Do Bisturi ao Laser. A Oficina de Restauro do Museu Calouste Gulbenkian

25.º Aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian

Exposição realizada por iniciativa da Oficina de Restauro do Museu Calouste Gulbenkian, integrada nas comemorações dos 25 anos da Fundação Calouste Gulbenkian. Teve como principal objetivo dar a conhecer os trabalhos executados pela oficina e perpetuar a memória do colecionador Calouste Gulbenkian.
Exhibition arranged by the Calouste Gulbenkian Museum’s Restoration Workshop as part of the Foundation’s 25-year commemorations. The exhibition was designed to showcase works from the Museum’s Restoration Workshop and to keep the memory of collector Calouste Gulbenkian alive.

Exposição realizada por iniciativa da Oficina de Restauro do Museu Calouste Gulbenkian, integrada nas comemorações do 25.º aniversário da inauguração do conjunto edificado da Sede e Museu Calouste Gulbenkian. No âmbito destas comemorações, o objetivo seria o de realizar uma exposição que relatasse com pormenor as atividades laborais da Oficina de Restauro.

A exposição apresentou uma série de documentos gráficos que haviam sido objeto de restauro na sequência das inundações ocorridas em novembro de 1967 no Palácio Pombal, em Oeiras, local que albergava temporariamente a coleção de manuscritos pertencente ao Museu Calouste Gulbenkian, a aguardar a transferência para as novas instalações do Museu em Lisboa, a qual viria a realizar-se em novembro de 1969.

A Oficina de Restauro foi especialmente criada para a recuperação dos manuscritos em pergaminho e papel afetados por aquele desastre natural, estando na génese, em Portugal, da profissão de técnico de conservação e restauro de documentos gráficos.

Foi na sequência desse investimento que, em 1980, «o Estado assinou com a Fundação Calouste Gulbenkian um protocolo para cooperação dos seus técnicos no primeiro curso de Formação de Técnicos de Conservação e Restauro de Documentos Gráficos realizado em Portugal através da Secretaria de Estado da Cultura» (Texto para o vídeo, 1995, Arquivos Gulbenkian, MCG 03009).

«Pode afirmar-se que esta Oficina foi o embrião e génese de uma nova profissão imprescindível ao País; a dos Técnicos de Conservação e Restauro de Documentos Gráficos de que as nossas Bibliotecas e Arquivos são tão carenciados.» (Ibid.)

A exposição teve como objetivo principal a divulgação e valorização do trabalho dos técnicos da Oficina de Restauro de Documentos Gráficos, mas levaria também a um reforço do papel da Fundação Calouste Gulbenkian enquanto agente ativo na preservação do património, confirmando-a como instituição pioneira na área da conservação e restauro.

Esta iniciativa teve ainda a intenção de perpetuar a memória de Calouste Gulbenkian, que sempre evitou adquirir obras sujeitas a grandes ações de restauro, valorizando as intervenções técnicas que respeitavam a integridade original da peça. Maria Teresa Gomes Ferreira, então diretora do Museu Calouste Gulbenkian da FCG, fez questão de destacar duas citações proferidas pelo Colecionador que demonstram a sua posição relativamente ao estado de conservação das suas peças:

«Nunca será demais insistir em que não desejo, de forma alguma, adquirir obras, por mais célebres que sejam, que evidenciam restauros excessivos ou hajam sofrido danos.»

«Não quero acrescentar à minha colecção nada que não seja de qualidade verdadeiramente superior e em perfeito estado de conservação de todos os pontos de vista.» (Do Bisturi ao Laser. A Oficina de Restauro do Museu Calouste Gulbenkian, 1995, p. 11)

A mostra, que contou com alguma documentação fotográfica e audiovisual, deu especial ênfase à arte do livro, entendido em três grandes áreas – «encadernação», «suporte» e «elementos sustentados» –, diferindo estas nos mundos islâmico e ocidental (Ibid.). Assim, estiveram em destaque encadernações e manuscritos islâmicos e ocidentais, estampas e livros japoneses, bem como gravuras e desenhos ocidentais e cartas geográficas. Além destes, foram expostos alguns objetos em madeira, como biombos e molduras, para abordar processos relacionados com este tipo de materiais.

A exposição deu a ver objetos restaurados, ou em processo de restauro, acompanhados de textos explanatórios; filmes sobre temas como o fabrico do papel manual e mecânico; técnicas e operações de restauro, entre outros; e demonstrações do trabalho efetuado pelos técnicos da Oficina de Restauro do Museu Calouste Gulbenkian.

Segundo um artigo do jornal Expresso, «a exp[osição] documenta a recuperação do património afectado no Palácio Pombal, em Oeiras, durante as inundações de 25 de Novembro de 1967, testemunhando a própria evolução que, entretanto, conheceram as técnicas de restauro, “do bisturi ao laser”, e é acompanhada pela edição de um catálogo com informações técnicas e retrospectivas sobre a actividade daquela Oficina de Restauro» («Do bisturi ao laser», Expresso, 25 nov. 1995).

Uma vez que o restauro ligado à documentação gráfica é conhecido como um dos processos mais morosos, pela dificuldade do material utilizado e pelo seu valor documental, histórico e estético, foi também abordada, no âmbito da exposição, a questão da utilização da tecnologia laser na área da conservação e restauro. Esta nova tecnologia já teria sido objeto de algumas experiências no estrangeiro; no entanto, a hipótese de vir a ser utilizada em substituição dos métodos convencionais seria ainda bastante remota, apesar de suscitar elevadas expectativas para a resolução de problemas de conservação de obras de arte.

O catálogo, organizado de acordo com os temas dos objetos tratados, destina-se a vários tipos de público – existindo a preocupação de explicar termos mais técnicos no glossário final –, e interliga textos explanatórios com recurso a imagens que ilustram alguns dos processos de restauro, algo que tende a despertar o interesse daqueles que conhecem pouco desta área ou que pretendem aprofundar os seus conhecimentos sobre ela.

Inclui ainda textos de apresentação sobre a exposição e o tema da conservação da arte, abordando as três áreas temáticas dos objetos sujeitos a intervenção: a arte do livro islâmico, a arte do Extremo Oriente (Japão) e a arte do Ocidente. Termina abordando outras áreas de intervenção e a temática «do bisturi ao laser». Este capítulo final vai elucidar o leitor sobre o uso da nova tecnologia laser no restauro de documentos gráficos e sobre o trabalho conjunto entre os técnicos da Oficina de Restauro do Museu Calouste Gulbenkian e a equipa técnica do Instituto de Soldadura e Qualidade para os primeiros passos na substituição esporádica do uso do bisturi.

Segundo o técnico principal de restauro Victor Milheirão, era importante «estudar o passado, intervir no presente e desenvolver as potencialidades do futuro», o que, primordialmente, foi o conceito da exposição «Do Bisturi ao Laser»: tratar de objetos com séculos de existência, perceber o seu estado no momento presente e aceitar os novos métodos e tecnologias do futuro (Do Bisturi ao Laser. A Oficina de Restauro do Museu Calouste Gulbenkian, 1995, p. 97).

Para enriquecer esta exposição de caráter bastante didático, foram ainda planeadas algumas atividades paralelas, destinadas tanto a uma faixa etária mais jovem, como a especialistas da área, estagiários, estudantes, entre outros.

Programaram-se três oficinas lecionadas por especialistas de cada uma das áreas abordadas. Uma das oficinas, subordinada ao tema da «Encadernação Medieval», proferida por Aires Augusto Nascimento, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa que chegou a colaborar com a Oficina de Restauro do Museu Calouste Gulbenkian, tocou vários pontos, desde a história do livro até questões ligadas à sua preservação, conservação e encadernação.

A exposição foi, de igual modo, complementada com a iniciativa «Encontros de Conservação e Restauro», que se focou no tema da conservação e restauro de documentos gráficos, bem como no método do laser e na relação existente entre a museologia e a conservação. Estes encontros contaram com a participação de alguns especialistas da área, entre eles Joe Nkrumah, coordenador do Gabinete para a Conservação dos Monumentos e Museus da República do Gana e especialista em química, e Vicente Viñas Torner, diretor técnico do Centro de Conservação de Bens Culturais em Madrid.

Além destas atividades paralelas, a exposição contou com a realização de um pequeno documentário, produzido pelo Instituto de Comunicação Multimédia da Universidade Aberta de Lisboa. A narrativa apresentada no documentário teve a autoria de Victor Milheirão, em parceria com outros técnicos da Oficina de Restauro do Museu Calouste Gulbenkian.

Já tinham sido realizadas, em anos anteriores, pequenas mostras de apresentação do trabalho de conservação e restauro no Museu Calouste Gulbenkian. A primeira, em 1972, foi apresentada nas instalações da Oficina de Restauro e subordinada ao tema «Conservation of Paintings and Graphic Arts»; a segunda exposição, inaugurada em 1981, no Dia Internacional dos Museus, dirigia-se a um vasto público, com objetivos mais didáticos; a terceira, apresentada em 1987, teve como principal objetivo demonstrar o trabalho de restauro desempenhado pelos técnicos da Oficina de Restauro nas diversas tipologias de objetos da Coleção.

Após a conclusão da exposição em Lisboa, que contou com um total de 7119 visitantes, Victor Milheirão, técnico principal da Oficina de Restauro, contactou Maria Teresa Gomes Ferreira, diretora do Museu Calouste Gulbenkian, no sentido de a repetir no Porto.

Joana Atalaia, 2018


Ficha Técnica


Eventos Paralelos

Curso

Encadernação Medieval

20 mar 1996 – 10 abr 1996
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal
Congresso / Simpósio

Encontros de Conservação e Restauro

4 dez 1995 – 7 dez 1995
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Sala de Conferências
Lisboa, Portugal

Publicações


Fotografias

Rui Xavier
Encontros de Conservação e Restauro. Maria Teresa Gomes Ferreira
Visita ao Instituto de Soldadura e Qualidade
Visita ao Instituto de Soldadura e Qualidade
Visita ao Instituto de Soldadura e Qualidade
Visita ao Instituto de Soldadura e Qualidade
Visita ao Instituto de Soldadura e Qualidade
Encontros de Conservação e Restauro. Vicente Viñas, Joe Nkrumah e Vitor Milheirão
Encontros de Conservação e Restauro. Maria Teresa Gomes Ferreira, Rosa Figueiredo, Rosa Miranda, Rui Xavier e João Paulo Duarte
Encontros de Conservação e Restauro
Encontros de Conservação e Restauro. Luisa Macedo, Joe Nkrumah e Elisabete Costa
Luís Guimarães Lobato
Luís Guimarães Lobato e Maria Teresa Gomes Ferreira
Luísa Sampaio
Rui Xavier
Luís Guimarães Lobato e Rui Xavier
Luís Guimarães Lobato

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03009

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém orçamentos de convites, correspondência relativa às visitas comentadas e outras atividades paralelas, folhetos e programas. 1993 – 1996

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03422

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém material de divulgação e recortes de imprensa. 1994 – 2008


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