Calouste Sarkis Gulbenkian. Uma Doação ao Museu Nacional de Arte Antiga

Exposição coletiva das obras doadas por Calouste Sarkis Gulbenkian ao Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), organizada por iniciativa do Museu Calouste Gulbenkian (MCG) e do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP). Foi integrada no 25.º aniversário da construção dos edifícios Sede e Museu da Fundação Calouste Gulbenkian.

Com o propósito de dar a conhecer o núcleo das 33 obras de arte legadas em 1952 por Calouste Gulbenkian ao MNAA, esta exposição pretendeu evocar a «gratidão» do Colecionador «ao País que o recebera durante a guerra e onde encontrava, por circunstâncias políticas, as condições sociais e naturais que se adequavam à sua forma de ser» (Calouste Sarkis Gulbenkian. Uma Doação ao Museu Nacional de Arte Antiga, 1994).

Antes da morte de Calouste Gulbenkian, em 1955, a coleção do empresário de origem arménia encontrava-se dispersa por vários locais do mundo. A doação destas obras ao Estado português continua a ser um caso de singular interesse, uma vez que com este legado Calouste Gulbenkian se privou de uma parte importante da sua preciosa coleção de arte.

Sabendo-se que Gulbenkian sentia um enorme apreço por cada uma das obras que adquiria – considerando-as suas «filhas» –, a exposição constituiu um momento especialmente relevante, pela intenção de trazer de volta a «casa» este tronco da «família», ambientando-o com o resto da coleção permanente do Museu Calouste Gulbenkian.

Assim, em agosto de 1993, José Blanco, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, aliando a celebração do aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian à circunstância de Lisboa ser Capital Europeia da Cultura, solicitaria à presidente do Instituto Português de Museus, Simonetta Luz Afonso, a cedência das peças legadas por Gulbenkian ao MNAA, alegando que «seria oportuno apresentar uma mostra integral de um legado que constitui, sem dúvida, uma dádiva inestimável para o património artístico do nosso país» (Carta de José Blanco para Simonetta Luz Afonso, 6 ago. 1993, Arquivos Gulbenkian, MCG 03084).

Entre as mais de três dezenas de obras apresentadas incluíam-se peças de pintura, escultura, cerâmica e mobiliário. O núcleo de pintura incluía representantes das escolas alemã, espanhola, flamenga, francesa, holandesa e inglesa, cobrindo um friso temporal que ia dos alvores do século XVI aos finais do século XIX. Com temática predominantemente retratista e paisagista, reuniu obras de Lucas Cranach, o Velho (1472-1553), Diego Velázquez (1599-1660), Anton van Dyck (1599-1641), Gustave Courbet (1819-1877) ou Hubert Robert (1733-1808), entre outros.

O núcleo de escultura integrava oito peças, destacando-se a Danaide de Auguste Rodin (1840-1917), que obteve um grande êxito junto do público português. Além desta escultura, Calouste Gulbenkian tinha adquirido para a sua coleção seis outras obras de Rodin, «dois mármores (As Bênçãos e Busto de Victor Hugo) e quatro bronzes (A Primavera, Burguês de Calais, Irmão e Irmã e Cabeça de Legros)» (Calouste Sarkis Gulbenkian. Uma Doação ao Museu Nacional de Arte Antiga, 1994).

Do conjunto do legado, salientavam-se igualmente alguns painéis de azulejos da região de Iznik, conhecido como o centro mais importante de produção de loiças e azulejos da Turquia. Estes painéis, que serviram como revestimento da arquitetura otomana entre os séculos XV e XVIII, ostentavam, nas palavras de Maria Queiroz Ribeiro, a «riqueza cromática, brilho, exuberância e harmonia» característicos da composição decorativa de Iznik (Calouste Sarkis Gulbenkian. Uma doação ao Museu Nacional de Arte Antiga, 1994).

O catálogo da exposição, com apresentação de Maria Teresa Gomes Ferreira, contou com projeto gráfico de Vítor Manaças e Mariano Piçarra, integrando textos explanatórios assinados pelas conservadoras do MCG: Maria Queiroz Ribeiro, Maria Rosa Figueiredo, Isabel Pereira Coutinho, Maria Luísa Sampaio e Maria Helena Soares da Costa.

A mostra, patente na Galeria de Exposições Temporárias da FCG (piso 0), foi inaugurada a 23 de março de 1994, contando com a presença de António de Arruda Ferrer Correia e José Blanco, respetivamente presidente e administrador da FCG, Maria Teresa Gomes Ferreira, diretora do MCG, e José Sommer Ribeiro, diretor do CAMJAP.

Até à data do seu encerramento, a exposição contaria 10 602 visitantes.

Joana Atalaia, 2019