Sete Artistas ao Décimo Mês (2005)

Ciclo «7 Artistas ao 10.º Mês»

Exposição integrada no ciclo bienal que decorreu entre os anos de 1996 e 2008, organizado pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. O ciclo pretendeu divulgar e reconhecer sete jovens artistas ainda não integrados nos circuitos artísticos e institucionais. Em 2005, a curadoria foi assegurada por Leonor Nazaré, curadora do CAMJAP.
Exhibition included in the biennale series which ran between 1996 and 2008, organised by the José de Azeredo Perdigão Modern Art Centre. The series sought to endorse and promote the work of seven young artists who, at the time, had not yet been represented on the institutional artistic circuit. Leonor Nazaré (1963), curator of CAMJAP, curated the exhibition in 2005.

A exposição «Sete Artistas ao Décimo Mês», também designada «7/10», foi um ciclo expositivo bienal que teve a sua primeira edição em 1996 e decorreu até ao ano de 2008, organizado pelo Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Em 2005, realizou-se a sua quinta edição.

Desde o seu início, o ciclo manteve o mesmo propósito, como assegura, em 2005, Jorge Molder, diretor do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP): «Um comissário, sempre diferente e com uma visão das artes igualmente distinta, escolhe sete jovens artistas, que, na sua opinião, indiciem já nos seus trabalhos, ainda que em fase de arranque, valores de originalidade e consistência.» Molder acrescenta ainda que «as práticas artísticas não têm constituído um factor determinante, o que pode ser testemunhado na diversidade de percursos e tendências manifestada pelos sete [artistas] ao longo dos anos de realização desta iniciativa» (Molder, Sete Artistas ao Décimo Mês, 2005, p. 3).

Embora mantendo alguns princípios gerais, regidos sobretudo pela vontade de acompanhar o panorama artístico no seu constante renascimento, a iniciativa «7/10» acabou por assumir contornos divergentes em cada uma das suas edições, o que revelava desde logo o caráter livre, dinâmico e passível de transformação inerente ao ciclo.

O comissariado para a exposição de 2005 ficou a cargo de Leonor Nazaré, o que constituiu a primeira e única vez em que a curadoria da «7/10» foi assumida por um elemento da equipa interna do CAMJAP. Todas as outras foram conduzidas por curadores externos convidados, designadamente Miguel Amado (em 2003), Francisco Vaz Fernandes (em 2001), João Pinharanda (em 1999) e João Miguel Fernandes Jorge (em 1996).

Em entrevista a Ricardo Duarte para o Jornal de Letras, a comissária da exposição destacava precisamente o regime aberto e sem qualquer imposição temática ou de outro género da mostra «7/10». Todavia, isto não significava que não fosse necessário estabelecer no projeto um determinado fio condutor: «[…] à medida que se vai juntando peças, apercebemo-nos que há questões comuns. Ao mesmo tempo, a própria exposição tem de ter uma coerência interna, o conjunto tem de estabelecer ligações entre si.» (Duarte, JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 12 out. 2005)

Para a seleção dos artistas, Leonor Nazaré levou a cabo um processo de investigação que abarcou cerca de 50 alunos e ex-alunos das escolas de arte portuguesas, o que permitiu convergir nos seguintes fatores seletivos: «Em alguns casos, teve a ver com o momento que a obra de cada artista atravessava, pois havia quem estivesse num impasse. Em outros, com o apanhar a pessoa no seu melhor período, perceber que ela iria investir nesta participação. […] Havia uma grande quantidade de trabalhos interessantes, mas escolhi aqueles com os quais queria trabalhar, ou sobre os quais queria reflectir. No fundo, os projectos que queria ver concretizados. Também foi preciso sentir que o artista tinha estrutura mental para aguentar este embate.» (Ibid.)

Assim, a escolha dos sete artistas recaiu sobre: Isabel Simões (1981), Mafalda Santos (1980), Mário Pires Cordeiro (1975), Marta Sicurella (1978), Rodrigo Oliveira (1978), Samuel Rama (1977) e Susana Anágua (1976).

Como é explicado por Leonor Nazaré na sua entrada de catálogo, o projeto curatorial centrou-se no trabalho sobre o espaço como denominador comum dos projetos dos sete artistas, cujas propostas assumiram uma «preponderante vertente instalativa». «Mesmo nos casos da pintura, da fotografia ou da projecção de imagens, há uma relação com o espaço que o reinventa e se desinquieta com ele: estamos perante espaços alternativos, efabulados, apropriados e comentados, fixados e "documentados", esculpidos, pintados, mobilizados, desconstruídos e só num caso, povoados de presença humana.» (Nazaré, Sete Artistas ao Décimo Mês, 2005, p. 5)

O percurso expositivo abriu com a instalação de Mário Pires Cordeiro, que escolheu trabalhar a arquitetura do espaço que lhe coube na galeria. Nesse sentido, surge a conceção do interior de uma nave espacial, L1-R1 Corridor, que, segundo o artista, veio especular «sobre as relações espaciais e cromáticas, quando projectamos, social e culturalmente, uma ideia de ambiente de interiores extraterrestres». Leonor Nazaré sublinha que a «enorme polivalência da ideia do espaço assume na obra de Mário Pires Cordeiro a condição de uma verdadeira exploração representativa» (Ibid., p. 9).

Isabel Simões apresentou pinturas de paisagens urbanas e, embora a artista não estivesse tão imediatamente ligada às premissas da instalação, como no caso das outras obras, foi com o espaço da cidade que o espectador destas pinturas se encontrou, inevitavelmente, relacionado. Segundo a artista, aquelas pinturas eram como «imagens com diferentes motivações e subtis ironias». De acordo com Leonor Nazaré a «construção das imagens nestas pinturas destitui os locais e objetos da vida que os habita, quando as funções para que existem os preenchem. […] A pintura é assumida como exercício de poder e exorcismo sobre as evidências impositivas do real» (Ibid., p. 17).

Em Paisagem Mecânica e Pre-Homo, Susana Anágua pretendeu uma abordagem a «todos os fenómenos e entropias que podemos encontrar na Natureza e os que a indústria utiliza na transformação e produção de matérias». Como menciona a curadora, os temas centrais do trabalho de Anágua focam-se «no interesse pelo desgaste e pela passagem do tempo nos corpos, pela entropia quantificável, pela termodinâmica, pelos mecanismos e pela relação homem/máquina/matéria, pelas estruturas de movimento contínuo e circular, que, no seu nível e forma próprios, podem remeter para a ideia da perpétua rotação da Terra» (Ibid., p. 23).

Marta Sicurella, com um conjunto de fotografias de grande formato, trabalhou o conceito da integração do indivíduo no espaço fechado e as alterações que a luz artificial e a luz natural produzem sobre as imagens do corpo. Relativamente a esta série fotográfica, Leonor Nazaré considerou que «a captação da singularidade de uma só personagem – o corte que delas destaca uma boa parte do rosto e do corpo, um esgar, uma atitude – vive da opção longitudinal do ecrã panorâmico, do minimalismo do décor […], do confronto de dois tipos de luz: a artificial encontrada num ambiente interior, e a artificial fabricada num ambiente exterior, onde se funde com a luz natural, e dessa atenção à singularidade banal das coisas e pessoas» (Ibid., p. 33).

No espaço da galeria dedicado a Rodrigo Oliveira, este construiu uma garagem ladeada por paredes pintadas com tiras geométricas com o mesmo material inflamável de que é composta a lixa das caixas de fósforos. Pela sua inclinação, a garagem impedia a presença do espectador – visto que o piso se elevava até ao teto da galeria – obrigando-o a uma observação do exterior. Segundo Leonor Nazaré, «a abertura intermitente de portões de garagem basculantes e a rampa ascendente que se lhes segue, quando chegamos ao interior desta ambígua garagem/galeria, a própria estrutura elevatória em ferro pintado, que é deixada visível, interpelam o visitante no sentido mais físico da descoberta de um espaço: chamam, fecham, frustram, surrealizam nele a expectativa de uma qualquer preciosidade guardada» (Ibid., p. 41). Numa crítica que dedicou à exposição, Luísa Soares de Oliveira sublinha também a eficácia da peça de Rodrigo Oliveira, uma vez que levaria o seu público a «tomar consciência dos limites físicos impostos à observação pela força da gravidade» (Oliveira, Público, 22 out. 2005).

Com a instalação de Mafalda Santos sucedia o oposto: a artista pintou integralmente, com um motivo reticulado – uma teia –, o lugar que lhe pertencera no corredor da galeria, convidando o público a caminhar e a entrar nesse espaço. Estas teias, «pensadas como rede, no sentido mais amplo e contemporâneo do termo, convocam toda a especulação que pode ser feita em torno das tecnologias da informação e da globalização comunicacional» (Nazaré, Sete Artistas ao Décimo Mês, 2005, p. 48). Nas palavras da curadora, a obra seria pensada e concebida como uma «imensa malha alastrada pelo chão e por um estatuto de estrutura espacial real, não confinada, parte integrante do local em que nos movemos, uma espécie de rede de Hartmann (conceito da geobiologia)» (Ibid.).

Samuel Rama, que encerrou a exposição, concebeu uma instalação de grande impacto: um conjunto de esculturas feitas de areia e água, numa paisagem recriada pelo artista. Aliada ao conceito de vulnerabilidade da vida, a instalação possibilitava uma série de outras relações: o ser humano e a natureza; a presença bruta da matéria em contraste com a minúcia dos efeitos locais de rendilhado; um tempo longo de feitura para uma construção e resultado que se pretendiam efémeros; o convite à intromissão no espaço, mas a criação simultânea de barreiras e impossibilidades (Ibid., pp. 54-55).

Paralelamente à exposição e ao catálogo, a iniciativa contou ainda com um extenso programa complementar, numa relação entre os artistas e o CAMJAP que se quis o mais profícua possível. Assim, organizou-se não só uma mesa-redonda, onde participaram todos os autores representados, mas também ateliês para crianças, conduzidos pelo artista Samuel Rama e por Carlos Carrilho. Além disso, foram orientadas várias visitas guiadas, asseguradas por cada artista à sua própria presença na coletiva. Estas visitas incorporaram uma relação pessoal estabelecida in loco com uma obra escolhida na Coleção Moderna.

O catálogo editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, inclui uma introdução de Jorge Molder, um texto de Leonor Nazaré abordando os artistas e as obras expostas, e ainda os currículos dos artistas e as reproduções das peças selecionadas.

A edição de 2005 da «7/10» alcançou um acolhimento muito positivo por parte da crítica especializada, tendo sido possível recolher entrevistas à curadora, textos de análise do projeto da exposição, e ainda comentários às obras apresentadas. Alguns destes periódicos estão reunidos para consulta na documentação associada à exposição.

No âmbito da exposição, foram incorporadas na Coleção Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian duas obras da artista Isabel Simões.

O ciclo «Sete Artistas ao Décimo Mês» voltou a realizar-se em 2008, ano da sua sexta e última edição.

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Oiro

Isabel Simões (1981-)

Oiro, 2005 / Inv. 06P1361

Quero ouvir-te respirar

Isabel Simões (1981-)

Quero ouvir-te respirar, 2005 / Inv. 06P1362

Oiro

Isabel Simões (1981-)

Oiro, 2005 / Inv. 06P1361

Quero ouvir-te respirar

Isabel Simões (1981-)

Quero ouvir-te respirar, 2005 / Inv. 06P1362


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Uma Obra do CAMJAP. Uma Obra 7/10

out 2005 – jan 2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal
Mesa-redonda / Debate / Conversa

[Sete Artistas ao Décimo Mês (2005)]

15 out 2005
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

[Sete Artistas ao Décimo Mês (2005)]

15 out 2005 – 7 jan 2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Leonor Nazaré (à esq.), Fernando Teixeira dos Santos (ao centro) e Rui Vilar (à dir.)
Jorge Molder (atrás, à esq.), Fernando Teixeira dos Santos e Leonor Nazaré (atrás, ao centro) e Rui Vilar (à dir.)
Rui Vilar (à esq.) e Fernando Teixeira dos Santos (à dir.)
Fernando Teixeira Santos (à esq.), Rui Vilar e Leonor Nazaré (ao centro) e Jorge Molder (à dir.)
Leonor Nazaré e Rui Vilar (ao centro)
Manuel Costa Cabral e Jorge Molder (ao centro)
Leonor Nazaré (à esq.), Rui Vilar e Fernando Teixeira Santos (ao centro)
Rui Vilar (à dir.)
Leonor Nazaré (centro, dir.) e Emílio Rui Vilar (dir.)
Fernando Teixeira Santos (ao centro)
Isabel Simões (frente, dir.)
Leonor Nazaré

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00359

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém recortes de imprensa, documentação dos planos de montagem da exposição, seguros das obras e correspondência interna. 2005 – 2006

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 112112

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2005

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 119966

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 2005


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