Inaugurada a 19 de novembro de 1987, a exposição individual de Gary Hansmann (1940-2008) esteve patente até janeiro de 1988 na Galeria de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna (CAM), paralelamente à exposição de Lilly Rosa (1955), esposa do artista.

A mostra, que terá sido a única individual de Hansmann em Portugal, apresentou 59 trabalhos marcados pelo tom declaradamente pessimista que atravessa a obra deste artista norte-americano. A imagética é fortemente dominada por uma dimensão trágica, e mesmo traumática, associada à história cultural do Ocidente, no decurso da qual alguns dos seus principais ícones teológicos ou humanistas são sujeitos a um tratamento grotesco e violento, que, parafraseando o pessimismo de Hansmann, manifesta um pronunciado desalento face ao curso da civilização (Vreeland, Hill Courier, nov. 1984, traduzido no catálogo desta exposição).

A exposição foi composta por gravuras calcográficas (incluindo uma monotipia), desenhos e pinturas, povoados por monstros e outras estranhas criaturas que, por vezes, partilham a mancha gráfica com apontamentos manuscritos que sublinham uma certa vocação narrativa e literária do trabalho deste autor. Expressivamente próxima de algumas correntes da banda desenhada e da ilustração contemporânea, a obra de Hansmann, como o próprio salienta (citado por Susan Vreeland), atinge um caráter diarístico, na busca constante por uma catarse satírica que dá a ver as fantasmagorias e assombramentos que o autor acredita povoarem a sociedade que o rodeia (Ibid.).

Tal como a exposição de Lilly Rosa, a mostra foi totalmente financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, que, na sequência desse processo de produção, pôde incorporar na coleção do CAM (atual Coleção Moderna) cartas com desenhos de Hansmann e Lilly Rosa que foram surgindo na troca de correspondência que a iniciativa ocasionou. A coleção já dispunha de quatro obras do casal, duas da autoria de Hansmann e duas da autoria de Rosa.

Daniel Peres, 2017