Josef Albers na América. Pintura sobre Papel

Exposição individual e itinerante do artista Josef Albers (1888-1976). Organizada pelo Staatliche Graphische Sammlung, de Munique, em colaboração com o Josef Albers Museum Quadrat Bottrop, a mostra contou com a curadoria de Michael Semff e Heinz Liesbrock. Entre 2010 e 2012, percorreu as cidades de Munique, Bottrop, Copenhaga, Berlim, Paris, Lisboa e Nova Iorque.
Solo travelling exhibition of works by artist Josef Albers (1888-1976). The show was organised by the Staatlich Graphische Sammlung, Munich, in collaboration with the Josef Albers Museum Quadrat Bottrop, and curated by Michael Semff and Heinz Liesbrock. Between 2010 and 2012, the show travelled to Munich, Bottrop, Copenhagen, Berlin, Paris, Lisbon and New York.

Em maio de 2012, teve lugar no Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) a primeira exposição em Portugal da obra do artista Josef Albers (1888-1976). A exposição foi dedicada exclusivamente aos seus trabalhos em papel. Organizada pelos museus Staatliche Graphische Sammlung, de Munique, e pelo Josef Albers Museum Quadrat Bottrop, em Bottrop, terra natal de Josef Albers, a mostra contou com a colaboração de Nicholas Fox Weber, historiador e amigo do artista e então diretor da Josef & Anni Albers Foundation, sediada em Bethany, nos Estados Unidos da América.

A curadoria da exposição foi assegurada por Heinz Liesbrock e Michael Semff, diretores, respetivamente, do museu de Bottrop e do museu de Munique. A mostra inaugurou na cidade de Munique, em dezembro de 2010, e, antes de ser apresentada no CAM, passou pelo Josef Albers Museum Quadrat Bottrop, no Louisiana Museum, em Copenhaga, pelo Kunstmuseum Basel, em Berlim, e pelo Centre Georges Pompidou, em Paris. O ciclo de itinerâncias terminou, em outubro de 2012, na Morgan Library & Museum, em Nova Iorque. Ainda em Paris, a exposição foi considerada pela revista Beaux Arts uma das mais significativas exposições realizadas em França em 2012.

Com uma carreira artística intensa, Josef Albers foi um artista alemão exilado nos Estados Unidos da América (EUA), considerado uma das mais importantes e influentes figuras da arte do século XX. Foi aluno e professor da escola alemã Bauhaus entre 1920 e 1933 – data do encerramento da instituição pelo regime nazi e da partida de Albers e da sua mulher, Anni, para os EUA. Josef Albers ganhou notoriedade não só como artista, nomeadamente com as suas séries Homage to the Square, mas também como professor – tanto na Bauhaus, como, a partir de 1933, no Black Mountain College, na Carolina do Norte –, e como presidente do Departamento de Design na Yale University, em Connecticut (entre 1950 e 1958).

Albers estudou a cor de uma forma simultaneamente entusiasta e metódica, tendo publicado o inovador estudo intitulado The Interaction of Color (1963), que continua a ser um texto de referência para os estudantes de artes visuais. Albers distanciava-se assim do expressionismo alemão, preferindo uma abordagem abstratizante da expressão plástica, ainda que carregada de emotividade. O seu contacto com a natureza selvagem da América do Norte e, particularmente, com a cultura e a arte do México abriram um novo rumo no seu trabalho, refletindo-se essas influências na utilização de jogos de cores radiantes e espontâneas. Nas palavras dos curadores: «É legítimo afirmar-se que foi a América que moldou o pintor Josef Albers que hoje conhecemos. A nossa exposição deu visibilidade a esse estímulo fundamental.» (Painting on Paper. Josef Albers in America, 2012, p. 7)

Embora a sua obra se tenha desenvolvido maioritariamente nas áreas do design, da fotografia e da arquitetura, a presente exposição procurou apresentar a pintura em suporte papel, uma vez que, como explica Nicholas Fox Weber, «a poesia do papel era vital para Albers, para além dos muitos aspectos práticos. Porque o papel tem a sua própria magia – algo quase imponderável mas duradouro se adequadamente trabalhado. O papel fixa ideias para sempre e, no entanto, fá-lo com grande informalidade, até mesmo com uma certa displicência. Deste modo, o papel convidava Albers a explorar, a ser experimental, a ser espontâneo.» (Ibid., pp. 10-13)

A exposição reconstituía o percurso de Josef Albers através de uma seleção criteriosa de pinturas a óleo sobre papel, algumas das quais inéditas ou raramente expostas ao público. O título da exposição indicava que todos os trabalhos apresentados datavam já do seu período de exílio nos EUA. A mostra reuniu um conjunto de 80 obras, muitas delas estudos e experiências do artista, que tornam patente o fascínio de Josef pela luz, pela cor, pelas suas múltiplas associações, e a persistência do quadrado como forma central da sua pintura. Como assinalou Nuno Crespo, as pinturas apresentadas revelavam «a importância das descobertas pictóricas feitas pelo artista depois de 1933 e o modo como conquista o domínio sobre os problemas de cor, luz, forma e material que tanto o inquietavam» (Crespo, Público, 23 mai. 2012).

O percurso expositivo organizava-se em três séries distintas: iniciava-se no final da década de 1930, quando Albers integra na sua produção as impressões do México, como as séries Kinetics (11 trabalhos executados entre 1938 e 1946) e Adobes (13 pinturas de 1948 e 1949), e terminava com Homage to the Square, a mais famosa série de Albers (trabalhada entre 1950 e 1976), da qual se apresentaram 55 trabalhos.

Sobre Homage to the Square, referiram os curadores da exposição: «Foi nestas obras que a capacidade de Albers em maximizar o impacto espacial da cor atingiu o seu auge. A procura da essência dos meios utilizados e a descoberta de um terreno ideal para os aplicar na intimidade do papel acabou por frutificar na extraordinária poesia e vibração destas obras.» (Painting on Paper. Josef Albers in America, 2012, p. 8)

O processo criativo do artista merece igualmente destaque: «Albers planeava as suas pinturas ao pormenor, muito antes de executá-las num suporte definitivo. Enquanto a pintura em si demorava apenas algumas horas a realizar, os trabalhos preparatórios implicavam a produção de séries de estudos meticulosos durante os quais a ideia subjacente tomava forma.» (Ibid.)

Tendo em conta a importância desses desenhos preparatórios, a exposição possibilitava um encontro com o processo criativo de Albers, mostrando exemplos que iam das aplicações de cores puras, aos estudos de variações cromáticas (com inúmeras anotações das cores experimentadas e dos seus fabricantes) e ainda pinturas terminadas. Como sublinharam os curadores, o que todos os trabalhos possuem em comum «é o seu fascínio pelo impacto não mediado da cor» (Ibid.).

Nicholas Fox Weber deslocou-se a Lisboa para conduzir a mesa-redonda que teve lugar no dia seguinte à inauguração da exposição. Em conversa com Nuno Crespo para o jornal Público, Weber revelou a proximidade que manteve com o artista. Para Weber (citado por Crespo), a exposição no CAM «mostra um lado mais informal e espontâneo do trabalho de Albers e expressa o modo como ele pensava enquanto trabalhava». A par disso, a mostra tinha o mérito de inscrever a obra «numa dimensão experimental e nada formalista» e de mostrar o fascínio do artista «pela cultura e a arte mexicana e o modo como isso foi tão decisivo» (Crespo, Público, 25 mai. 2012).

No âmbito da exposição, selecionaram-se obras da coleção do Centro de Arte Moderna que se relacionavam com as pesquisas formais e cromáticas de Josef Albers e com seu prolongado estudo Homage to the Square. Paralela à mostra internacional, a exposição «Roubar com os Olhos. A Coleção do CAM em Relação com Josef Albers» foi organizada por Ana Vasconcelos, curadora da FCG, e decorreu igualmente de 17 de maio a 1 julho 2012, no piso 01 do CAM.

Fizeram parte desta exposição obras dos artistas Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918), Ângelo de Sousa (1938-2011), António Palolo (1946-2000), Artur Rosa (1926-2020), Bernardo Marques (1898-1962), Eduardo Viana (1881-1967), Fernando Calhau (1948-2002), George Grosz (1893-1959), Joaquim Bravo (1935-1990), Joaquim Rodrigo (1912-1997), Júlio dos Reis Pereira (1902-1983), Marc Vaux (1932), Mário Eloy (1900-1951), Robyn Denny (1930-2014), Terry Frost (1915-2003) e Victor Vasarely (1906-1997).

Sobre «Roubar com os Olhos», referiu Leonor Nazaré: «O pensamento plástico de Albers deixará marcas profundas em várias correntes da arte norte-americana, e, apesar de não ter sido influência direta e reconhecida nos artistas expostos – com a exceção de Artur Rosa e Fernando Calhau –, podem estabelecer-se vários paralelismos, que passam inclusivamente pelos abstracionistas britânicos dos inícios de 60, igualmente representados na coleção e profundamente motivados pela abstração norte-americana então exposta em Londres.» (O Tempo no Espaço, 2019, p. 79)

No âmbito de ambas as exposições, foram realizadas várias visitas guiadas. A exposição «Josef Albers na América. Pintura sobre Papel» contou com as visitas do ciclo «Domingos com Arte», orientadas por Susana Anágua, que também assegurou a visita «Color Study for Homage to the Square de Josef Albers», integrada no programa «Uma Obra de Arte à Hora de Almoço».

No dia da abertura da mostra teve lugar uma mesa-redonda dedicada à obra de Josef Albers, na qual participaram os responsáveis pela organização da mostra, Nicholas Fox Weber, Heinz Liesbrock e Michael Semff.

De igual modo, a exposição «Roubar com os Olhos. A Coleção do CAM em Relação com Josef Albers» contou com um conjunto de visitas, integradas no ciclo «Encontros ao Fim da Tarde», orientadas por Ana Vasconcelos e Susana Anágua.

Editado em Ostfildern (Alemanha), pela Hatje Cantz, sob coordenação de Heinz Liesbrock e Michael Semff, o extenso catálogo foi comum a todas as itinerâncias da exposição. De edição inglesa, a monografia contém textos dos curadores, bem como de Nicholas Fox Weber e de Isabelle Dervaux, curadora no The Morgan Library & Museum.

Em 2012, mantém-se a publicação dos cadernos/folhetos para todas as exposições temporárias do CAM. No caso específico desta exposição, é publicado Josef Albers na América, em edição bilingue (português/inglês), que contém excertos de alguns dos textos do catálogo. Os excertos referem-se ao prefácio, assinado pelos curadores, e ao prólogo, da autoria de Nicholas Fox Weber.

Como referiram os curadores, «depois de ver estas pinturas, quem possa pensar em Albers como um teórico artisticamente neutro, preocupado sobretudo com a apresentação de ideias, rapidamente fica convencido do contrário». E acrescentam: «O que estes trabalhos nos revelam é que Albers foi um verdadeiro pintor, um artista que se deixou deliberadamente guiar pelos seus materiais, mas que, ao mesmo tempo, os investiu de uma inconfundível vitalidade própria.» (Painting on Paper. Josef Albers in America, 2012, p. 8)

Desta forma, a exposição cumpria o objetivo enunciado pelos organizadores para quem esta mostra iria «abrir um novo capítulo na receção das obras de Josef Albers» (Ibid., p. 7).

O acolhimento da exposição por parte da crítica especializada foi positivo. Nuno Crespo, por exemplo, observa acerca da seleção de trabalhos apresentados que «é como se estes “papéis” permitissem não só uma espécie de arqueologia do fazer de Albers, mas também descobrir as ligações entre os seus diferentes modos de compor. […] Além de reconstituir o método de trabalho de Albers, esta exposição mostra tratar-se de um pintor guiado pelos materiais, pela sua utilização rigorosa e atenta» (Crespo, Público, 25 mai. 2012).

Leonor Nazaré mencionaria, contudo, que, «em 2012, apesar da prolixa variedade de propostas expositivas com obras da coleção, a referência crítica é praticamente nula. […] Também quase não terá sido assinalada a exposição “Roubar com os Olhos”, de obras da coleção CAM postas em diálogo com Josef Albers» (O Tempo no Espaço, 2019, p. 106).

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Mesa-redonda / Debate / Conversa

[Josef Albers na América. Pintura sobre Papel]

18 mai 2012
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Domingos com Arte

mai 2012 – jul 2012
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Uma Obra de Arte à Hora de Almoço

jun 2012
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Encontros ao Fim da Tarde

jun 2012
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Artur Santos Silva (à esq.) e Nicholas Fox Weber (à dir.)
Teresa Gouveia (à esq.), Artur Santos Silva (à esq.), Nicholas Fox Weber (ao centro), Isabel Carlos (à dir.), Ana Vasconcelos e Melo (à dir.)
Teresa Gouveia (à esq.), Artur Santos Silva (ao centro), Isabel Carlos (à dir.), Ana Vasconcelos e Melo (à dir.)
Isabel Carlos (à esq.), Artur Santos Silva (à dir.),
Heinz Liesbrock (à dir.) e Isabel Carlos (à esq.)

Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00666

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e convites. 2009 – 2011

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00630

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém lista de obras que integram a exposição. 2012

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 7027

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 2012

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 7026

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 2012


Exposições Relacionadas

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1980 / Sede Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

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