Missa em Si Menor de Bach
Coro e Orquestra Gulbenkian / Leonardo García Alarcón
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Data
- / Cancelado / Esgotado
Local
Grande Auditório Fundação Calouste GulbenkianConcerto com intervalo.
Coro Gulbenkian
Orquestra Gulbenkian
Leonardo García Alarcón Maestro
Inês Tavares Lopes Maestra Ensaiadora do Coro Gulbenkian
Ana Quintans Soprano
Owen Willetts Contratenor
Dara Savinova Meio-Soprano
Cátia Moreso Meio-Soprano
Fabio Trümpy Tenor
Andreas Wolf Baixo-Barítono
Francisco Lima Santos Violino
Varoujan Bartikian Violoncelo
Domingos Ribeiro Contrabaixo
Cristina Ánchel Flauta
Amália Tortajada Flauta
Pedro Ribeiro Oboé d’amore
Alice Caplow-Sparks Oboé d’amore
Vera Dias Fagote
Raquel Saraiva Fagote
Luís Duarte Trompa
Jorge Almeida Trompete
Adrià Gàlvez Órgão
Johann Sebastian Bach
Missa em Si menor, BWV 232
Kyrie
Gloria
— Intervalo de 20 min —
Symbolum Nicenum (Credo)
Sanctus – Osanna – Benedictus
Agnus Dei
Composição: 1733-1749
Estreia: Leipzig, 10 de abril de 1859
Duração: 1h 50 min.
Magnum opus de Johann Sebastian Bach (1733 – 1749), a Missa em Si menor é o resultado de uma compilação de coros e árias de cantatas sacras e profanas. Num gesto recorrente ao longo da sua vida, Bach readaptou, com uma precisão arquitetónica notável, obras anteriormente compostas [num processo designado por paródia musical], diligentemente transpostas do alemão para o latim e coerentemente articuladas, numa sucessão admirável de texturas musicais, como se de um todo unificado se tratasse.
Kantor da igreja de S. Tomé, em Leipzig, prestigiado cargo que detinha desde 1723, Bach almejava ser nomeado Compositor da Corte de Dresden, um dos centros musicais mais fulgurantes do espaço cultural alemão. Neste sentido, a 27 de julho de 1733, entregou ao Eleitor da Saxónia, Augusto III, uma Kurzmesse [pequena missa], dizendo na carta que acompanhava a partitura “apresento a Vossa Alteza Real este pequeno produto da ciência que alcancei na Música, com o mais humilde pedido de que se digne a considerá-la (…) e assim me leve para a sua proteção”.
A Missa de 1733, como hoje é designada, foi escrita entre fevereiro e julho, período de luto pela morte do anterior Eleitor, Augusto II. Dividida em 12 andamentos, a Missa compreende o Kyrie e o Gloria, as duas primeiras rubricas do ordinário da missa, valendo-se das seguintes paródias: 2. Christe eleison (8.º andamento da cantata BWV Anh.9, 1727, escrita para o aniversário de Augusto II, de visita a Leipzig); 3. Kyrie (8.º andamento da cantata BWV 244a, 1729); 6. Laudamus te (6.º andamento da cantata BWV Anh.9); 7. Gratias (2.º andamento da cantata BWV 29, 1731); 8. Domine Deus (5.º andamento da cantata BWV 193a, 1727, igualmente escrita em homenagem a Augusto II); 9. Qui tollis (coro inicial da cantata BWV 46, 1723); 10. Qui sedes e 11. Quoniam (respetivamente, 12.º e 10.º andamentos da cantata BWV Anh.9).
Dada a circunstância da conversão de Augusto II ao catolicismo, tal como o seu filho, Augusto III, condição essencial para serem eleitos rei da Polónia, criara-se uma situação excecional: ainda que a Corte de Dresden fosse oficialmente católica, mantinha uma capela luterana. Ao contrário do que uma certa historiografia fez querer, o ordinário da missa católica em latim foi adotado por Lutero, restringindo, contudo, a sua utilização apenas aos serviços religiosos de maior solenidade do calendário litúrgico. Ou seja, a Missa de 1733 tanto poderia ser interpretada na capela católica como na capela luterana e, certamente, foi idealizada tendo no horizonte as qualidades excecionais de muitos dos músicos que serviam a corte de Dresden [Pisender (violinista e concertino), Richter (oboé), Schindler (trompa), Quantz e Buffardin (flautas)]. Ainda que desprovido de qualquer provento financeiro, a 19 de novembro de 1736, Bach seria nomeado Hofkomponist [Compositor da Corte].
Nos derradeiros anos da sua vida, entre 1748-49, regressou à Missa de 1733 acrescentando as rubricas do ordinário da missa em falta e organizando-a em cadernos: Parte I - Missa [Kyrie e Gloria]; Parte II - Symbolum Nicenum [Credo]; Parte III - Sanctus e Parte IV - Osanna, Benedictus, Agnus Dei e Dona nobis Pacem.
A Parte II assenta num eloquente plano de simetria: 1. Credo (coro – cantus firmus); 2. Patrem omnipotente (coro – estilo concertante); 3. Et in unum Dominum (ária); 4. Et incarnatus est (coro); 5 Crucifixus (coro); 6. Et ressurexit (coro); 8. Et in Spiritum (ária); Confiteor (coro – cantus firmus); 9. Et expecto (coro – estilo concertante). Apesar de ter composto três andamentos, os números 1, 3 e 4 (considerada a última composição de Bach), os restantes derivam de composições anteriores: Patrem (1.º andamento da cantata BWV 171, 1729); Crucifixus (2.º andamento da cantata BWV 12, 1714); Et ressurexit (1.º andamento da cantata BWV Anh.9); Et expecto (2.º andamento da cantata BWV 120, 1728).
A Parte III foi originalmente escrita para o Natal de 1724 e a Parte IV corresponde a várias fontes: Osanna (1.º andamento da cantata BWV 215, 1734); Agnus Dei (4.º andamento da Oratória da Ascenção, BWV 11, 1735); Dona nobis pacem (2.º andamento da cantata BWV 29, 1731).
Como salienta Robin Leaver, ao transpor música associada ao proprium (com uma função litúrgica específica para um determinado dia do ano eclesiástico) para ordinarium (comum a todos os serviços religiosos), Bach pretendia assegurar maior versatilidade ao seu legado musical, alargando as possibilidades de futuras interpretações.
Verdadeiro compêndio da obra do compositor, a Missa em Si Menor é uma réunion des goûts [reunião de gostos], do stylus gravis ao stylus majestaticus, passando pela invocação das linguagens musicais italiana, francesa e alemã, com as suas gramáticas expressivas e particularismos rítmicos. Igualmente, o mundo luterano reúne-se ao católico, um encontro espiritual, numa dupla revelação dos mistérios e da glorificação. Como testamento musical, arcaísmo e modernidade articulam-se numa linguagem barroca inexcedível, onde o racional e o sensual se transfiguram numa alquimia afetiva surpreendentemente intemporal.
José Bruto da Costa
O maestro argentino Leonardo García Alarcón, especializado em música barroca, descobriu o seu gosto particular pela música de J. S. Bach ainda em criança. Tinha oito anos quando, diante da Paixão Segundo São Mateus, entre outras ofertas da música do compositor alemão que a avó lhe confiou, viu naquela obra uma luz que não mais deixaria de perseguir. Foi a partir dessa epifania que o seu destino se abriu de forma inequívoca, tendo o músico construído um notável percurso, especialmente dedicado à música nascida na proximidade histórica de Bach. Neste regresso ao Grande Auditório, volta também ao seu primeiro amor musical, dirigindo a Missa em Si Menor de Bach, por vezes descrita como uma “catedral sonora”.
Guia de Audição
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Por Inês Thomas Almeida -
Por Inês Thomas Almeida