Arte Namban

25.º Aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian

Exposição dedicada à arte Namban, realizada no contexto das comemorações do 25.º aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian. Partindo do acervo das principais coleções nacionais e internacionais, a mostra contou com 75 peças, reveladoras da sua dimensão artística e da sua importância enquanto testemunhos históricos.
Exhibition dedicated to Nanban art held as part of the 25th anniversary celebrations of the Calouste Gulbenkian Foundation. The show featured 75 artworks and historical items from major national and international collections, presenting an art form born of a phenomenon of acculturation.

Exposição dedicada à arte Namban, realizada no contexto das comemorações do 25.º aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian (1956-1981), a partir do acervo das principais coleções nacionais e internacionais de arte Namban.

Os primeiros contactos institucionais entre as instituições portuguesas (Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secretaria de Estado da Cultura, Fundação Calouste Gulbenkian e Embaixada de Portugal no Japão) e as instituições japonesas (Japan Foundation e Embaixada do Japão em Portugal) decorreram no início do ano de 1976.

Alegando um «significado cultural, histórico e até diplomático», o adido cultural da Embaixada de Portugal em Tóquio, o realizador Paulo Rocha, justificaria nos seguintes termos o interesse na organização conjunta desta exposição com as instituições culturais nipónicas: «Desconhecida (ou quase) no princípio do século, de descoberta em descoberta, temos agora pela primeira vez um panorama geral da arte Namban, com um corpus de obras e um aparato de investigação crítica […]. Por outro lado, a ascensão do Japão na cena mundial propõe, também pela primeira vez, um modelo original e fecundo de trocas culturais, científicas e técnicas entre o Ocidente e um país não ocidental, sem perda de identidade e sem relações de domínio. A arte Namban é o primeiro fenómeno exemplar.» (Exposição Arte Namban, 31 mai. 1976, Arquivos Gulbenkian, SEM 00213)

Durante estes primeiros contactos ficou também determinado que o comissariado da exposição seria assumido pelo professor e especialista Tadao Takamizawa, à data quase octogenário, mas um dos grandes impulsionadores e desbloqueadores para a concretização desta exposição. Nesta missão contaria também com o apoio de Suzuki Susumu.

Contudo, em novembro de 1976, ficaria determinado, num ofício da Secretaria de Estado da Cultura (SEC) assinado por Nikias Skapinakis, seu representante, que a organização da exposição seria também confiada, em parceria, à Fundação Calouste Gulbenkian (Ofício n.º 593-SEC-G/76, 25 nov. 1976, Arquivos Gulbenkian, SEM 00213).

A colaboração da FCG assumiu-se quer na designação de dois representantes, José Sommer Ribeiro e Artur Nobre de Gusmão, respetivamente os diretores dos Serviços de Exposições e Museografia e de Belas-Artes da FCG, quer no apoio técnico na organização e montagem do evento, garantido pelo referido Serviço de Exposições e Museografia.

Os elevados custos e as negociações orçamentais inerentes à organização do evento atrasaram e adiaram sucessivamente a apresentação do certame, inicialmente prevista para o outono de 1978, mas só inaugurada em 1 de abril de 1981.

Para a exposição ser financeiramente viável, foi encetado um acordo de repartição de custos, «em regime de pool», dividindo as despesas entre as instituições portuguesas, japonesas e outras instituições que manifestavam interesse em recebê-la, provenientes de países como Inglaterra (Londres), França (Paris), Espanha (Madrid) e Holanda (Amesterdão) (Apontamento do Serviço de Exposições e Museografia, 22 mar. 1978, Arquivos Gulbenkian, SEM 00213).

Esta modalidade de cofinanciamento de uma exposição não era, até então, opção comummente institucionalizada. Habitualmente, e no caso de exposições transnacionais com seguros avultados e grandes despesas de transportes, era a instituição organizadora que estabelecia previamente os vários acordos institucionais, até tornar a exportação da exposição financeiramente viável. As soluções de financiamento encontradas para esta exposição comprovam bem os esforços que as instituições portuguesas desenvolveram para a trazer a Portugal e contornar as dificuldades organizativas. Esta forma de financiamento de exposições de elevados custos, realizadas através de parcerias institucionais, é recorrentemente praticada no atual contexto museológico institucional.

Acordadas as questões orçamentais, teríamos de esperar, de facto, pelo ano de 1981 para que fossem apresentadas na Galeria de Exposições Temporárias da FCG as 75 peças de arte Namban (séculos XVI-XVII), exemplares de uma arte «nascida dum fenómeno de aculturação entre a arte exterior dos visitantes originários da Europa do Sul e a arte autóctone do Japão», como referiria o historiador de arte José-Augusto França, e que atingiria o seu maior desenvolvimento nas escolas de Kano, Tosa e Sumiyoshi, durante o período Momoyama (1568-1615), com a intensificação das relações luso-nipónicas, até à expulsão dos portugueses, em 1639.

Esta seleção de objetos, cedidos para o efeito pelos principais museus de arte Namban no Japão e diligenciadas pela Japan Foundation (o Museu Cívico, de Kobe, e a coleção do Namban Bunkakan Museum, de Osaka), a que se juntava um conjunto de importantes peças dos acervos dos museus portugueses (o Museu Nacional de Arte Antiga, o Museu Nacional de Soares dos Reis e o Museu dos Coches), integrava e compunha um dos mais representativos conjuntos de biombos Namban, que, na opinião do crítico e historiador de arte José-Augusto França, era o núcleo mais relevante da exposição.

Para além dos biombos, a exposição apresentaria outros exemplares da arte Namban, da designada arte dos «bárbaros do sul», reveladores da sua dupla dimensão: de objeto artístico e de testemunho histórico. Entre estas peças destacavam-se exemplares das artes decorativas e do artesanato daquele período como as lacas, a cerâmica, a indumentária Namban, as armas e o mobiliário. Foi também apresentado, num núcleo introdutório, um conjunto de documentação textual e de ampliações e fotomontagens a preto-e-branco, que contextualizava as relações entre Portugal e o Japão no período em revista.

Dada a natureza das peças, «foi necessário recorrer a um tipo de montagem com acabamentos mais cuidados», bem como ao reforço das «estruturas de protecção das peças com vidros e vitrines, condições exigidas pelos Conservadores japoneses» (Apontamento do Serviço de Exposições e Museografia, 27 mar. 1981, Arquivos Gulbenkian, SEM 00213).

Esta exposição concretiza bem a metodologia de trabalho e interiorização dos procedimentos de segurança e conservação das obras emprestadas no contexto de exposições temporárias. Essa preocupação refletia-se nos esforços feitos pela FCG para o rigoroso cumprimento dos acordos com as instituições nipónicas. Prova disso é o Relatório do Grupo de Trabalho sobre a conservação de obras de arte em contexto de exposições itinerantes, publicado pela Japan Society, que consta no processo de arquivo da exposição, e se apresenta como uma das primeiras normas bilaterais desta natureza (Report of the study group on care of works of art in traveling exhibitions…, 1980, Arquivos Gulbenkian, SEM 00213).

A exposição foi comentada na imprensa especializada. Na secção de artes plásticas do Diário de Notícias, Manuela de Azevedo, além de se referir da forma elogiosa à exposição e à informação veiculada pelo seu catálogo, deixa uma nota de apreço pela atenção dada pelos organizadores aos arranjos florais característicos da cultura japonesa, que contribuíam para uma harmonização e adequação do espaço expositivo: «[…] por toda a parte há jarras e taças com flores e hastes de verdura. A direção de cada uma delas tem um significado na linguagem “namban”.» (Azevedo, Diário de Notícias, 9 abr. 1981)

Os arranjos florais não foram uma preocupação meramente decorativa, uma vez que integraram a programação complementar da exposição, através da realização de workshops dedicados aos «Arranjos Florais no Japão».

Também o escritor e diplomata Armando Martins Janeira destacaria a oportunidade e a qualidade da exposição apresentada na FCG: «[…] foi um acontecimento muito importante para o mundo da arte, e de invulgar interesse para todos os que estudam os contactos entre o Ocidente e o Oriente.» (Janeira, Diário de Notícias, 3 jun. 1981)

O autor pronunciar-se-ia também relativamente à fraca reação por parte da crítica, quando comparada com o impacto que a exposição havia tido em Londres aquando da itinerância naquela cidade.

Integrada nas atividades das comemorações do 25.º aniversário da FCG, foi ainda realizada uma conferência dedicada à arte Namban, proferida pela especialista Kaoru Tanno, professora na Universidade de Saitama (Japão).

Filipa Coimbra, 2017

Exhibition dedicated to Namban art, held as part of the commemorations of the 25th anniversary of the Calouste Gulbenkian Foundation (FCG) (1956-1981), based on the main national and international collections of Namban art.
The first institutional contacts between Portuguese institutions (Ministry of Foreign Affairs MNE, Secretary of State for Culture SEC, Calouste Gulbenkian Foundation FCG and the Portuguese Embassy in Japan) and Japanese institutions (Japan Foundation and the Japanese Embassy in Portugal) took place at the beginning of 1976.
Citing cultural, historical and even diplomatic meaning, the cultural attaché of the Portuguese Embassy in Tokyo and the film-maker Paulo Rocha (1935-2012) justified the interest of jointly organising this exhibition with the Japanese cultural institutions in the following way: Unknown or almost unknown at the start of the century, from discovery to discovery, we now have a general overview of Namban art for the first time, with a 'corpus' of works and equipment for critical research (...). Moreover, Japan's ascent on the world scene suggests, also for the first time, an original model ripe for cultural, scientific and technical exchanges between the West and a non-Western country, without losing identity and free from relationships of control. Namban art is the first ground-breaking phenomenon (Exposição Arte Namban, 31 May 1976, Gulbenkian Archives, SEM 00213).
During these first contacts, it was also established that the curator of the exhibition would be the professor and specialist Tadao Takamizawa, who was almost in his eighties at the time but was one of the great drivers and facilitators that allowed this exhibition to take place. He received support from Suzuki Susumu in this mission as well.
However, in November 1976, it would be established in a Secretary of State for Culture (SEC) memo signed by Nikias Skapinakis, representing the SEC, that the organisation of the exhibition would also be entrusted, in partnership, to the FCG(Memo no. 593 SEC G/ 76, 25 Nov. 1976, Gulbenkian Archives, SEM 00213).
The FCG's cooperation involved naming two representatives, José Sommer Ribeiro (1924-2006) and Artur Nobre de Gusmão (1920-2001), heads of the Exhibition and Museography and Fine Arts Departments respectively, and providing technical support for the organisation and set-up of the event, provided by the Exhibitions and Museography Department.
The high costs and budget negotiations inherent to organising the event delayed and successively postponed the opening, which was officially scheduled for autumn 1978 but only took place on 1 April 1981.
For the exhibition to be financially viable, an agreement was drawn up to split the costs following a 'pooling' regime, dividing expenses between the Portuguese, Japanese and other institutions that showed in interest in hosting it in countries such as the UK (London), France (Paris), Spain (Madrid) and the Netherlands (Amsterdam) (Note by the Exhibitions and Museography Department, 22 Mar. 1978, Gulbenkian Archives, SEM 00213).
This form of co-funding of an exhibition was not a commonly institutionalised choice at the time. Usually, and in the case of transnational exhibitions with substantial insurance and high transport expenses, it was the organising institution that established the different institutional agreements beforehand until exporting the exhibition became financially viable. The funding solutions found for this exhibition are good proof of the efforts made by the Portuguese institutions to bring it to Portugal and overcome difficulties related to the organisation. This way of funding expensive exhibitions held through institutional partnerships is repeatedly used in the current institutional museum context.
Once the budget issues had been agreed, we would have to wait until 1981 for the 75 pieces of Namban art (16th to 17th centuries) to be shown at the FCG's Temporary Exhibitions Gallery. The works were examples of an art born from a phenomenon of acculturation between the external art of visitors originally from southern Europe and the indigenous art of Japan, as art historian José-Augusto França (1922) says. This art was developed most fully in the Kano, Tosa and Sumiyoshi schools during the Momoyama period (1568-1615) with intensified Luso-Japanese relations until the Portuguese were expelled in 1639.
The selection of objects, granted for the purpose by the major Nambam art museums in Japan and facilitated by the Japan Foundation the Civic Museum in Kobe and the Namban Bunkakan Museum in Osaka and with a range of important pieces from the collections of Portuguese museums the Museu Nacional de Arte Antiga, the Museu Nacional de Soares dos Reis and the Museu dos Coches formed one of the most representative sets of Namban screens that, in the opinion of art historian and critic José-Augusto França, was the most significant section of the exhibition.
As well as the screens, the exhibition presented other examples of Namban art, the art of the so-called southern Barbarians, revealing their dual dimension as artistic and historical objects. These pieces included examples of the decorative arts and crafts of that period, such as lacquers, ceramics, Namban clothing, arms and furniture. An introductory section comprising a selection of texts and enlargements and photomontages in black and white that contextualised relations between Portugal and Japan at the time was also presented.
Due to the nature of the pieces, it was necessary to use a type of set-up with more careful finishes, as well as strengthening protection structures for the pieces with glass and display cases, conditions required by the Japanese conservators (Note by the Exhibitions and Museography Department, 27 Mar. 1981, Gulbenkian Archives, SEM 00213).
The exhibition properly implemented the working methods and the internalisation of safety and conservation procedures for the pieces loaned for temporary exhibitions. That concern was reflected in the efforts made by the FCG to scrupulously follow the agreements with the Japanese institutions. Proof of this can be found in the Report of the Study Group on Care of Works of Art in Traveling Exhibitions published by the Japan Society, which is included in the exhibition's archive file and is one of the first bilateral rules of this type (Report of the Study Group on Care of Works of Art in Traveling Exhibitions..., 1980, Gulbenkian Archives, SEM 00213).
Comments on the exhibition were published in the specialist press. In the visual arts section of Diário de Notícias, Manuela de Azevedo (1911-2017), as well as the praising tone she uses to mention the exhibition and the information in its catalogue, also leaves a note of appreciation for the attention paid by the organisers to floral arrangements characteristic of Japanese culture, which helped harmonise and adapt the exhibition space: (...) there are jars and vases with flowers and green stems. Each one's direction has a meaning in 'Namban' language (Azevedo, Diário de Notícias, 9 Apr. 1981).
The flower arrangements were not a merely decorative concern, since they were part of the exhibition's complementary programme, with workshops held on Floral Arrangements in Japan.
The writer and diplomat Armando Martins Janeira (1914-1988) also highlighted the good timing and quality of the exhibition held at the FCG: (...) it was a very important event for the art world, of rare interest to all those who study contacts between the East and the West (Janeira, Diário de Notícias, 3 Jun. 1981).
The author also spoke about the weak reaction from critics, compared with the impact the exhibition had seen in London when it was there.
One the activities to commemorate FCG's 25th birthday was to hold a conference on Namban art given by the specialist Kaoru Tanno, lecturer at the University of Saitama (Japan).

Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

[Arte Namban]

2 abr 1981 – 14 abr 1981
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Oficina / Workshop

Arranjos Florais no Japão

abr 1981
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galeria de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

José de Azeredo Perdigão (ao centro), José Sommer Ribeiro (atrás, à dir.) e António Ramalho Eanes (à dir.)
Manuela Eanes (atrás, à esq.) e António Ramalho Eanes (ao centro)
António Ramalho Eanes (ao centro), Manuela Eanes e José de Azeredo Perdigão (à dir.)
António Ramalho Eanes (à esq.), Manuela Eanes (à dir.) e José de Azeredo Perdigão (atrás, à dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00213

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convites, elementos para o catálogo, cartografia, ofícios internos, correspondência recebida e expedida, orçamentos. 1976 – 1982

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00707

Pasta com convites e programas de diversos eventos organizados pelo Serviço de Belas-Artes. 1973 – 1991

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D02123

12 provas, p.b.: inauguração (FCG, Lisboa) 1981

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0467-D01335

95 provas, p.b.: inauguração (FCG, Lisboa) 1981

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0467-D01334

32 provas, p.b.: aspetos (FCG, Lisboa) 1981

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D02124

2 provas, p.b.: conferência de Kaoru Tanno (FCG, Lisboa) 1981

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D02125

3 provas, p.b.: Workshop (FCG, Lisboa) 1981


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