Sete Artistas ao Décimo Mês (1999)

Ciclo «7 Artistas ao 10.º Mês»

Exposição integrada no ciclo bienal que decorreu entre os anos de 1996 e 2008, organizado pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. O ciclo pretendeu divulgar e reconhecer sete jovens artistas ainda não integrados nos circuitos artísticos e institucionais. Em 1999, a curadoria foi assegurada pelo crítico de arte João Pinharanda.
Exhibition included in the biennale series which ran between 1996 and 2008 organised by the José de Azeredo Perdigão Modern Art Centre. The series sought to endorse and promote the work of seven young artists who, at the time, had not yet been represented on the institutional artistic circuit. In 1999, the show was curated by art critic João Pinharanda.

A exposição «Sete Artistas ao Décimo Mês», também designada «7/10», foi um ciclo expositivo bienal que teve a sua primeira edição em 1996 e decorreu até ao ano de 2008, organizado pelo Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

O ciclo pretendeu divulgar e reconhecer sete jovens artistas em início de carreira, com obra ainda não integrada nos circuitos artísticos e institucionais. Para cada uma das edições foi nomeado um curador, responsável pela escolha de artistas que, à data, se encontrassem numa fase inicial de carreira.

Em 1999, à semelhança do que já havia afirmado na entrada de catálogo da exposição de 1996, Jorge Molder, então diretor do CAMJAP, reitera a intenção do ciclo: «Quase se poderia usar as mesmas palavras empregues na primeira edição desta iniciativa, sublinhando o convite dirigido a alguém com larga atenção ao mundo da criação artística para que escolhesse sete artistas, em início de obra, livre de especiais constrangimentos técnicos ou ideológicos.» (Sete Artistas ao Décimo Mês, 1999)

Cada edição pretendeu resistir à tendência para configurar a constituição de um grupo. Porém, nada impedia que essa impressão emergisse do diálogo artístico a apresentar, somente não haveria a preocupação de configurar o conjunto com exemplaridade e consistência: «Vale apenas o interesse sentido e, até certo ponto, a suposição de uma dinâmica que se está a surpreender.» (Ibid.)

Para a exposição de 1999, o CAMJAP convidou para curador o crítico de arte João Pinharanda. À premissa inicial do ciclo, foi, contudo, acrescentada uma única regra complementar: para favorecer a proximidade com as obras e com os seus autores, decidiu-se não sair do contexto dos diferentes centros de formação artística de Lisboa.

Sem a intenção de encontrar afinidades entre os criadores, o curador identificou os sete jovens artistas, fundamentando-se em critérios de autonomia e diversidade das obras. Segundo João Pinharanda: «Esta seleção recusa qualquer objectivo de balanço ou de prospectiva. Mas segue de perto o espírito da primeira edição da iniciativa […]. Ou seja, reúne sete artistas de muito recente carreira […], que possam funcionar como indicadores de alguns dos sentidos da produção mais jovem.» (Ibid.)

Os nomes apresentados em 1999 resultaram do conhecimento prévio e mais próximo de certas obras e de certos artistas, «mas também de múltiplas e propositadas prospecções entre a multiplicidade de nomes que emergem actualmente das escolas de arte e se mostram em iniciativas precárias, dispersas pelo país urbano e rural. O processo de seleção da presente edição, ao seguir uma lógica de deriva, reproduziu as próprias condições da produção contemporânea portuguesa» (Ibid.).

Assim sendo, entre os artistas selecionados constaram: Catarina Simões (1973), Filipa César (1975), Gil Amourous (1971), Hugo Guerreiro (1976), João Onofre (1976), Leonor Antunes (1972) e Sérgio Parreira (1975).

Todos os artistas trabalharam propositadamente para a exposição. Ao desenvolverem os seus projetos individuais, o processo de produção proporcionou diálogos com o curador e entre os artistas implicados, que acabaram, em alguns casos, por expandir ou reorientar os seus trabalhos em função dessa experiência. Neste processo produtivo, «as obras acabaram por evoluir ou por se apresentar de um modo convergente, conferindo ao conjunto uma unidade discursiva inicialmente não procurada ou de todo previsível» (Ibid.).

A exposição foi realizada no espaço sequencial da Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 01) e teve, afinal, uma unidade visual que estabeleceu um sentido, como declara João Pinharanda: «Quando se tornou claro que o desenvolvimento dos trabalhos tinha criado entre as obras uma convergência discursiva natural, passou a ser de extrema importância encadear as instalações segundo uma lógica articulada.» (Ibid.)

Ao introduzir-nos o conceito e objetivo da exposição, o curador esclarece a evidente intenção de sublinhar o papel do precursor Marcel Duchamp (1887-1968) na história da arte, tornando-se inevitável inscrever as obras então recolhidas sob o seu signo: Marcel Duchamp possibilitaria ao século XX um novo universo de citações e descontextualizações dos objetos quotidianos e artísticos, assim como modalidades radicais de convocação do corpo, da palavra e do tempo. Trabalhou imerso em questões que problematizaram não só a pintura, mas a reprodução mecânica de obras de arte, ou ainda a convocação do performativo, integrando nele o próprio público, ao conferir-lhe a coautoria da obra, entre muitas outras considerações que continuam, ainda hoje, a questionar a complexidade dos modos de abordagem destes temas.

Assim, envolto no panorama enunciado acima, o artista Sérgio Parreira, inaugurou o percurso expositivo, aludindo a Gioconda, de Leonardo da Vinci, na sua «dimensão icónica e museográfica», em clara analogia com Marcel Duchamp e a questão da reprodutibilidade da obra.

Com Catarina Simões, e através do jogo de xadrez, prolongou-se a relação a Duchamp, «abrindo perspectivas à intervenção performativa do corpo na obra e ao tempo real da sua concretização» (Ibid.) e ainda a questões relacionadas com a autoria. A artista organizou um torneio de xadrez segundo as regras e normas de um torneio normal, subvertendo e anulando, no entanto, algumas ações. Para a instalação Xadrez, a FCG contou com o apoio da Federação Portuguesa de Xadrez, que assegurou todo o material necessário, os jogadores e o árbitro.

De acordo com o curador, João Onofre estabeleceu «uma ligação com o tempo metafórico e com um vasto conjunto de conceitos que lidam com o fenómeno da visão e do espaço habitado e habitável» (Ibid.).

O tema do percurso do corpo real, e o tempo real desse percurso, «a materialidade física da obra», seria enunciado por Leonor Antunes, que, para tal, utilizou uma «estratégia derrisória da sacralidade a que o ready-made duchampiano foi remetido» (Ibid.).  

O «tempo como dado psicológico; a espera que se desenvolve como angustiada deslocação no espaço; a espera que nunca conduz à conclusão de qualquer acção», assim funcionou o projeto vídeo de Filipa César: «Em vez de desfazer tensões, acrescenta-as.» (Ibid.)

Com Hugo Guerreiro, o único exemplo de autorrepresentação no conjunto selecionado, regressaríamos ao corpo individual e «vemos claramente questionada a temporalidade através da convocação da linguagem verbal» (Ibid.). 

Finalmente, Gil Amourous fechou o conjunto de escolhas abrindo ou retomando o ciclo da pintura: uma paisagem e um interior – uma realização técnica tradicional, e uma complexa colagem. Trabalhando a construção física e material da imagem, a localização das suas pinturas, surgiu como estímulo provocatório no conjunto de colaborações apresentadas. Na sequência da exposição, a obra S/ Título, de Gil Amourous, foi incorporada na Coleção Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

O catálogo da exposição inclui um texto introdutório de Jorge Molder, um texto de João Pinharanda, com a análise de cada um dos artistas e obras exibidas, e ainda as biografias dos artistas e reproduções de algumas das peças em exibição.

Durante o período em que a mostra esteve patente, foram organizadas algumas visitas guiadas. O ciclo «Sete Artistas ao Décimo Mês» foi reeditado em anos seguintes e sob o mesmo desígnio, respetivamente nos anos de 2001, 2003, 2005 e 2008.

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

S/Título

Gil Amourous (1971-)

S/Título, (1998) / Inv. DP1722

S/Título

Gil Amourous (1971-)

S/Título, (1998) / Inv. DP1722


Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00420

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, correspondência oficial, orçamentos e currículo dos artistas. Contém material cartográfico e desenhos para a instalação da peça de Leonor Antunes e documentos para a produção da obra de Hugo Guerreiro. 1999 – 2000

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 109985

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1999


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