Lida Abdul

Primeira exposição em Portugal da artista afegã Lida Abdul (1973), com a curadoria de Isabel Carlos. A mostra foi apresentada em dois momentos distintos reuniu um conjunto de sete vídeos e um trabalho concebido especificamente para esta exposição, intitulado Time, Love and the Workings of Anti-Love.
First exhibition in Portugal of work by Afghan artist Lida Abdul (1973), curated by Isabel Carlos. The show was held in two parts, displaying seven videos and a piece created specifically for the exhibition bearing the title “Time, Love and the Workings of Anti-Love”.

O Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) organizou a primeira exposição em Portugal da artista afegã Lida Abdul (1973). A mostra, que incluiu a apresentação de uma obra inédita, teve dois momentos: um primeiro em Lisboa, na Sala de Exposições Temporárias e Sala Polivalente do CAM, de 18 de janeiro a 31 de março de 2013, e um segundo em Paris, na Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France, de 22 de janeiro a 29 de março de 2014.

Em Lisboa, a inauguração da exposição contou com a presença de Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura, Artur Santos Silva, presidente da FCG, e Teresa Gouveia, administradora da FCG. Em Paris, foi realizada uma pré-inauguração, a 20 de janeiro de 2014, que contou com uma visita guiada por Isabel Carlos, curadora da exposição e diretora do CAM.

Esta dupla apresentação em Lisboa e em Paris correspondeu, como explicou Artur Santos Silva, a «uma metodologia de intervenção que procura potenciar os recursos da Fundação, bem como a sua dimensão internacional, de forma a maximizar a difusão e o impacto das atividades» da instituição (Lida Abdul, 2013, p. 15).

Na mostra foram apresentados sete vídeos e um novo trabalho, Time, Love and the Workings of Anti-Love (2010), exibido pela primeira vez. Nesta obra – uma velha máquina fotográfica de um fotógrafo de rua afegão (apresentada como uma relíquia), 542 de fotografias tipo passe e uma instalação sonora –, Abdul leva o visitante a refletir sobre o rasto de sofrimento deixado pela guerra no Afeganistão.

A artista quis documentar a componente psicológica de pessoas que passaram por algo traumático e profundamente transformador, não como um registo de guerra no momento em que esta acontece, mas dos seus efeitos e cicatrizes. «A minha ideia para este projeto de fotografia é ver de que maneira a guerra afeta a expressão das pessoas num período de vinte anos. […] Quero documentar os estados destes seres humanos que enfrentaram algo desprovidos dos instrumentos necessários para [o] perceber; algo que removeu a fina camada de humano e revelou a materialidade pura do humano», explicou Lida Abdul, citada no catálogo por Isabel Carlos (Lida Abdul, 2013, pp. 17-18).

As imagens, a preto-e-branco e captadas de frente, eram acompanhadas pela leitura de um texto por Beatriz Batarda, reproduzido na íntegra no catálogo da exposição, no qual é referido que as palavras ditas pela atriz «não poderiam ser mais explícitas da dor profunda de um povo que está em perda, em queda» (Lida Abdul, 2013, p. 19).

Além de Time, Love and the Workings of Anti-Love, foram apresentados em Lisboa e em Paris os vídeos White House (2005), Dome (2005), White Horse (2006), Brick Sellers (2006), War Games (2006) e In Transit (2008). Após o encerramento da exposição em Paris, em 2014, White Horse foi adquirido pela FCG e integrado no acervo da Coleção Moderna.

Nesta exposição, as fotografias e os vídeos apresentados são, para a artista afegã, o registo do efeito pernicioso da guerra nas pessoas e nos espaços que habitam, «são fatias de tempo, uma espécie de confirmação da realidade [para que através da sua observação] todos pensem de igual modo o quanto elas escondem e o quanto revelam: uma foto é o argumento de que aquilo que fica, por definição, esconde o que é efémero». Lida Abdul enquadra teoricamente estas obras no pensamento do filósofo Maurice Blanchot e na sua reflexão sobre o conceito de desastre (Lida Abdul, 2013, p. 18).

A artista procura por outro lado contrariar a tendência de apresentar o seu país natal através da guerra explícita, representando-o antes pela sua cultura, pelo modo como as pessoas vivem e pelas suas fisionomias, através de atos performativos registados em fotografia e vídeo, desprovidos de sensacionalismo e do apelo à compaixão ocidental. «Toda a sua obra é feita no Afeganistão e é sobre as cicatrizes da guerra; nunca vemos imagens de guerra, mas de pós-guerra. Não há ninguém a matar-se, mas aquelas pessoas viram morte», salientou a curadora num programa radiofónico («Entrevista de Teresa Pizarro a Isabel Carlos», Antena 2, 22 jan. 2013).

A constante repetição do movimento das personagens e a tentativa falhada de reconstrução das ruínas dos edifícios são elementos característicos da obra da artista, que, segundo Trevor Smith, estão associados a uma necessidade de marcar o território e o tempo através do trabalho árduo, como em White House, onde se podem ver «homens que retesam as cordas, unidos numa tentativa fútil de derrubar as ruínas, duro trabalho físico sem qualquer possibilidade de concretização ou conclusão» (Lida Abdul, 2013, p. 25).

No âmbito da mostra em Lisboa, realizaram-se visitas guiadas pela artista, pela curadora e por Vera Alvelos, e programaram-se cursos que partiram da exposição para abordar conceitos como lugar e experiência no contexto da arte contemporânea.

Em Paris, a programação contemplou duas conferências, intituladas «Dialogues autour de l'exposition de Lida Abdul», que contaram com a presença do historiador Alain Schnapp, da filósofa Sara Guindani, do fotógrafo Philippe Bazin, bem como de Isabel Carlos.

A exposição foi divulgada em diversos meios de comunicação, acompanhando a apresentação em Paris. Foi referida nas newsletters das plataformas digitais e-flux e Art Forum, em blogues da especialidade, como Contemporânea/Making Art Happen, e na imprensa portuguesa, nomeadamente no Jornal de Notícias e no Público, que entrevistou a curadora e a artista. No artigo intitulado «As memórias de Lida Abdul também são de pedra», assinado por Lucinda Canelas, a artista reflete sobre a situação de ser mulher no Afeganistão e sobre o seu estado de expatriada: «Agora sou uma exilada que vive entre os Estados Unidos e o Afeganistão. Não sou dissidente. Sou uma pessoa com duas casas, uma em Los Angeles, a outra em Cabul. E a minha cabeça divide-se, como se eu estivesse presa entre dois lugares.» (Canelas, Público, 18 jan. 2013)

Lida Abdul saiu do seu país de origem na década de 1980, para regressar vinte anos depois, altura em que começou a registar em fotografia e vídeo a realidade afegã. Esse trabalho valeu-lhe, em 2008, o Prémio Artes Mundi.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

White Horse

Lida Abdul (1973-)

White Horse, 2006 / Inv. 14IM67

White Horse

Lida Abdul (1973-)

White Horse, 2006 / Inv. 14IM67


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Encontros ao Fim da Tarde

jan 2013 – mar 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Curso

Traços da Contemporaneidade. Espaços de Encontro

jan 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Curso

A Arte Contemporânea e a Construção de Lugares e Experiências

fev 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Curso

A Obra de Arte como Espaço de Encontro. Estratégias de Relacionamento

2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Domingos com Arte

jan 2013 – mar 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Uma Obra de Arte à Hora do Almoço

fev 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

[Lida Abdul]

jan 2014
Fundação Calouste Gulbenkian / Delegação em França – Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France
Paris, França
Ciclo de conferências

Dialogues autour de l'exposition de Lida Abdul

13 fev 2014 – 4 mar 2014
Fundação Calouste Gulbenkian / Delegação em França – Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France
Paris, França

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Visita guiada por Isabel Carlos
Visita guiada por Isabel Carlos
Visita guiada por Isabel Carlos
Visita guiada por Isabel Carlos
Visita guiada por Isabel Carlos
Artur Santos Silva (à esq.) e Isabel Carlos (à dir.)
Jorge Barreto Xavier (à esq.), Teresa Patrício Gouveia (à dir.)
Artur Santos Silva (à esq.) e Lida Abdul (à dir.)
Lida Abdul
Lida Abdul
Jorge Barreto Xavier (à esq.) e Artur Santos Silva (à dir.)
Isabel Carlos (à esq.), Lida Abdul (ao centro), Artur Santos Silva (à dir.), Jorge Barreto Xavier (atrás, esq.), Eduardo Marçal Grilo (atrás, dir.)
Artur Santos Silva (à esq.), Jorge Barreto Xavier (ao centro) e Isabel Carlos (à dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00678

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, planta, relatórios de estado de conservação das obras, currículo da artista, lista de obras, orçamentos e faturas, reprodução das imagens expostas, fichas de identificação das obras, correspondência interna e externa. 2009 – 2013

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 01185

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documento de aquisição do vídeo «White Horse». 2014 – 2014

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 129438

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-Delégation en France, Paris) 2014

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 200107

Coleção fotográfica, cor: visita guiada (FCG-Delégation en France, Paris) 2014

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 5114

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 2013

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 5115

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 2013


Exposições Relacionadas

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