Convidados de Verão
Slider de Eventos
Data
- Encerra à Terça
Local
Museu Calouste GulbenkianObras como o relevo da Mesopotâmia, os tapetes persas, as lacas japonesas ou o Naufrágio de um Cargueiro de Turner surgem deste modo dinamizadas pelo desafio de outro tempo e de outros imaginários que refletem os modos e as linguagens contemporâneas, remetendo também para a permanência intemporal de algumas causas. No jardim, a artista Fernanda Fragateiro propõe ainda um conjunto de intervenções escultóricas, criando uma ponte entre as intervenções no Museu e os eventos do Jardim de Verão.
Temas
Bela Silva
Diogo Pimentão
Fernanda Fragateiro
Francisco Tropa
Miguel Branco
Miguel Palma
Patrícia Garrido
Pedro Cabral Santo
Rui Chafes
Susanne Themlitz
Vasco Araújo
Wiebke Siem
Yael Bartana
-
Asta Gröting
A obra Bodenplatte de Asta Gröting, instalada na proximidade da escultura de Auguste Rodin, Jean d’Aire, Le Bourgeois de Calais – L’Homme à la Clef, evoca diretamente a marcação imaginária dos pés das personagens e interroga o valor da base ou do «solo» da escultura convencional. A artista encontrou no ateliê de Rodin, em Meudon, o molde da base de Les Bourgeois de Calais (a famosa versão de seis figuras) e preencheu os espaços vazios. Quis interrogar também o lugar da burguesia atual e a forma como a arte se pode referir a esse tipo de questionamento.
Asta Gröting (Herford, Alemanha, 1961) vive e trabalha em Berlim. Estudou escultura na Kunstakademie Düsseldorf (1981-1986). É professora «appointed for life» em Hochschule für Bildende Künste Braunschweig, Braunschweig, Alemanha. Nos últimos três anos realizou três exposições individuais na Carlier Gebauer Gallery, Berlim. Entre as coletivas mais recentes em que participou refiram-se: und Touch, AFTER THE BUTCHER, Berlim, Alemanha; This is a Voice, Wellcome Trust, Londres, Reino Unido; e Höhenrausch – Engel und Doppelgänger, OK Center for Contemporary Art, Linz, Áustria.
Gröting fala de Beuys como uma influência importante no seu trabalho e o interesse na interação humana é explícito em alguns dos seus projetos. Muito do seu trabalho tenta ilustrar não apenas o lado invisível do corpo humano, mas também as formas de o invisível e o visível se conectarem. Para tal, recorre a um espectro largo de media renovando sempre os meios de expressão em cada nova situação. Pode incluir materiais como pérolas e poliestireno, bronze e borracha, ou motores que imprimem movimento às peças. No final dos anos 90 começou a realizar filmes e nos anos 2000 trabalhou com conhecidos ventriloquistas para a realização da série The Inner Voice.
Trabalhos recentes, incluindo «Acker» [Soil], «Kartoffeln» [Potatoes] e «Feuerstelle» [Fireplace], focam o espectador nas condições básicas de sobrevivência: terra, alimento e calor. Muitos dos trabalhos representam dois lados de uma mesma preocupação: compreender a nossa relação com os outros e connosco próprios. Asta Gröting está representada em várias coleções públicas na Alemanha, Áustria, EUA, França, Turquia, Espanha, Suécia e Bélgica.
-
Bela Silva
Numa sala em que são expostas, atraente e prolixamente, várias peças de cerâmica chinesa, as peças contemporâneas em cerâmica de Bela Silva criam um claro momento disruptivo, que começa por ser também de continuidade – na figuração zoomórfica e zoológica dos motivos, na tipologia das peças (vasos, jarras, animais fantásticos), na natureza decorativa, mais ou menos desviante, da cerâmica e na sua paleta cromática. Os dragões, em particular, terão tido inspiração direta nos Cães de Fo (Dinastia Quing) expostos na grande vitrina.
Bela Silva (Lisboa, 1966) vive e trabalha em Lisboa e Bruxelas. Estudou Escultura nas Escolas de Belas Artes do Porto e de Lisboa, onde finalizou a licenciatura; frequentou Cerâmica no Ar.Co, em Lisboa, o Norwich Fine Arts no Reino Unido e a School of The Art Institute of Chicago nos EUA, onde concluiu o mestrado.
Seleção de exposições: Chicago’s Ann Nathan Gallery (1994) e Rhona Hoffman Gallery (1997); Museu do Azulejo (1999); Museu Anastácio Gonçalves, Palácio da Ajuda e Fundação Ricardo Espírito Santo (Lisboa, 2007); realizou exposições na China e no Japão. Participou em coletivas no Brasil, na Espanha e em França. Orientou workshops no Japão e em Marrocos e realizou residências em Kohler, Wisconsin, EUA, e na Fabrica Bordalo Pinheiro, Caldas da Rainha, Portugal. É autora de várias obras de arte pública como o painel de azulejos para a estação de metro de Alvalade, os painéis para o Sakai Cultural Center’s Gardens no Japão e os painéis para a Escola João de Deus nos Açores.
O seu trabalho em cerâmica cita e comenta peças de diferentes patrimónios, desviando com ironia, excesso, ou simples estilização, os quadros de referência visuais e culturais.
-
Diogo Pimentão
O laço recortado e grafitado de Diogo Pimentão adquire uma tonalidade decorativa, perto do espelho de René Lalique, que não deixa de ser também forte expressão escultórica, desenho e inesperada tridimensionalidade, presença e leveza. Ficamos, nos dois casos, perante nós e cadeias entrelaçadas, motivo tão frequente na Arte Nova, mas também tão universal no imaginário mítico, do caduceu mercurial e do Ouroboros às serpentes de tantas lendas e representações xamânicas, passando pelo imaginário do Labirinto, muitas vezes identificado, no seu todo, como um nó.
-
Fernanda Fragateiro
Fernanda Fragateiro pontua, com intervenções escultóricas nos bancos desenhados por Ribeiro Telles, alguns dos locais em que os eventos de Jardim de Verão acontecem, para além de outros por si selecionados. Frequentemente ligado a uma matriz arquitetónica de desenho, construção, instalação e marcação do espaço, o seu trabalho utiliza as superfícies espelhadas para sublinhar passagens entre os planos bidimensionais da imagem e tridimensional do lugar, os «ecrãs» virtuais que o multiplicam, as experiências sensoriais de alteração térmica e táctil, a interrupção surpreendente de esquadrias e contornos por outros que se lhes sobrepõem e a indagação estética que o usufruto prático também exige.
-
Francisco Tropa
Sobre o plinto da escultura ausente Apolo, de Jean-Antoine Houdon, a figura fragmentária e suspensa de ossos e «órgãos» de vidro de Francisco Tropa assinala o movimento ascensional que é próprio daquele deus grego, grande viajante na imensidão do Céu. A súbita leveza e transparência do vidro contrasta com o peso e opacidade do bronze, sugerindo destinos diferentes na decomposição das partes do corpo e propondo o memento mori de todas as Vanitas.
-
Miguel Branco
A escultura de Miguel Branco comenta pela paráfrase a Estatueta do Funcionário Bés da Época Baixa do antigo Egito. O artista terá encontrado nela uma inspiração direta. A obra cita a posição e a atitude mas substitui o rosto inteligente daquela figura pelos contornos hominídeos de uma cabeça quase simiesca, na fronteira, portanto, da animalidade e do primitivismo. A relação com a morte e com escrita (há na mesma sala a estela de um outro escriba), ambas fundamentais no Antigo Egito, ficam assim evocadas nesta proposta contrastante do que podem ser a elevação e a «queda» humanas.
-
Miguel Palma
Miguel Palma utiliza uma jarra Império para desafiar o pressuposto museológico da conservação e da proteção patrimonial: um mecanismo elétrico na base do objeto imprime-lhe movimento de minuto a minuto, dando tempo ao visitante que percorre a vitrina de porcelana do século XVIII de se aperceber e ser surpreendido. A anedota pode ser lida na sua forma mais imediata, mas o movimento é também o da manufatura do vaso e o das mãos humanas que o transportam ao deslocá-lo. A vitrina e o plinto deixam de ser esse lugar seguro que tipifica o museu, para ser um momento de sobressalto na idealização que temos dele.
-
Patrícia Garrido
Interior não é apenas o nome do objeto em borracha e metal de Patrícia Garrido, é também a natureza e problemática de várias das obras que apresentou no Museu do Chiado em 1995, entre as quais uma espécie de saco em forma de flor, que, como outras da mesma série (Jogo de Damas), tem uma provável ressonância sexual. Na vizinhança do para-sol de veludo de seda lavrada da Veneza do século XVI, evoca o universo feminino em favorável coincidência cromática e material.
-
Pedro Cabral Santo
O filme Turner Pic, de Pedro Cabral Santo, coloca em fundo de imagem O Naufrágio de Um Cargueiro de Turner, para lhe sobrepor um diálogo sobre OVNIS e extraterrestres, em barras do sistema de cores RGB, convencionalmente utilizadas para surdos-mudos. Adaptada de um diálogo realmente surpreendido pelo artista no Museu Gulbenkian, diante desta pintura, a substância textual introduz estranheza mas também sobreposição de códigos e a dimensão que a receção pública acrescenta a cada obra.
-
Rui Chafes
As pequenas peças em fimo esculpidas por Rui Chafes numa série de 1989 a que chamou O corpo não entra, evocam molúsculos, corais, flores, variações sobre a morfologia sexual feminina – um conjunto de relíquias, cuja singularidade é acentuada pela vizinhança das caixas lacadas japonesas, também elas muito pequenas, trabalhadas em minúcia, intimistas, em deriva formal por vezes inusitada.
-
Susanne Themlitz
Na zona de mobiliário do século XVIII as duas obras de Susanne Themlitz correspondem a uma experiência de integração tão imprevista quanto eficaz, atemporal mas sinalizável na sua época: uma pintura abstrata (Respiração. Pausa – entre dois pontos) de cores e planos vigorosos, «paisagem permeável e transformação suspensa» como diria a artista; e uma mesa com objetos (espelho, ametista, globo, linha de madeira e plano de vidro), sugestão iconológica das conquistas científicas do Renascimento e do Iluminismo e deriva surreal enquadráveis no universo imagético e no requinte dos móveis circundantes.
-
Vasco Araújo
Quatro séries de desenhos de Vasco Araújo preenchem o corredor que conduz os visitantes da arte do Extremo Oriente à arte Europeia: Pink Family, Green Family, White and Blue Family, Armorial Family (em ressonância com designações da cerâmica chinesa que o visitante ainda entrevê na sala que acabou de deixar) são desenhos quase impercetíveis de vasos e taças danificados e desenterrados em buscas arqueológicas às quais o artista associa excertos retirados do livro de Susan Sontag, Olhando o Sofrimento dos Outros. Essa associação oferece uma poderosa metáfora da arte, do tempo, das linguagens e do património material e imaterial.
-
Wiebke Siem
Um enorme batedor de tapetes de Wiebke Siem, colocado suspenso sobre um tapete da Índia cuja escala acompanha, traz ao objeto decorativo a dessacralização que o desloca para a dimensão prática e utilitária. Fazendo referência direta a uma série de fotografias de Hans Bellmer em que a sombra deste objeto, frequente nas casas alemãs, convive com as suas «bonecas», Wiebke convoca também a memória da sombra nos filmes de Murnau e outros tapetes famosos como o do gabinete de Freud. Mas refere-se sobretudo ao lugar do feminino no lar, questionando funções, emoções e arquétipos.
Wiebke Siem (Kiel, Alemanha, 1954) vive e trabalha em Berlim. Estudou escultura na Hochschule für Bildende Künste de Hamburgo (de 1979 a 1984), onde foi professora de escultura de 2002 a 2008. Foram-lhe atribuídas várias bolsas e residências, entre as quais, recentemente, a de Goslarer Kaiserring (2014).
Das últimas exposições individuais refiram-se Wiebke Siem – Der Traum der Dinge, K20 Grabbeplatz, Labor, Düsseldorf (2016); Wiebke Siem, Lehmbruck Museum, Duisburg (2015); Wiebke Siem – Kaiserringträgerin der Stadt Goslar, Mönchehaus-Museum, Goslar (2014). Numa seleção das suas últimas participações em exposições coletivas refiram-se Gesichter zwischen Figur, Porträt und Maske, Neues Museum, Nürnberg (2015); Regionalismus, Salzburger Kunstverein, Salzburgo (2013); and Weltreise-Kunst aus Deutschland unterwegs.
A partir da escultura e da instalação, por vezes na fronteira da arte e do design, Wiebke Siem trabalha o comentário de convenções sociais, associadas à questão de género, da aparência e da máscara, da mitificação e do valor coletivo. Humor e ironia, citação e invenção dirigem o seu olhar crítico e as opões figurativas que lhe dão expressão.
-
Yael Bartana
Numa zona geográfica comum, o Médio Oriente, emergem um baixo-relevo da Mesopotâmia e um filme de animação da artista israelita, Yael Bartana. O primeiro, a figura de um génio com asas e farda de guerreiro; o segundo, soldados e polícias daquela zona conturbada, transformados por um efeito digital, em personagens de «argila» que se movem como relevos no ambiente informe e uniforme da guerra. É a semelhança formal desse efeito e a geografia que os aproxima mas é preciso sublinhar também a diferença radical da noção de combate (mágico e iniciático no primeiro caso) que os distingue.
Os filmes, instalações e fotografias de Yael Bartana (Kfar Yehezkel, Israel, 1970) exploram uma imagética da identidade e políticas da memória. O ponto de partida é a consciência nacional difundida pelo seu país, Israel. Conceitos como «terra natal», «regresso» e «pertença» são centrais no seu trabalho, assim como uma investigação em torno das cerimónias, rituais públicos e lazer social que pretendem reforçá-los.
Bartana lida com o impacto da guerra, dos rituais militares e do sentimento de ameaça no dia-a-dia. Entre 2006 e 2011 trabalhou na Polónia na criação da trilogia And Europe Will Be Stunned, um projeto sobre a história das relações dos judeus polacos e da sua influência na identidade polaca contemporânea, com o qual representou a Polónia na 54.ª edição da Bienal de Veneza (2011).
Mais recentemente, tem experimentado e expandido o seu trabalho no mundo do cinema com projetos como Inferno (2013), uma prefiguração da destruição do Terceiro Templo, True Finn (2014), realizado no contexto do IHME Festival in Finland, e Pardes (2015), filmado durante uma viagem espiritual à floresta da Amazónia. O seu último trabalho, Simone The Hermetic, é uma instalação sonora site-specific para Jerusalém.
Publicações
Informação Relacionada
Ficha técnica
Curadoria
Leonor Nazaré
Penelope Curtis
Projeto expositivo
Mariano Piçarra
Projeto gráfico
Pedro Leitão