Nascida da frutuosa relação entre o Museu Calouste Gulbenkian (MCG) e o Sakip Sabanci Müzesi (SSM), em Istambul, a exposição «The Art of the Book from East to West and Memories of the Ottoman World. Masterpieces of the Calouste Gulbenkian Museum, Lisbon» apresentou um conjunto de manuscritos e livros impressos produzidos entre os séculos XII e XX, abrangendo todo o espaço geográfico entre o Ocidente e o Oriente.

Apresentada nas instalações do SSM, no país de origem de Calouste Gulbenkian, esta mostra, que contou com o apoio do BankEuropa e da Turgut Pharmaceuticals, pretendeu homenagear o colecionador e empresário arménio, que, além de ter adquirido ao longo da sua vida incontáveis objetos de arte dos mais variados géneros – pintura, escultura, cerâmica, mobiliário, numismática, entre outros –, foi também um bibliófilo apaixonado, «sensível às influências das culturas do Oriente e do Ocidente», juntando à sua coleção um vasto conjunto de livros e manuscritos, adquiridos desde 1899 até praticamente ao fim da sua vida (Relatório Balanço e Contas. FCG. 2005, 2006).

Nazan Ölçer, diretora do SSM, mostrou desde cedo o seu interesse em receber em Istambul a exposição organizada pelo MCG, agradecendo essa oportunidade ao presidente da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), Emílio Rui Vilar, que a manteve em aberto mesmo após os ataques então sofridos na cidade (Carta de Nazan Ölçer para Emílio Rui Vilar, 9 jan. 2003, Arquivos Gulbenkian, MCG 03507).

De acordo com João Castel-Branco Pereira, diretor do MCG, a exposição foi demonstrativa do ecletismo do Colecionador e da seleção criteriosa das conservadoras do museu, Manuela Fidalgo e Maria Queiroz Ribeiro: «seventy-five […] of the best books and manuscripts that illustrate the art forms of diferente cultures – European, Persian, Turkish, Japanese, and Armenian» (The Art of the Book from East to West and Memories of the Ottoman World, 2006, p. 22). Do conjunto, destacavam-se livros de horas medievais e renascentistas; exemplares do Alcorão, antologias e livros de poesia que ilustravam a arte da caligrafia e da iluminura no mundo islâmico; um conjunto de bíblias arménias do século XVII e livros dos séculos XVIII e XIX produzidos em França e ilustrados com pinturas de artistas de renome, como Pierre-Auguste Renoir (1841-1919) ou François Boucher (1703-1770) (Comunicado de imprensa, 2006, Arquivos Gulbenkian, MCG 03512).

As outras peças expostas, como um conjunto de cerâmicas de Iznik (Turquia) ou pinturas da autoria do artista francês Félix Ziem (1821-1911) – nomeadamente a obra Cypress trees in Scutari, datada da segunda metade do século XIX –, serviram para assinalar a personalidade e o gosto eclético de Calouste Gulbenkian, cujos padrões de exigência o levavam a escolher apenas as mais belas obras de arte (The Art of the Book from East to West…, 2006, p. 28).

A exposição «The Art of the Book from East to West» foi acompanhada pela publicação de um catálogo, editado em inglês e produzido em parceria pelas duas instituições envolvidas, que apresenta a reprodução fotográfica de todas as peças expostas. Esta publicação, que conta com as apresentações de Emílio Rui Vilar, João Castel-Branco Pereira, Kaya Turgut (presidente da Turgut Pharmaceutical Company), Cüneyt Genç e Nazan Ölçer, oferece quatro breves ensaios, que abordam o percurso de vida do empresário e a sua faceta de bibliófilo, redigidos por João Castel-Branco Pereira e pelas conservadoras Manuela Fidalgo e Maria Queiroz Ribeiro.

O ensaio de João Castel-Branco Pereira, «The Collector's Taste», faz uma síntese da vida de Calouste Gulbenkian, desde o momento em que comprou a sua primeira moeda e começou a desenvolver o gosto pelo colecionismo, passando pela aquisição da famosa moradia da Avenida d'Iéna, em Paris, na década de 1920, sem deixar de aludir ao momento em que fixaria residência em Lisboa, em 1942, cidade que lhe oferecia uma tranquilidade e uma atmosfera que lhe recordavam Istambul (The Art of the Book from East to West…, 2006, p. 27).

Manuela Fidalgo e Maria Queiroz Ribeiro explicam, nos textos do catálogo, a faceta bibliófila do colecionador, dissertando sobre a sua coleção de livros ocidentais e orientais, os seus conteúdos, encadernações e ilustrações: «His fundamental objective in acquiring the books among which he lived was to please and delight his various states of mind, a goal that was achieved through their perfection, harmony and beauty.» (Ibid., p. 42)

Joana Atalaia, 2019