A sexta montagem da coleção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) realizou-se em 1997, depois do término da exposição temporária «A Ilha do Tesouro», que havia obrigado ao encerramento temporário da mostra da coleção anterior, por necessidades espaciais (cf. A Ilha do Tesouro, 1997).

A equipa curatorial do CAMJAP, dirigida por Jorge Molder, entendeu recuperar parcialmente o espírito da segunda «Mostra da Colecção» (1985-1989), consagrando o piso 01 à arte moderna em Portugal, apresentada de acordo com um posicionamento museológico mais didático.

Desta forma, as duas metades do século XX encontravam-se divididas por pisos, assim como as duas tendências da coleção – histórica moderna e contemporânea –, ficando a grande nave central do piso 1 reservada à arte portuguesa produzida entre os anos de 1950 e 1990.

Este desdobramento da coleção pelos dois pisos correspondia também à solução encontrada para superar a falta de espaço para a apresentação de uma coleção de arte portuguesa que percorria cerca de oito décadas, não contando com os núcleos de arte internacional.

Contrastando com a mostra anterior, que deu particular enfoque à arte contemporânea e à produção artística portuguesa daquelas últimas décadas, esta montagem foi equitativa na apresentação da arte produzida na segunda metade do século XX, uma vez que dispunha agora do espaço anteriormente dedicado aos pioneiros e às primeiras gerações modernistas, deslocados para o piso inferior do CAMJAP.

O conjunto agora apresentado correspondia a cerca de 160 obras de 75 artistas, dados identificados a partir dos registos fotográficos da exposição, uma vez que, e à semelhança de mostras anteriores, não foi editado um catálogo ou roteiro da coleção.

A galeria do piso 01 encontrava-se dividida em pequenos núcleos, destacando-se desde logo o consagrado a Amadeo de Souza-Cardoso, bem como uma secção dedicada ao desenho dos Humoristas Portugueses (José Pacheko, Jorge Barradas, Leal da Câmara, Emmerico Nunes, Diogo de Macedo) e núcleos destinados aos movimentos surgidos no final da década de 1940, o neorrealismo (Manuel Filipe, Lima de Freitas, Júlio Pomar) e o surrealismo (António Pedro, António Dacosta, Artur Cruzeiro Seixas, Mário Cesariny, Vespeira e os cadavres exquis).

Ainda no piso 01, foram pontualmente incluídas obras de artistas internacionais tidos como referência para alguns artistas portugueses (Robert e Sonia Delaunay, Fernand Léger, F. Kupka e Arshile Gorky). Ausente ficou o núcleo de arte britânica da coleção, então recentemente apresentado em diálogo com alguns empréstimos internacionais, por ocasião da exposição temporária «A Ilha do Tesouro».

Como referido, foi alargado, no piso 0, o percurso pela arte portuguesa produzida a partir de 1950, contando com um espaço mais amplo e desafogado, que possibilitou incluir algumas obras de maior escala e obras que necessitavam de áreas mais amplas de circulação e fruição (obras de Ângelo de Sousa, Ana Vieira, Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis, Menez, Noronha da Costa, José de Guimarães, Paula Rego, Helena Almeida ou Lourdes Castro). Alguns núcleos autorais foram também alargados, como a representação de António Areal, de Álvaro Lapa, Lourdes Castro ou Paula Rego. Algumas das obras de António Areal correspondiam a doações feitas ao CAMJAP pela família do artista; no caso, alguns grupos de objetos escultóricos ou a série das caixas, que desafiavam os limites entre disciplinas artísticas e o estatuto da obra de arte. Na doação estava incluída a série A História Dramática de um Ovo, de 1967.

Neste piso, o circuito mais livre era feito em torno dos artistas ativos mais significativos da coleção, sem delimitações cronológicas demasiado restritivas, nem núcleos temáticos excessivamente circunscritos.

À semelhança da montagem anterior, foi também dada relevância a obras de criação mais recente, como as esculturas de José Pedro Croft, Rui Chafes e Pedro Cabrita Reis, as pinturas de Michael Biberstein, Julião Sarmento ou Paula Rego, e ainda os desenhos de Pedro Proença e Pedro Calapez.

Ainda sobre o impacto e a receção crítica desta e de outras mostras da coleção do Centro de Arte Moderna, consulte-se o e-book O Tempo no Espaço. Mostras Permanentes da Coleção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian, da autoria de Leonor Nazaré, curadora da coleção.

Filipa Coimbra, 2018