Jan Fabre. Som

Exposição individual do artista belga Jan Fabre (1958), apresentada no Centro de Arte Moderna e realizada aquando da sua participação nos Encontros ACARTE 90. A mostra criava um ambiente enigmático, composto por um conjunto de desenhos e fotografias intervencionadas, expostos em torno de duas estruturas arquitetónicas simétricas, mas com características pouco comuns.
Solo exhibition of the work of Belgian artist Jan Fabre (1958) presented at the Modern Art Centre, held at the time of his participation in the Encontros ACARTE 90 (ACARTE 90 Meetings). The show created an enigmatic environment composed of a set of drawings and photographic interventions displayed around two identical and unusual architectural structures.

Exposição individual de Jan Fabre (1958), apresentada na Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna (CAM) em paralelo com o espetáculo Sequências Dançadas de Das Glas im Kopf wird vom Glass, integrado nos Encontros ACARTE 90, que tivera lugar no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian nos dias 15 e 16 de setembro.

A ideia de expor alguns trabalhos de Fabre enquanto artista visual partiu de Maria Madalena de Azeredo Perdigão, que, numa carta dirigida a Michel Uytterhoeven, da Vlaamse Opera de Antuérpia, confessava: «I would like to have the opportunity of presenting, in the Modern Art Centre, some of his visual works. He knows that I am very much interested in these works of him and I welcome suggestions.» (Carta de Maria Madalena de Azeredo Perdigão para Michel Uytterhoeven, 4 set. 1989, Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00220)

José Sasportes, que veio a ocupar o cargo de diretor do ACARTE após o falecimento de Madalena de Azeredo Perdigão, assegurou que esta sua vontade seria cumprida.

Uma vez que Jan Fabre se encontrava centrado na digressão do espetáculo, que também passaria por Lisboa, o agente artístico de Fabre, Tijs Visser, apresentou diferentes propostas, todas elas assentes em mostras recentes. A exposição escolhida para ser apresentada no CAM viria da Suíça, após integrar a programação da Kunsthalle Basel (3 de junho a 4 Julho de 1990), no âmbito da série de exposições Künstler aus der ganzen Welt (Jan Fabre, Basel: Kunsthalle Basel, 1990).

Nesta mostra, o visitante era confrontado com um ambiente enigmático, composto por um conjunto de desenhos e fotografias intervencionadas, expostos em torno de duas inusuais estruturas arquitetónicas (Knipschaarhuis I, 1989). Estas encontravam-se simetricamente posicionadas, parecendo cada uma ser o espelho da outra. Ambas possuíam uma porta de acesso ao seu interior, deixada entreaberta, o que reforçava o mistério. Toda a área da superfície, interior e exterior, fora preenchida com caneta bic azul. A trama irregular e rarefeita resultante deste processo permitia ao espectador vislumbrar a superfície em madeira que havia sido preenchida e, por outro lado, transformava aquela instalação numa espécie de desenho em três dimensões – um desenho no espaço.

Este processo fora usado noutros trabalhos expostos, tais como The Forgery of the Secret Feast (1985), Das Modell, das Medium (1988) Wandelnde Blätter (1989), entre outros. Os dois primeiros eram fotografias intervencionadas através do preenchimento com caneta bic azul de determinadas áreas selecionadas, e o segundo fazia parte de uma série de desenhos em que o artista preenchera o fundo com a caneta bic através de gestos contínuos em diferentes direções, transformando a folha de papel estática numa superfície ilusoriamente dinâmica.

O azul, cor preferida de Fabre, imperava assim nesta exposição. Na série Different Hours (1990), o artista aplicara a tinta azul da caneta de outro modo. O resultado são manchas de tinta compactas e simétricas, lembrando as imagens usadas no teste de Rorschach.

«Fascinado pela chamada "hora azul", aquele momento entre a noite e a madrugada, quando o mundo sustém a respiração, numa tensão suprema, esperando pela promessa que se há-de vir a cumprir» (Comunicado de imprensa, 13 set. 1990, Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00220), Fabre procurava, através destes seus trabalhos mergulhados no azul, «to show what cannot be named», «more than mere physical presence» (Jan Fabre, Nova Iorque: Jack Tilton Gallery, 1989).

O título atribuído pela equipa do CAM à exposição – «Jan Fabre. Som» – remetia, deste modo, para as intenções do artista. Como o próprio explica: «Bic-blue color… is a very quiet color. But it makes a lot of noise through the way I install the color. It becomes quiet again through time and the repetition of the action. Silence. Where you hear the image. I try to give shape to silence with all its noise.» (Ibid.)

Por decisão do artista, não foi produzido qualquer catálogo da exposição. Em alternativa, foi impresso um cartaz, desenhado pelo artista, e um pequeno desdobrável, com a lista de obras e a biografia de Fabre, que servira igualmente de convite para a exposição.

Mariana Roquette Teixeira, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Bailado / Dança

Sequências Dançadas de Das Glas im Kopf Wird Vom Glass

15 set 1990 – 16 set 1990
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Grande Auditório
Lisboa, Portugal
Programa cultural

Encontros ACARTE 90

4 set 1990 – 16 set 1990
Fundação Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (ACARTE), Lisboa / ACARTE 00220

Pasta com documentação referente à produção da exposição e do espetáculo «Sequências Dançadas de Das Glas im Kopf wird vom Glass», integrado nos Encontros ACARTE 90 – Novo Teatro/Dança da Europa». Contém correspondência. 1988 – 1990

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00205

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém catálogos de anteriores exposições de Jan Fabre, lista de convidados de Jan Fabre, convite, correspondência, instruções de desmontagem das peças «Knipschaarhuis» e «The Physique of Imagination», de Jan Fabre, enviadas pela sua companhia, Troubleyn. 1990 – 1991


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