Sete Artistas ao Décimo Mês (2003)

Ciclo «7 Artistas ao 10.º Mês»

Exposição integrada no ciclo bienal que decorreu entre os anos de 1996 e 2008, organizado pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. O ciclo pretendeu divulgar e reconhecer sete jovens artistas ainda não integrados nos circuitos artísticos e institucionais. Em 2003, a curadoria foi assegurada pelo crítico de arte Miguel Amado.
Exhibition included in the biennale series which ran between 1996 and 2008, organised by the José de Azeredo Perdigão Modern Art Centre. The series sought to endorse and promote the work of seven young artists who, at the time, had not yet been represented on the institutional artistic circuit. In 2003, the show was curated by art critic Miguel Amado (1973).

A exposição «Sete Artistas ao Décimo Mês», também designada «7/10», foi um ciclo expositivo bienal que teve a sua primeira edição em 1996 e decorreu até ao ano de 2008, organizado pelo Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Em 2003, realizou-se a sua quarta edição.

Desde o seu início, o ciclo destinou-se a mostrar jovens artistas emergentes, com obra ainda não integrada nos circuitos artísticos e institucionais. Contudo, esta condição acabou por assumir contornos divergentes em cada uma das edições, revelando desde logo o caráter livre, dinâmico e passível de transformação inerente ao ciclo.

Para cada uma das exposições foi nomeado um curador. O comissário convidado para a mostra de 2003 foi o crítico de arte Miguel Amado, que sucedeu a João Miguel Fernandes Jorge, João Pinharanda e Francisco Vaz Fernandes, curadores, respetivamente, das edições de 1996, 1999 e 2001.

A presente edição da «7/10» pretendeu retomar a matriz original do projeto, uma vez que se convidaram artistas pouco conhecidos do público especializado e com diminuta visibilidade institucional. Atente-se na justificação de Miguel Amado: «[…] estes criadores, na sua generalidade, jamais seriam entendidos como jovens talentos. Na realidade, a sua carreira não está numa fase inicial, mas decorreu à margem do mundo da arte contemporânea existente em Portugal. Tal deveu-se à circunstância de todos [os artistas] terem desenvolvido formação pós-graduada no estrangeiro, realizado estudos em domínios exteriores às artes visuais ou protagonizado experiências profissionais de carácter tutorial.» (Amado, Sete Artistas ao Décimo Mês, 2003, p. 13)

Por isto mesmo, «apresentar artistas que revelassem maturidade no pensamento e na acção constituiu outra base conceptual da presente exposição». De acordo com Miguel Amado, só assim seria exequível atingir a meta a que este se propusera na preparação da mostra: «conferir unidade discursiva a 7/10» (Ibid., p. 15).

A escolha dos artistas portugueses recaíra, portanto, em Ana João Romana (1973), Hugo Brito (1974), Hugo Canoilas (1977), Marta de Menezes (1975), Nuno Pedrosa (1975), Ricardo Jacinto (1975) e Sancho Silva (1973).

A exposição de 2003 concretizou-se ainda num contexto especial, dado que estabeleceu uma aproximação a uma outra iniciativa da FCG do mesmo ano: a exposição «Do Estádio Nacional ao Jardim Gulbenkian. Francisco Caldeira Cabral e a Primeira Geração de Arquitectos Paisagistas, 1940-1970», organizada pelo Serviço de Belas-Artes da FCG.

Pela primeira vez no ciclo «7/10», a mostra propunha uma orientação temática: a paisagem. As exposições «Do Estádio Nacional ao Jardim Gulbenkian», organizada pelo Serviço de Belas-Artes, e «Sete Artistas ao Décimo Mês», organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), e ainda o ciclo «Olhares sobre a Paisagem», organizado pelo Museu Calouste Gulbenkian, integraram assim o ponto de partida para um programa educativo e cultural em torno de questões sobre a paisagem, que se desenvolveu entre outubro de 2003 e janeiro de 2004. Este programa resultou da colaboração entre o Serviço de Belas-Artes, o Setor de Educação do CAMJAP e o Serviço Educativo do Museu Calouste Gulbenkian.

Citando Jorge Molder, então diretor do CAMJAP: «Independentemente de outras considerações históricas, a importância da paisagem na mais recente produção artística justifica esta intromissão e […] é benéfico para o espírito de 7 artistas ao 10.º mês a possibilidade de constantemente poder incluir pequenas modificações.» (Molder, Sete Artistas ao Décimo Mês, 2003, p. 11)

O referido requisito foi recebido pelo curador Miguel Amado não como uma adversidade, mas como um eixo paradigmático a partir do qual se tornou possível o surgimento de renovadas hipóteses de trabalho. Não passando esse tema de um pretexto, e não estando no centro de reflexão da prática artística da maioria dos autores, muitos dos trabalhos apresentados puderam ser lidos à sua luz, como assinala o curador: «Para os artistas, instituiu-se o desafio de enquadrar interesses singulares numa perspectiva global de criar peças que convocassem a temática em causa. Porém, importa frisar que a adopção desta noção como princípio organizador da exposição revelou-se mais um ponto de partida do que de chegada. As abordagens de cada artista suscitam múltiplas interpretações desta problemática, evidenciando a pluralidade dos níveis de análise que ela comporta.» (Amado, Sete Artistas ao Décimo Mês, 2003, p. 15)

Todas as obras foram criadas propositadamente para a exposição, tendo o CAMJAP facultado aos artistas todas as condições necessárias para a sua produção. Além disso, Miguel Amado sublinhou a proveitosa oportunidade que teve de acompanhar todo o processo e desenvolvimento dos trabalhos, permitindo a partilha de responsabilidades, de decisões e de reformulações. Neste sentido, o discurso expositivo abarcou as obras que destacamos seguidamente.

A peça de Nuno Pedrosa consistiu numa performance que o artista realizou durante a inauguração da exposição. Ao filmar e projetar (em direto) a abertura, Pedrosa protagonizava igualmente o papel de todos os presentes no evento: «Circulou pela galeria, conversou com os convidados, bebeu uns copos.» A única diferença de comportamentos residiu no propósito de um e de outros. «Os segundos participavam em mais um ritual próprio do seu microcosmos, o mundo da arte contemporânea, o primeiro registava os comportamentos daqueles, assumindo o espírito de um etnógrafo.» (Ibid., p. 51)

Marta de Menezes, que trabalhou a partir de técnicas e materiais da biologia e da biomedicina, compôs com o seu Retrato Funcional (o meu Jardim Gulbenkian), uma instalação vídeo, fotografia e desenho, em dois grandes espaços simétricos. A artista sugeriu uma «auto-representação enquanto desenhava o Jardim Gulbenkian. Desenhar é entendido como um gesto caracterizador da artista. O motivo desenhado reforça a caracterização, na medida em que a paisagem é um género artístico. [A artista] desenhou a área ajardinada duas vezes, de memória e à vista, neste caso a partir de uma fotografia. Assim, nesta situação, a artista copiou-a; naquela, recordou-a.» (Ibid., p. 57)

No caso de Hugo Canoilas, a obra exposta consistiu numa grande pintura monocromática em campo expandido, em que modelou a gramática/paisagem arquitetónica do espaço, convocando o corpo do visitante para uma releitura da sua obra, LFN/LMA.

Um outro sentido de paisagem (sonora no caso) foi o trabalho de Ricardo Jacinto. A sua intervenção, intitulada Solo, atravessou, pontualmente, todo o espaço, obrigando quem estivesse familiarizado com ele a (re)questioná-lo quanto à sua relação com o exterior. «O artista propõe um trabalho cuja matéria-prima é o som. O visitante confronta-se com uma paisagem de sonoridade ao longo do seu percurso. De quando em vez, estas são intrusivas, imiscuindo-se no acto de percepção das restantes obras expostas. Porém, quase sempre parecem pairar por todo o ambiente, recatadas na sua singularidade.» (Ibid., p. 69)

Em Éter, Sancho Silva focou-se nos efeitos da perceção visual sobre uma paisagem abstrata: um ecrã televisivo sem sinal. As preocupações do artista residiram na «exploração de problemas de ordem formal associados aos regimes da visualidade. Assim, o artista propõe um exercício ancorado nos mecanismos de percepção retiniana. Jogando com a palavra, desenvolveu um projeto centrado num dispositivo de tele-visão. O título do trabalho é mais um dado deste jogo, pois evoca o meio através do qual as emissões televisivas acontecem: as ondas hertzianas.» (Ibid., p. 75)

Em Agosto (I, II, III), (vídeo, fotografia e texto), Hugo Brito remeteu o espectador para duas noções de paisagem: a natural, uma praia e um jardim; e a mental, evocando a memória nostálgica de espaços e momentos.

Por fim, Ana João Romana trabalhou em torno de memórias associadas ao espaço da Gulbenkian, intervindo em diversas zonas do edifício com pequenos textos. O título da sua obra, Where You End & I Begin II, enuncia uma relação entre a artistas e um hipotético interlocutor. Para este trabalho, a artista entrevistou funcionários e colaboradores do CAMJAP, solicitando-lhes que relatassem episódios marcantes ocorridos enquanto trabalharam na Fundação, e que indicassem canções associadas a essas situações. Ana João Romana expôs em «7/10» a essência dos que com ela colaboraram: um livro manufaturado reproduziu o que escreveu; numa das paredes da galeria encontrava-se uma lista com os nomes das pessoas envolvidas no projeto; e finalmente, um DJ animou o dia da inauguração, com a banda sonora concebida com as músicas recolhidas nas entrevistas.

Paralelamente, a exposição contou ainda com um extenso programa educativo e cultural, dedicado tanto ao público em geral como a grupos escolares. As atividades paralelas incluíram uma mesa-redonda, em que participaram os sete artistas representados no ciclo; sete visitas guiadas, conduzidas também pelos artistas e pelo curador e que foram decorrendo ao longo do todo período expositivo; e ainda o curso «Concepção e Organização de Exposições e Catálogos», orientado por Miguel Amado.

O catálogo editado pela FCG inclui um texto introdutório de Jorge Molder, um texto dedicado a cada um dos artistas e suas obras, da autoria de Miguel Amado, e ainda as biografias dos artistas e reproduções de algumas das peças selecionadas.

A edição de 2003 da «7/10» obteve um extraordinário acolhimento por parte do público. A inauguração das exposições «Do Estádio Nacional ao Jardim Gulbenkian» e «Sete Artistas ao Décimo Mês» seria assinalada pela administração da FCG, que a registaria em ata como «um enorme sucesso nomeadamente pela extraordinária afluência de público de todas as idades, tal como há muito tempo não se via na Fundação» (Ata da Reunião do Conselho de Administração, 23 out. 2003, Arquivos Gulbenkian, SBA 21109).

O ciclo «Sete Artistas ao Décimo Mês» veio a repetir-se por mais dois anos, em 2005 e 2008.

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Mesa-redonda / Debate / Conversa

[Sete Artistas ao Décimo Mês (2003)]

24 out 2003
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

[Sete Artistas ao Décimo Mês (2003)]

25 out 2003 – 17 jan 2004
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

[Sete Artistas ao Décimo Mês (2003)]

13 nov 2003 – 15 jan 2004
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal
Curso

Concepção e Organização de Exposições e Catálogos

jan 2004
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

João Pinharanda (à dir.)
Helena de Freitas (ao centro)
Nuno Vassalo e Silva (ao centro), Helena de Freitas (à dir.)
Emílio Rui Vilar (centro, dir.) e Manuel Costa Cabral, Isabel Alçada, Jorge Molder (atrás, da esq. para a dir.)
Emílio Rui Vilar (ao centro), Teresa Alçada, Isabel Mota e Jorge Molder (atrás, da esq. para dir.)
António Guterres (ao centro)
Jorge Molder (à esq.), António Repolho Correia (ao centro)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21109

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém informação referente à montagem e desmontagem da exposição, recortes de imprensa, publicidade, programação de extensão cultural e projeto da exposição. 1999 – 2004

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 110540

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2003


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