Os Judeus Portugueses entre os Descobrimentos e a Diáspora

Lisboa 94. Capital Europeia da Cultura

Exposição realizada por ocasião do evento cultural Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura e por iniciativa da Embaixada de Israel em Portugal. Com o objetivo de relatar a história dos judeus portugueses entre a época dos Descobrimentos e a sua diáspora, a mostra apresentou diversos documentos originais e vestígios da presença judaica portuguesa pelo mundo.
Exhibition organised for the cultural event Lisbon 94: European Cultural Capital on the initiative of the Embassy of Israel in Portugal. The show sought to tell the story of Portuguese Jews from the time of the Discoveries and the diaspora, in a display which included various original documents and traces of the Portuguese Jewish presence around the world.

Exposição itinerante realizada por ocasião do evento cultural «Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura», por iniciativa da Embaixada de Israel em Portugal, integrada no programa da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), pela Sociedade Portuguesa dos Estudos Judaicos e pelo Museu da Diáspora de Israel (Beit Hatfutsot).

A mostra teve uma vertente documental, bibliográfica e fotográfica, integrando mapas, atlas, tratados, livros e outra documentação, oriunda de arquivos de Portugal e de outros países que acolheram a comunidade judaica portuguesa. Foram também apresentados vestígios originais da presença judaica, como pedras tumulares e instrumentos de navegação, obras pictóricas, vestígios arqueológicos e modelos de sinagogas portuguesas de diversas partes do mundo. A exposição foi igualmente acompanhada da exibição de audiovisuais e de textos explanatórios que vieram complementar e dinamizar a experiência do visitante (Texto para divulgação, 5 jun. 1994, Arquivos Gulbenkian, CAM 00323).

A exposição relatou a história da presença dos judeus em Portugal até à sua perseguição pela Inquisição e subsequente expulsão do país, no reinado de D. Manuel I, terminando com o seu regresso, já no decurso do liberalismo, quando finalmente os judeus puderam constituir-se como comunidade, em 1912. Estiveram em foco temas como o contributo judaico para a cultura portuguesa e para a ciência das Descobertas, bem como a influência da cultura ibero-lusitana sobre o mundo judaico.

Segundo as palavras de José Sommer Ribeiro: «Os documentos expostos cobrem uma alargada época da História de Portugal, bem como da Diáspora Judaica, percorrendo caminhos da Europa à Índia Portuguesa e dos Novos Mundos ao Império onde, muitas vezes, em português, se divulgava a nossa cultura, através da imprensa ou do grande comércio.» (Os Judeus Portugueses entre os Descobrimentos e a Diáspora, 1994)

A exposição fora pensada e planeada muito antes da sua inauguração na FCG, tendo surgido por iniciativa da Embaixada de Israel em Portugal, sob o impulso da então embaixadora Colette Avital, que, na sequência de um encontro com o presidente da República Portuguesa Mário Soares, achou de notável relevância conseguir recuperar o passado histórico do povo judaico, que, segundo ela, era muito «difuso» e pouco documentado (Ibid.). A embaixadora enceta então diligências nesse sentido, solicitando a colaboração da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (presidida à data por Vasco Graça Moura), com vista a reunir um grupo de investigadores a quem caberia dar corpo ao projeto, apesar do escasso número de objetos existentes.

Em 1989, seria assim criado um grupo de trabalho constituído por vários especialistas em história judaica, portugueses e estrangeiros, cuja tarefa era pesquisar sobre a história deste povo, indo além do tópico da fuga à Inquisição, episódio mais presente na memória coletiva. Para Colette Avital, era essencial interligar os Descobrimentos Portugueses com a Diáspora Judaica e as influências culturais e científicas dela resultantes: «É neste destino comum, nesta caminhada comum, que os nossos povos se encontraram. É nosso objectivo comum a procura do desconhecido, correr riscos e ir sempre em frente. Isto é a essência das nossas tradições.» (Ibid.)

Em 1990, José Blanco, administrador do Serviço Internacional da FCG, foi contactado por Eli Eyal, diretor-geral do Museu da Diáspora de Israel, com informações sobre o projeto inicial e com a proposta da sua apresentação na Fundação Calouste Gulbenkian. Este projeto teve a autoria de Colette Avital, Maria Helena Carvalho dos Santos, Sam Levy, Joshua Ruah, Mery Ruah, António Valdemar e Samuel Hadas.

Seguiram-se reuniões e encontros entre especialistas portugueses e israelitas, com vista a discutir ideias e a estudar o projeto, que, em 1992, levaria José Sommer Ribeiro, diretor do Centro de Arte Moderna da FCG, a Israel, para visitar alguns pontos culturais importantes e para se reunir com Joel Cahen, diretor e curador principal do Museu da Diáspora de Israel, e Ori Abramson, responsável pelo design da exposição (Carta de José Sommer Ribeiro para José Blanco, 24 mar. 1992, Arquivos Gulbenkian, CAM 00321).

Numa primeira fase, foram selecionados cerca de 400 documentos, que vieram propor os grandes temas que configuraram a exposição. Muitas das peças expostas foram cedidas por museus, instituições, bibliotecas e coleções privadas, nacionais e estrangeiras. Os manuscritos exibidos foram cedidos por diversas entidades, entre as quais a Biblioteca Nacional de Lisboa, a Biblioteca da Reitoria da Universidade de Coimbra, a Torre do Tombo, a Biblioteca Nacional de Paris, o Museu da Diáspora de Israel e outros museus dos Estados Unidos da América e da Holanda.

Num artigo anunciando a exposição, o jornal Expresso destacava: «Um dos núcleos da exposição é dedicado ao papel dos judeus na história da imprensa em Portugal. De entre os documentos a expor assumem particular importância o fac-símile das Bíblias de Lisboa e de Cervera, um fragmento do Pentateuco de Gacon e outro de uma gravura de Oficina de Impressão, produzida e gravada no século XVI, com texto em português. Os organizadores mandaram construir expressamente uma máquina impressora à escala das existentes na época.» (Expresso, 26 mai. 1994).

A exposição foi inicialmente pensada para albergar um maior número de objetos; no entanto, por falta de espaço e por haver a vontade de se respeitar a temática da exposição, optou-se por abdicar de algumas peças cuja legibilidade poderia ficar comprometida. Todavia, algumas delas, por conterem informação enriquecedora e pertinente, integrariam o catálogo, contribuindo assim para a memória deste acontecimento.

Citando Maria Helena Carvalho dos Santos: «A questão insuperável dos limites do espaço disponível, a par da concepção cénica da montagem da exposição, e da decisão de privilegiar a Diáspora, obrigou a fazer opções. Suprimiu-se, entre outras, a secção “Antijudaica”, e reduziu-se drasticamente o espaço reservado a obras de chancelaria, que valeriam pela sua riqueza documental, mas seriam “ilegíveis” na exposição.» (Os Judeus Portugueses entre os Descobrimentos e a Diáspora, 1994, p. 230)

O catálogo, organizado à imagem da exposição, conta com textos de autoria diversa, nomeadamente Joel Cahen, Sam Levy, Maria Helena Carvalho dos Santos, Mery Ruah e Isabel Cluny, e complementa a exposição com perspetivas históricas e culturais do povo judaico, interligando a história com a história da arte. Além dos textos explicativos e das obras apresentadas, apresenta uma secção dedicada exclusivamente ao local da exposição, exibindo algumas fotografias da galeria e uma planta do espaço expositivo.

Complementarmente à exposição, realizou-se um concerto de música sefardita pelo Grupo Vocal Arsis, que interpretou canções do período ibérico-judaico dos séculos XV e XVI, com arranjos e harmonizações de autores israelitas contemporâneos. A proposta de concerto seria bem recebida pela FCG, que foi sensível ao argumento de que «a integração de música sefardita numa exposição deste tipo pode ser uma excelente oportunidade de completar de alguma forma os documentos históricos apresentados, […] no sentido de contribuir através da música para divulgar a Cultura e a História do povo judeu em Portugal» (Ofício de António Henriques Filipe para José Sommer Ribeiro, 24 mai. 1994, Arquivos Gulbenkian, MCG 03422).

A inauguração da exposição contou com a presença do presidente da República Portuguesa, Mário Soares, da ministra das Comunicações, Ciência e Arte do Governo de Israel, Shulamit Aloni, e do realizador de cinema Steven Spielberg, ativista da divulgação da história e cultura judaicas (Expresso, 26 mai. 1994, Arquivos Gulbenkian, CAM 00321).

Depois de apresentada na Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição esteve patente no Museu da Diáspora de Israel (Beit Hatfutsot).

Joana Atalaia, 2018


Ficha Técnica


Eventos Paralelos

Concerto

Grupo Vocal Arsis

1994
Fundação Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal

Publicações


Fotografias

Daniela Sofia Korn Ruah (ao centro)
José Blanco (à esq.), Pedro Santana Lopes e António de Arruda Ferrer Correia (à dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00323

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém informações sobre a edição do catálogo e críticas dos visitantes. 1992 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00324

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência sobre a edição do catálogo. 1994 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 02774

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência externa e interna. 1991 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00325

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém informações sobre a edição do catálogo e críticas dos visitantes. 1994 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00321

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém informações sobre a edição do catálogo, críticas dos visitantes e correspondência sobre as atividades paralelas. 1992 – 1996

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/044-D02930

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1994

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 150079

Coleção fotográfica, p.b.: aspetos (FCG, Lisboa) 1994


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