Ricardo Jacinto. Les Voisins

Exposição temporária de trabalhos de Ricardo Jacinto (1975), organizada pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian em colaboração com o Serviço de Belas-Artes da Fundação Calouste Gulbenkian e com curadoria de Rita Fabiana. Por ocasião da inauguração, foi dado um pequeno concerto pelo projeto Cacto, constituído por Ricardo Jacinto e Nuno Torres.
Temporary exhibition of works by Ricardo Jacinto (1975) organised by the Centre Culturel Calouste Gulbenkian in collaboration with the Fine Arts Service of the Calouste Gulbenkian Foundation and curated by Rita Fabiana. A small concert by Cacto (Ricardo Jacinto and Nuno Torres) was organised for the show’s opening.

Les Voisins foi uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) que apresentou, de 11 de junho a 20 de agosto de 2006, trabalhos do artista português Ricardo Jacinto (1975). A exposição, organizada pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG), em colaboração com o Serviço de Belas-Artes da FCG, com curadoria de Rita Fabiana, surgiu no seguimento da exposição «Gabriela Albergaria, Leonor Antunes. 51, Avenue d'Iéna».

Tendo como pretexto o início da nova política do CCCG, centrada em apoiar a criação artística mais recente e as relações culturais estabelecidas entre França e Portugal, esta exposição resultou da reflexão do artista e da curadora sobre o espaço da antiga residência de Calouste Sarkis Gulbenkian, tratado como objeto per se (e não apenas enquanto medium para a apresentação de outros objetos) e como local de memórias. Estas premissas mantiveram-se no projeto conceptual de Les Voisins, aliadas a uma abordagem da dicotomia interior/exterior.

Ricardo Jacinto propôs uma leitura do espaço que permitisse a circulação do público pelas várias divisões do antigo palacete, transpondo posteriormente este conceito para outros espaços expositivos, como a Culturgest (delegação do Porto), em 2008, e o Museu de Serralves, em 2009. A instalação Les Voisins inseriu-se numa lógica artística de site-specific, não limitada pelas condições espaciais e físicas, mas antes partindo de cada arquitetura para se inserir nela. Cada espaço é entendido como um lugar fundador de relações temporais, espaciais e sociais, o que explica as diferentes características que cada instalação da exposição assumiu.

Segundo Rita Fabiana, a exposição partiu da ideia de fratura, remetendo simultaneamente para o espaço doméstico e para a relação deste com o exterior e para a distinção entre circuito público e privado. Tal como o título sugere, em Les Voisins a figura dos vizinhos assumia-se como um elemento do exterior que não se encontrava presente no espaço doméstico, mas que interferia no dia-a-dia através do som: «Esse outro que nos é familiar ainda que estranho, próximo mas apartado por muros que deixam passar fragmentos de vivências (narrativas), toma corpo em sons eruptivos, descontínuos, desfasados, (in)desejáveis. Ainda que a condição primeira de vizinhança seja a partilha de um espaço comum, esse outro constitui-se em nós como um acontecimento sonoro. A vizinhança apresenta-se assim como uma comunidade de ouvintes reunidos no lugar virtual dos sons e das sensações sem retorno, do aleatório, das associações livres.» (Fabiana, «Les Voisins», 2006)

Apesar de invisível e imaterial, o som passou a ser o principal residente da casa, invadindo o espaço e conduzindo os visitantes num percurso de sensações sonoras, fruto de uma prática artística mediadora da natureza dos espaços: «A natureza escultórica deste trabalho é inegável, mas as suas características fazem desta exposição um momento especial no trabalho deste artista, porque aqui Ricardo Jacinto consegue uma boa síntese dos problemas com que nos últimos tempos se tem ocupado.» (Crespo, Público, 24 jun. 2006, p. 16)

A metamorfose do espaço, imerso, segundo Nuno Crespo, num ambiente de mistério e enigma, provocava no público um sentimento de algo por cumprir. Os elementos expostos, distribuídos pelas várias divisões, contribuíam para esta sensação, em três instalações: Espanta-espíritos, um objeto musical de quatro metros de altura, constituído por 24 tubos de alumínio e uma estrutura de ferro, construído nas oficinas da FCG, e que, suspenso sobre o início da escadaria nobre, podia ser manipulado pelo público; Projétil, de dois painéis de vidro temperado e 12 tubos de alumínio, apresentado no vestíbulo e à frente do qual estava colocado um sistema de proteção para que o público não se aproximasse demasiado; e Medusa, um trabalho constituído por um sistema de vídeo com 10 câmaras de vigilância – espalhadas pelo chão, pelas colunas e pelo teto do vestíbulo – e por uma câmara num local de acesso privado do palacete, onde tiveram lugar as performances musicais.

O som foi o principal elemento desta instalação, estando também presente ao nível da performance/concerto que o projeto colaborativo entre Ricardo Jacinto e Nuno Torres, Cacto, realizou por ocasião da inauguração da exposição e, no dia anterior, a 10 de junho de 2006, no cocktail organizado em jeito de celebração da presença portuguesa em Paris nesses dias. Outro evento a sublinhou: a mostra «En Voyage», projeto que reuniu o trabalho de sete artistas portugueses – Rui Calçada Bastos, Carlos Bunga, Nuno Cera, Ana Jotta, Jorge Queiroz, Carlos Roque e Noé Sendas –, apresentado na galeria Le Plateau, em Paris.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Concerto

[Ricardo Jacinto. Les Voisins]

10 jun 2006 – 11 jun 2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Delegação em França – Centre Culturel Calouste Gulbenkian
Paris, França

Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05365

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, material de divulgação, correspondência interna e externa, orçamentos e faturas, apólices de seguro e recortes de imprensa. 2005 – 2007

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21123

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, orçamentos e faturas, plantas do Centre Culturel Calouste Gulbenkian, folhas de sala, maquetes dos convites, material para o catálogo da exposição, intitulado «En Voyage», organizada pela galeria Le Plateau (Île-de-France). 2006 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / PRS 05624

Pasta com documentação referente à divulgação das exposições organizadas no Centre Culturel Calouste Gulbenkian. Contém convites, postais, folhas de sala 2003 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25179

Pasta com documentação referente à divulgação das exposições «Les Voisins» e «En Voyage», organizadas em parceria com a galeria Le Plateau (Île-de-France). 2006 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / CDVD 0230

Coleção fotográfica, cor: aspetos e montagem (CCCG, Paris) 2006


Exposições Relacionadas

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