Ciclo de filmes da coleção do Centro de Arte Moderna (CAM) integrado no programa «Jardim de Verão», comemorativo dos 60 anos da Fundação Calouste Gulbenkian, no qual colaboraram diversos serviços da instituição.

Com eventos e atividades nas áreas da música, dança, artes visuais, cinema e literatura, este programa, que decorreu entre 23 de junho e 20 de julho, ocupou diferentes espaços nos edifícios da FCG e no exterior.

No Anfiteatro ao Ar Livre tiveram lugar inúmeros eventos, durante o dia e à noite, entre os quais, as designadas «Noites de Cinema de Verão». Duas das noites foram dedicadas a filmes da coleção do CAM, com curadoria de Leonor Nazaré.

Três grandes temas ou linhas interpretativas compunham este ciclo – «O Lugar da Voz», «Estado de Alerta» e «Lugares da Obra» –, para o qual foram selecionadas duas dezenas de obras em suporte fílmico, pertencentes à coleção do CAM.

Fora do seu contexto habitual (o museu) e apresentados a par de filmes como Mil e Uma Noites, de Miguel Gomes, ou Amadeo de Souza-Cardoso. Le dernier secret de l'art moderne (2016), de Christophe Fonseca, estas obras desafiavam o espectador, servindo também o debate sobre os limites disciplinares e as aproximações de alguns filmes produzidos por artistas ao cinema, e vice-versa.

«Lugar da Voz» apresentava, através de uma seleção de dez filmes, cinco modos de entendimento da voz, definidos pela curadora como «A Voz do Canto», «A Voz do Silêncio», «A Voz Hipnótica», «A Voz Off» e «A Voz Delirante». O canto ocupa, de formas distintas e com propósitos diversos, o lugar central nas obras Duettino, de Vasco Araújo (1975), Instrumental Version (2001) e Untitled (n'en finit plus) (2010-2011), estas últimas de João Onofre (1976). Hereditas (2006), de Vasco Araújo, e Please don't go (2004), de João Tabarra (1966), revelam o lugar do silêncio, efetivo ou sugerido, como elemento orientador. Mensagens hipnotizantes, em diferentes sentidos e com recursos distintos surgem em Mind your own business (1991), de João Paulo Feliciano, e Hypnotic Suggestion 505 (1993), de Jane & Louise Wilson (1967). A voz exterior à cena, que comenta ou narra acontecimentos, orientando a leitura da componente visual, é explorada em The Man Who Wanted to Collect Time (2012), de Fernando José Pereira (1961), e The Current Situation (2015), de Pedro Barateiro (1979). Um roteiro delirante é posto em cena em White Horse (2006), de Lida Abdul (1973).

A ideia de «estado de alerta», e aceções possíveis, serviu de mote para a segunda seleção apresentada. À semelhança do tema anterior, este foi desdobrado, fazendo corresponder a cada filme um subtema. Assim, a Art Statement #61: Stay alert (as condition to work), 2011, de Fernando José Pereira, correspondeu o subtema «Em Estado de Alerta»; a Pursuit, Left Running, 2000, de Noé Sendas (1953), atribuiu-se o subtema «Em Fuga»; a Lancelot, 2004, de Jan Fabre (1958), «Em Luta»; e a Surrendering after Hamish, 2004, de Bruno Pacheco (1974), «Em Rendição».

Por último, «Lugares da Obra» reunia um conjunto de seis filmes através dos quais se aprofundam as várias camadas de significado de uma obra. A curadora propôs ao público que assistisse aos filmes selecionados tendo em mente a questão de onde se situa a obra, orientando-o assim na busca de sentido e significado. Por outro lado, estes trabalhos e lugares sugeridos («No Museu», «No Atelier», «Na Cidade», «Na Memória», «Na Performance») também podiam desencadear uma reflexão sobre o papel ou os papéis da obra de arte, associando-a a diferentes lugares e sujeitos (artista, observador, sociedade).

Ainda associado à coleção do Centro de Arte Moderna, foi exibido o documentário Amadeo de Souza-Cardoso. Le Dernier secret de l'art moderne (2016), de Christophe Fonseca, realizado no contexto da exposição «Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918)», comissariada por Helena de Freitas e apresentada no Grand Palais, em Paris, em 2016, por ocasião das comemorações dos cinquenta anos da delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian.

Mariana Roquette Teixeira, 2020