Exposição coletiva organizada em parceria pela Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea de Almada e pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), com curadoria de Ana Vasconcelos, curadora do CAMJAP, e Emília Ferreira, historiadora de arte e, à data, curadora da Casa da Cerca. A mostra integrou um conjunto de 47 trabalhos sobre papel, da autoria de 20 artistas britânicos.

As obras que integraram a mostra pertenciam, na sua totalidade, ao acervo da Coleção do CAMJAP e, ao serem expostas na Casa da Cerca, permitiram a esta instituição dar continuidade ao seu projeto principal, que se desenvolvia em torno do desenho. Este aspeto é evidenciado pela diretora da Casa da Cerca no texto do catálogo, em que refere que esta exposição trata de «uma proposta expositiva que, embora em continuidade com as anteriores, abre novas perspectivas, avançando no questionar do próprio conceito de "desenho contemporâneo"» (Artistas Britânicos. Trabalhos sobre Papel (1956-1971), 2002, p. 3).

O núcleo de arte britânica contemporânea da coleção do CAMJAP conheceu, tal como descreve Ana Vasconcelos no catálogo desta exposição, um percurso «irregular», desde o seu início, em 1959, até à atualidade (Artistas Britânicos. Trabalhos sobre Papel, 1956-1971, 2002, p. 5). O princípio da coleção deu-se com o pedido de apoio da FCG ao British Council para adquirir um conjunto de obras que formaria a parte central do núcleo de arte britânica da atual coleção do Centro de arte Moderna, abrangendo diversos campos artísticos, incluindo pintura, escultura e desenho, constituindo uma imagem da arte britânica dos anos 60.

A presente exposição, que abrangeu um arco cronológico de 1956 a 1971, percorreu os principais movimentos artísticos próximos da Op Art, destacando o papel como suporte comum a todas as obras, apesar de estas ultrapassarem os «limites mais facilmente legíveis do "desenho"», pela diversidade de técnicas e materiais utilizados, que incluíram a grafite, o carvão, a tinta-da-china, o guache ou a aguarela (Artistas Britânicos. Trabalhos sobre Papel (1956-1971), 2002, pp. 5-7).

É precisamente dos anos 60 que data grande parte dos desenhos selecionados, que evocam, especificamente, as diferentes propostas dos artistas britânicos deste período com trabalhos sobre papel, entre os quais se destacam, nesta exposição, as obras de William Scott (1913-1989), Terry Frost (1915-2003) ou Adrian Heath (1920-1992).

Além do papel como ponto de referência comum, a abstração foi «tónica dominante», adianta Vasconcelos no catálogo, pois permitia uma maior diversidade artística. Excetuam-se alguns retratos da autoria de Leon Kossoff ou dois desenhos de David Hockney, Figure in Helmet and Cloak (1963), e Pigs Escaping from a Hot Dog Machine (1961) (Ibid.). De facto, Hockney distingue-se neste campo devido à sua «linguagem própria, cuja força e encantos muito particulares resultam da encenação de um dispositivo de distanciação do trabalho criado» (Ibid.).

Para a curadora do CAMJAP, esta mostra situou-se, «fora da Pop», expressão com que intitula o seu texto para o catálogo. Apoiando-se num excerto redigido pelo artista Bernard Cohen (1933), e publicado num catálogo de uma exposição da coleção de pintura dos anos 60 do Arts Council, Ana Vasconcelos refletiu sobre o papel da Pop Art enquanto movimento artístico que impôs limites à quantidade de temas figurativos e que apelou ao uso «sentimental das imagens» (Ibid.).

As séries September 1963 (1963) e August 1963 (1963), de Peter Lloyd-Jones, espelharam esta vontade de testar novos campos. Para Ana Vasconcelos, tratava-se de «investigações integradas num programa exploratório que pode ou não originar uma pintura» (Ibid.). A somar aos artistas já referidos, foram ainda expostos trabalhos de Derek Boshier, Gillian Ayres, Henry Mundy, John Wells, Patrick Heron, William Scott, Keith Vaughan, Bryan Wynter, Barrie Cook, Alan Davie, entre outros.

O catálogo, editado pela Casa da Cerca em formato bilingue (português/inglês), conta com uma apresentação da diretora da instituição de Almada, Ana Isabel Ribeiro, e com dois breves ensaios, um da autoria de Ana Vasconcelos e outro de Emília Ferreira.

Joana Atalaia, 2019