugal
Exibição audiovisual

A Long History of Madness (2011)

10 nov 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Uma Obra de Arte à Hora do Almoço

nov 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Domingos com Arte

nov 2011 – jan 2012
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Encontros ao Fim da Tarde

jan 2012
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Conferência / Palestra

[Doris Salcedo. Plegaria Muda]

11 nov 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Patrícia Rosas
Teresa Gouveia
Doris Salcedo (ao centro) e Teresa Gouveia (à dir.)
Doris Salcedo (à esq.)
Doris Salcedo
Vasco Araújo (ao centro)
Emílio Rui Vilar
Catarina Rosendo e Carlos Nogueira
Ana Vieira (à esq.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00636

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, recortes de imprensa, comunicado de imprensa, «planting manual», correspondência, contratos, seguros e transportes. 2009 – 2010

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00637

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém recortes de imprensa, documentação relativa à organização das itinerâncias, correspondência, orçamentos, textos para catálogo e informações de transporte. 2010 – 2011

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00638

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém «condition reports», documentos de transporte, orçamentos, correspondência, instruções de montagem e desmontagem das peças, bem como o contrato da exposição e textos para catálogo. 2009 – 2011

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00645

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, documentos de transporte, correspondência, orçamentos, «loan agreement», «loan forms» e planta da exposição. 2009 – 2012

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 7625

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 2011

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 7626

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 2011 – 2011


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.