Exposição coletiva realizada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), apresentada no Museu Calouste Gulbenkian (MCG) e coordenada pela sua diretora, Maria Teresa Gomes Ferreira.

No âmbito desta «Visita», o Museu Calouste Gulbenkian deu a conhecer alguns dos «tesouros escondidos» nas suas reservas. A mostra, que compreendeu obras de pintura, cerâmica, têxtil, escultura, mobiliário, ourivesaria, joalharia, livros e itens relacionados, juntou cerca de 200 peças da coleção privada de Calouste Gulbenkian.

Constituiu a terceira mostra de obras selecionadas a partir do espólio do colecionador Gulbenkian. As duas anteriores datam de 1976 e de 1985 – esta última intitulada «Um Olhar sobre as Reservas». Recorde-se que «o espólio foi legado à Fundação em 1956, mas só foi recolhido na totalidade quatro anos depois (estava disperso por Paris, Londres e Washington)» (A. H., Expresso, 16 nov. 1996, p. 4).

Esta preocupação de mostrar ciclicamente obras das reservas corresponde a um «desejo de dar a conhecer o conjunto da Colecção Calouste Gulbenkian: quer através de exposições temporárias de maior ou menor impacto, quer por meio de simples visitas às Reservas no seu local habitual» (Comunicado de imprensa, 1996, Arquivos Gulbenkian, MCG 03010).

Quanto a esta seleção, a diretora do MCG diz tratar-se de «peças que na sua maioria poderiam estar integradas nas Galerias de Exposição Permanente mas que, por razões de vária ordem, não foram incluídas no espaço do Museu quando foi feita a sua programação: Obras pouco estudadas na época ou cujos autores não tinham ainda gozado dos favores do público e da crítica; outras de difícil exposição ou de difícil integração nos núcleos programados; outras ainda que, por razões de conservação, deveriam ser exibidas em rotação e nunca em permanência, ou que, por muito semelhantes às selecionadas, foram conservadas em reserva para não tornar a exposição do museu sobrecarregada com peças idênticas» (Ibid.).

A conservadora do MCG, Fernanda Passos Leite, apontou igualmente a fragilidade de algumas peças e frisou que a rotatividade entre as obras expostas teria de ser assegurada para tornar o Museu uma fonte de «animação», «defendendo assim o recinto de um carácter puramente estático» (Andrade, Correio da Manhã, 18 nov. 1996, p. 33).

Definindo um circuito que manteve, nas palavras de Maria Teresa Gomes Ferreira, «o espírito de Reservas», cujo intuito era transportar o visitante para aquele ambiente, os técnicos do Museu Calouste Gulbenkian tiraram partido da estrutura da exposição anterior, «Simulacro e Trompe-l'œil. Arte e Pensamento em Homenagem a Tiepolo, 1696-1996», «o que imprimiu um cunho pouco habitual na linha de preocupações museográficas tidas em anteriores exposições» (Reservas da Colecção Calouste Gulbenkian. Uma Visita [folheto da exposição], 1996).

Na abertura da exposição, o visitante era recebido com uma enorme pintura do artista holandês Jan Weenix (1640-1719), a qual dava lugar a três núcleos principais: pintura e escultura; têxteis e cerâmicas (arte islâmica e oriental); mobiliário e tapeçaria (artes decorativas francesas).

O primeiro núcleo integrava sobretudo pintura europeia, com representantes das escolas francesa (séculos XVIII-XX), italiana (séculos XVII-XX), holandesa (século XVII), inglesa (século XVIII), sueca (século XVIII) e norueguesa (séculos XIX-XX), e ainda um pintor da escola americana (John Singer Sargent).

«O segundo núcleo é uma viagem por tapeçarias, loiças e azulejos turcos; um biombo com pinturas do século XX, estampas japonesas do século passado, lacas persas e pedras duras chinesas.» (A. H., Expresso, 16 nov. 1996, p. 4)

Por fim, o núcleo de mobiliário e tapeçaria dava a ver «candelabros e móveis (onde se inclui o quarto de Gulbenkian em Paris); jóias e outros objetos de "vitrine" do século XVIII» (Ibid.).

Viram também a luz do dia «valiosas peças de ourivesaria [...] de Cartier, Boucheron, Van Cleef & Arpels, Lalique, entre outros», e alguns objetos considerados mais «peculiares», como foi o caso das cintas polacas – manufaturadas na Arménia, país de origem de Calouste Gulbenkian (Andrade, Correio da Manhã, 18 nov. 1996, p. 33).

Apesar de afirmar em relação à programação que «hoje faria as coisas de outra maneira», a diretora do Museu, em declarações prestadas ao jornal Expresso, explica que está «limitada à arquitectura do Museu», recusando associar as reservas a «peças de segunda escolha».

No folheto publicado por ocasião da exposição, Maria Teresa Gomes Ferreira esclarece: «O visitante pode eventualmente estranhar que algumas destas obras não se encontrem presentes na galeria do Museu. A relação directa entre as condições arquitectónicas e a representatividade da Colecção legada são disso justificação. A harmonia conseguida, e ainda hoje internacionalmente considerada, não se compadece com integrações circunstanciais de uma ou outra obra de arte.» (Reservas da Colecção Calouste Gulbenkian. Uma Visita [folheto da exposição], 1996)

A partir da observação do material fotográfico disponibilizado pelos Arquivos Gulbenkian, é possível perceber que a Galeria de Exposições Temporárias assumiu, de facto, uma aparência distinta do habitual. Organizados por temas – mas com um espírito nitidamente menos formal do que aquele que nos habituáramos a ver nas mostras organizadas pela FCG –, os objetos encontravam-se dispostos por núcleos e com pouco espaço de separação. As cores usadas nas paredes da galeria funcionavam como demarcações: a secção verde, onde predominavam, por exemplo, as tapeçarias; a secção branca, mais utilizada para as pinturas; a secção amarela, que apresentou algumas peças de mobiliário – na qual o visitante pôde observar uma recriação do quarto de Calouste Gulbenkian com mobiliário datado de 1828 –, entre outras.

O folheto da exposição – disponibilizado pela Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian –, além do já referido texto de apresentação de Maria Teresa Gomes Ferreira, apresenta a lista de peças expostas, dividida por categorias artísticas.

Joana Atalaia, 2018