Sete Artistas ao Décimo Mês (1996)

Ciclo «7 Artistas ao 10.º Mês»

Exposição integrada no ciclo bienal que decorreu entre os anos de 1996 e 2008, organizado pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. O ciclo pretendeu divulgar e reconhecer sete jovens artistas ainda não integrados nos circuitos artísticos e institucionais. Em 1996, a curadoria foi assegurada pelo poeta e crítico de arte João Miguel Fernandes Jorge.
Exhibition included in the biennale series which ran between 1996 and 2008 organised by the José de Azeredo Perdigão Modern Art Centre. The series sought to endorse and promote the work of seven young artists who, at the time, had not yet been represented on the institutional artistic circuit. In 1996, the show was curated by poet and art critic João Miguel Fernandes Jorge.

A exposição «Sete Artistas ao Décimo Mês», também designada «7/10», foi um ciclo expositivo bienal que teve a sua primeira edição em 1996 e decorreu até ao ano de 2008, organizado pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) da Fundação Calouste Gulbenkian.

A intenção dos organizadores da série de exposições, os diretores do CAMJAP Jorge Molder e Rui Sanches, seria inaugurar uma série de mostras convidando para cada uma das edições um curador que concebesse a escolha dos artistas que à data se encontrassem numa fase inicial da sua carreira. O princípio deveria igualmente resistir à tendência de «configurar uma demonstração», e apostar antes num «convite a uma certa dispersão que evitando a constituição de um grupo, ou a demonstração de uma certa eficácia, deixe ver algumas partes soltas, resistindo à tentação de um todo que não se pretende coligir ou exemplificar» (Sete Artistas ao Décimo Mês, 1996, p. 7).

Para a exposição inaugural de 1996, o repto foi aceite pelo poeta e crítico de arte João Miguel Fernandes Jorge, que, a convite do CAMJAP, assegurou a curadoria da exposição. Para isso, o curador identificou os sete jovens artistas, renunciando à necessidade de encontrar afinidades entre eles, baseando-se nos critérios, em primeiro lugar, de qualidade dos próprios trabalhos, e, em segundo lugar, na condição de que qualquer um dos artistas não houvesse ainda participado numa exposição individual até ao momento da sua escolha: «Esta exposição juntou no mesmo espaço institucional sete artistas independentes de qualquer contiguidade. Foi esse, a par da qualidade entre a multiplicidade do que encontrei, o principal fio condutor da minha escolha. Para além de me ter fixado em criadores que não tivessem tido ainda uma exposição individual.» (Ibid., p. 9)

Neste sentido, os sete escolhidos foram os artistas portugueses Alexandre Conefrey (1961), João Humberto Silva (1962), Luís Nobre (1971), Paulo Brighenti (1968), Pedro Gomes (1972), Pedro Paixão (1971) e Sílvia Hestnes Ferreira (1961). Até ao momento da sua seleção, nenhum dos artistas tinha ainda realizado uma exposição individual, o que viria, no entanto, a acontecer pouco depois com Alexandre Conefrey, que teria o seu trabalho exposto na Galeria Alda Cortez, em Lisboa.

A galeria da Fundação utilizada para a apresentação das peças, de acordo com o crítico José Luís Porfírio, «até pelos seus defeitos, adapta-se perfeitamente bem ao proposto, funcionando como uma soma de sete espaços individualmente tratados, nos seus sete alvéolos sucessivos, que evitam, com eficácia, os confrontos físicos tipo Salão» (Porfírio, Expresso, 1 nov. 1996).

A disposição das peças organizou-se de acordo com o seguinte itinerário: Alexandre Conefrey ocupou o primeiro espaço da galeria, com variados desenhos e textos das séries Estelas e Paisagens. Pedro Gomes preencheu o segundo espaço, com oito desenhos da série Habitat. Seguiu-se Paulo Brighenti, com um muro de papéis e desenhos. Uma zona fechada seria ocupada pelos dois vídeos simultâneos de Pedro Paixão, intitulados Desenho no Desenho de A. Dürer e Desenho no Desenho de B. Nauman. O compartimento seguinte deu lugar à artista Sílvia Hestnes Ferreira, que apresentou uma construção com colagens, pinturas, fragmentos de projetos, maquetes, arame, madeira e cartão. O espaço de João Humberto Silva seria ocupado pelas suas três construções em gesso e madeira. E, finalmente, o último compartimento do corredor da galeria esteve reservado a Luís Nobre, que preencheu o local com desenhos de escala enorme, todos representando cabeças de insetos.

Na sequência da exposição do CAMJAP, foram incorporadas na Coleção Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian as obras da série Habitat do artista Pedro Gomes.

A título de programação complementar, foram preparadas três visitas guiadas, conduzidas pela museóloga Joana Sousa Monteiro, que decorreram nos dias 2 e 23 de novembro e 7 dezembro.

O catálogo da exposição inclui um texto introdutório dos comissários da exposição, que explica os objetivos da iniciativa; o texto de João Miguel Fernandes Jorge, com a análise da obra de cada um dos artistas; as biografias dos artistas e as reproduções de algumas das peças.

A exposição chamou a atenção da crítica. A título exemplificativo, recolhemos parte de duas perspetivas críticas, de Ruth Rosengarten e de António Cerveira Pinto, respetivamente:

«[…] esta proposta torna-se interessante na medida em que representa como que um convite ao comissário para funcionar, paradoxalmente, como anticomissário: afinal, o que dá coesão aos trabalhos díspares é a legitimação do seu gosto e não um conceito que tudo abarca e que exige ser ilustrado. O comissário é reinvestido com a autoridade da experiência e da mestria: é o seu "olhar" que justifica o trabalho. Se esta estratégia dificilmente pode ser encarada como ambiciosa enquanto proposta (é, evidentemente, apenas a velha "colectiva" vestida como novas roupagens), serve, no entanto, para corrigir o desequilíbrio existente entre o artista e o comissário, na medida em que permite que o trabalho do artista volte a falar por si. Mais importante: "trava" a tentação, quer de exemplificar quer de adicionar.» (Rosengarten, Visão, 28 nov. 1996)

«Do meu ponto de vista, parece-me absurdo uma instituição pedir a alguém que escolha uma mão-cheia de artistas "ainda não apropriados por uma visão institucional". Que ocorrerá depois? Ou a instituição não presta e as noveis criaturas permanecerão no limbo da prenotariedade; ou então, a instituição presta e o resultado será a apropriação institucional como início de um processo de homologação mais vasto. […] parece-me forçoso concluir que os actuais diretores do CAM pretendem iniciar um processo cíclico de apropriação institucional de jovens criadores dados à arte portuguesa pelas nossas escolas, e que tal processo deverá pautar-se por uma estratégia disciplinar avessa às ideias de unidade e de paradigma, "resistindo à tentação de um todo que não se pretende coligir ou exemplificar". […] Legitimar e ao mesmo tempo censurar os efeitos incontroláveis das dinâmicas criativas esteticamente vertebradas e polémicas, eis o que a sibilina introdução dos responsáveis do CAM ao catálogo de “Sete Artistas ao Décimo Mês” acaba por defender sem o menor rebuço. A instituição poderá subtrair-se à transparência crítica das suas escolhas. Poderá escolher quem quiser. Não pode é pretender que a subjectividade daí decorrente seja mais do que isso.» (Pinto, O Independente, 8 nov. 1996, p. 74)

O ciclo «Sete Artistas ao Décimo Mês» foi reeditado em anos seguintes e sob o mesmo desígnio, respetivamente nos anos de 1999, 2001, 2003, 2005 e 2008.

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Sem título, da série "Habitar"

Pedro Gomes (1972-)

Sem título, da série "Habitar", 1996 / Inv. 96DP1703

Sem título, da série "Habitar"

Pedro Gomes (1972-)

Sem título, da série "Habitar", 1996 / Inv. 96DP1704

Sem título, da série "Habitar"

Pedro Gomes (1972-)

Sem título, da série "Habitar", 1996 / Inv. 96DP1703

Sem título, da série "Habitar"

Pedro Gomes (1972-)

Sem título, da série "Habitar", 1996 / Inv. 96DP1704


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Sete Jovens ao Décimo Mês

nov 1996 – dez 1996
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Periódicos

Lisboa, 31 out 1996


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00359

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, recortes de imprensa, correspondência oficial, documentação sobre a montagem das obras expostas, e o processo de seguros e restauro de obras danificadas de Sílvia Hestnes. 1995 – 1998

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 114983

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1996


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.