Gabriela Albergaria, Leonor Antunes. 51, Avenue d’Iéna

Exposição temporária organizada pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em parceria com o Serviço de Belas-Artes da Fundação Calouste Gulbenkian. A mostra, que contou com a curadoria de Rita Fabiana, apresentou instalações de Gabriela Albergaria (1965) e Leonor Antunes (1972).
Temporary exhibition organised by the Centre Culturel Calouste Gulbenkian in partnership with the Fine Arts Service of the Calouste Gulbenkian Foundation. The show, curated by Rita Fabiana, featured installation works by Gabriel Albergaria (1965) and Leonor Antunes (1972).

«51, Avenue d'Iéna» foi uma exposição organizada pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG), em colaboração com o Serviço de Belas-Artes (SBA) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Inaugurada a 31 de janeiro de 2006, esteve patente ao público até 30 de março de 2006.

A mostra teve a curadoria de Rita Fabiana e apresentou trabalhos das artistas portuguesas Gabriela Albergaria (1965), ex-bolseira da Fundação, e Leonor Antunes (1972), ocupando vários espaços do palacete que outrora foi a morada oficial de Calouste Sarkis Gulbenkian em Paris. As intervenções envolveram o rés-do-chão – nas áreas do hall, do vestíbulo, da escadaria nobre e da sala de espera – e o primeiro andar, onde foram apresentadas instalações no espaço de circulação entre os antigos salões e o grand salon. Foi intuito das artistas e da curadora proporcionar ao público a oportunidade única de circular pela casa, e não apenas pelos espaços de passagem.

O título do projeto remetia para o nome da rua onde se situava o Centre Culturel Calouste Gulbenkian, que assim era invocado de forma neutra e objetiva: «Para que o projecto se afirme num espaço de possibilidades, de exterioridade, para que possa finalmente tornar-se um espaço outro, o título é antes de mais uma informação, uma atribuição de uma identidade topográfica, uma localização na cidade.» (Texto de Rita Fabiana para Maria do Carmo Vasconcellos, 21 nov. 2005, PRS 05363)

Inspiradas pela leitura da obra Espèce d'espaces, de Georges Perec, curadora e artistas quiseram que «51, Avenue d'Iéna» refletisse o espaço dentro do seu contexto, sem perder a sua «qualidade de ser (no) lugar» (Ibid.). Nesse sentido pretendeu-se que o palacete se oferecesse como «o lugar de uma dupla experiência, simultaneamente o espaço de uma apresentação e o objecto que a consubstancia» (Ibid.). Para tal, considerou-se tanto a dimensão arquitetónica do edifício, quanto as suas ocupações, as coleções que abrigou e as vivências dos seus ocupantes, o que resultou em instalações site-specific, cuja metodologia, «ao convocar o corpo e o seu movimento, se inscreve numa prática contemporânea da arte enquanto processo e experiência» (Ibid.). O trabalho explorou ainda a dicotomia de funções deste espaço, abordando a relação entre privado e público, doméstico e expositivo, não pretendendo, no entanto, ilustrar de forma literal nenhuma destas funções.

Ao nível da produção, pretendeu-se que o palacete se tornasse tão despojado e livre de estruturas móveis e temporárias quanto possível: «Para a intervenção das duas artistas portuguesas radicadas em Berlim, foram abertas janelas, desimpedidos corredores, removidos móveis e cortinados e limpas salas até hoje fechadas ao público, mostrando melhor o Palácio construído no fim do século XIX.» («"51, Avenue d'Iéna". Exposição convida à descoberta da Gulbenkian em Paris», Luso Jornal, 9 fev. 2006)

Tendo como ponto de partida o edifício na atualidade, a exposição envolveu uma investigação preliminar à memória do local, recorrendo a fotografias e descrições do palacete no final da década de 1920, época em que se procedeu a uma extensa remodelação com vista à acomodação no local da coleção de arte de Calouste Sarkis Gulbenkian. No espaço expositivo, Gabriela Albergaria incluiu algumas citações do historiador Jean-Luc Bauduin, extraídas de L'Hôtel C. S. Gulbenkian: une demeure parisienne consacrée a l'art (obra de 1984 centrada no palacete da Avenue d’Iéna), com as quais a artista pretendeu ativar a memória do antigo espaço residencial. Um dos efeitos da investigação realizada traduziu-se na redescoberta de objetos que se encontravam esquecidos e que foram colocados nos seus locais originais, como um conjunto de três vasos em ferro que faziam parte de uma fonte construída num jardim interior do palacete. Sendo os jardins locais de eleição para Calouste Sarkis Gulbenkian, Gabriela Albergaria quis evocá-los em Un Jardin à ma façon, peça composta por um palco com terra e um tronco tombado, dispostos à frente de um desenho de uma paisagem ajardinada. Situada no topo da escadaria, num local estratégico de comunicação entre o espaço doméstico e o pátio interior, esta instalação foi posteriormente doada pela artista e incorporada na Coleção Moderna da FCG.

Gabriela Albergaria apresentou igualmente Action de Rassembler: «Printemps, Été, Automne, Hiver», trabalho constituído por quatro caixas de madeira, que transportariam os quatro baixos-relevos de uma série sobre as Quatro Estações de André Brenet, cuja propriedade cabe ao Museu Calouste Gulbenkian e ao Musée d’Art et d’Histoire de Provence. O intuito inicial da artista era que estas duas instituições não só produzissem cópias em gesso dos dois baixos-relevos originais que cada uma possui, mas também que estes se reunissem para a exposição «51, Avenue d'Iéna» e que, finalmente, as cópias produzidas fossem objeto de permuta entre as duas instituições. Esta ideia acabou por não se concretizar, tendo a artista optado por expor as caixas de madeira, que aqui assumiam o duplo significado de dispositivo de transporte e plinto vazio.

O primeiro trabalho de Leonor Antunes, tapete (2006), descrito pela imprensa local como «menos discreto» (Ibid.), localizava-se no início do percurso expositivo e remetia para dois tapetes persas que originalmente se encontravam nesse local. A artista cria uma instalação utilizando cinco tubos em cobre, que remetem para a aparência dos tapetes enrolados quando guardados em depósito nas reservas do Museu Calouste Gulbenkian. A segunda obra apresentada, 55 octaedros (2006), remetia para o padrão do desenho dos tapetes da Coleção, recorrendo a uma composição com pedaços de madeira de balsa, borracha e elásticos, que, ao formarem octaedros, remetiam para o seu padrão (51, Avenue d’Iéna [folha de sala], 2006, Arquivos Gulbenkian, PRS 05363).

A mostra pretendeu marcar o início da nova política do CCCG, orientada para apoiar o trabalho de jovens artistas e as trocas culturais entre Portugal e França. Neste sentido, a divulgação da exposição foi um dos pontos em que o CCCG mais apostou, investindo numa melhor comunicação com jornalistas especializados e com profissionais do setor das artes para chegar a novos públicos. Entre as estratégias adotadas incluiu-se a divulgação da exposição em meios internacionais e de largo alcance, como foi o caso da e-flux, plataforma que faz a comunicação de eventos artísticos de forma regular através de newsletters e na qual a divulgação desta exposição foi divulgada em língua inglesa entre os seus subscritores, como o testemunha o seguinte excerto: «The newly created work of Gabriela Albergaria and Leonor Antunes – installations, actions, sculptures – has the dual aim of embracing at one and the same time both the space – an immense deactivated staging operation – and the art collection that is currently absent from it. The locus of memory thus becomes the site of a special experience opened up by this new occupation.» (Comunicado de imprensa, 16 fev. 2006, Arquivos Gulbenkian, PRS 05363)

A 30 de janeiro, o CCCG deu uma pequena receção, que contou com a presença de Emílio Rui Vilar, presidente do Conselho de Administração da FCG, e que foi registada numa reportagem conduzida pela jornalista da SIC Maria João Guardão.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

un jardin à ma façon (a display)

Gabriela Albergaria (1965-)

un jardin à ma façon (a display), Inv. 11E1637

un jardin à ma façon (a display)

Gabriela Albergaria (1965-)

un jardin à ma façon (a display), Inv. 11E1637


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Gabriela Albergaria e Emílio Rui Vilar
Leonor Antunes (à esq.)
Emílio Rui Vilar (à esq.), Rita Fabiana, Leonor Antunes (ao centro) e Isabel Alçada (segunda, à dir.)
Rita Fabiana, Leonor Antunes (ao centro) e Gabriela Albergaria (à dir.)
Isabel Alçada (à esq.), Rita Fabiana e Gabriela Albergaria (ao centro), Eduardo Ferro Rodrigues (à dir.)
Rita Fabiana (à esq.), Isabel Alçada (centro, esq.), Gabriela Albergaria (centro, dir.), Emílio Rui Vilar (à dir.) e Eduardo Ferro Rodrigues (atrás, centro)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05363

Pasta com documentação referente à produção das exposições. Contém um convite da exposição de Ruth Rosengarten. Contém convites, correspondência interna e externa, orçamentos, faturas, material fotográfico (inauguração), texto das tabelas, recortes de imprensa e clipping, material fotográfico (aspetos) e folhas de sala, referentes à exposição de Gabriela Albergaria e Leonor Antunes. 2005 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25177

Pasta com convite da exposição. 2006 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05363

Álbum com coleção fotográfica, cor: aspetos e inauguração (CCCG, Paris) 2006


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