Bernardo Marques. 1898 – 1998: Obra Gráfica

Exposição individual comemorativa do centenário do nascimento do artista gráfico Bernardo Marques (1898-1962), organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. Apresentando apenas a obra gráfica de Bernardo Marques, a mostra acompanhou e serviu de complemento à exposição antológica realizada no Museu do Chiado.
Individual commemorative exhibition on the centenary of the birth of graphic artist Bernardo Marques (1898-1962) organised by the José de Azeredo Perdigão Modern Art Centre. The show solely featured Marques’s graphic work, complementing a parallel retrospective exhibition held at the Museu do Chiado.

A exposição «Bernardo Marques. 1898-1998: Obra Gráfica» esteve patente de 26 de novembro de 1998 a 10 de janeiro de 1999 na Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP). Com organização do CAMJAP, e comissariada por Maria Helena de Freitas, a mostra comemorou o centenário do nascimento de Bernardo Marques (1989-1962). Embora autónoma, acompanhou e serviu de complemento à exposição dedicada à obra de Bernardo Marques realizada pelo Museu do Chiado e patente na Sala dos Fornos, comissariada por Marina Bairrão Ruivo.

A ligação entre Bernardo Marques e a Fundação Calouste Gulbenkian é regular e de longa data, não só pela colaboração ativa que existiu entre o artista gráfico e a Fundação, mas também pela frequência com que esta lhe dedicou exposições ao longo do tempo, como foi o caso de «Bernardo Marques. Obras de 1950 a 1960» (1966), «Bernardo Marques. Desenho e Ilustração, Anos 20 e 30» (1982) ou «Bernardo Marques» (1989), para referir apenas algumas.

O catálogo da exposição resultou do trabalho do Departamento de Documentação e Pesquisa do CAMJAP, em especial da investigação levada a cabo por Jorge Resende e Constança Rosa, e contém uma antologia de textos dedicados à obra de Bernardo Marques retirados da Seara Nova e da Colóquio. Revista de Artes e Letras, com a qual o artista colaborou enquanto diretor gráfico.

Como lembrou Paulo Ferreira na entrevista que deu a Helena de Freitas para o catálogo da exposição, o trabalho gráfico de Bernardo Marques não pode ser entendido como algo à parte da sua restante obra, na medida que lhe é transversal. Com esta entrevista, a comissária da exposição pretendeu «trazer um pouco da vida desse tempo, através do testemunho directo de alguém que, tão próximo de Bernardo, também o atravessou» (Bernardo Marques. 1898-1998: Obra gráfica, 1998, p. 5). Assim, durante a entrevista, Paulo Ferreira explica como conheceu Bernardo Marques, referindo-se ao trabalho que desenvolveram em conjunto nas artes gráficas.

Também o texto de António Rodrigues faz uma análise sobre a carreira de Bernardo Marques nas artes gráficas, «não por vocação, nem opção, antes por circunstância das poucas possibilidades do meio artístico nacional», e sobre as influências sentidas no seu trabalho (Ibid., p. 15).

A exposição permitiu acompanhar os quarenta anos da carreira do artista gráfico, desde a sua formação nos anos 20, altura em que começou a produzir capas de publicações, refletindo a mudança de sensibilidade e gosto que a passagem das décadas atribuiu aos seus desenhos, influenciados por figuras de relevo nas artes gráficas, como Fred Kradolfer, com quem trabalhou durante algum tempo, ou no âmbito da caricatura social e do expressionismo alemão, como Grosz.

Assim, nos anos 20, as ilustrações de Bernardo Marques são reveladoras de uma adesão ao gosto gráfico europeu, síntese de um minimalismo de linhas e cores intensas, presentes nas publicações de António Ferro, nas capas da revista Civilização e em publicidades aos mosaicos da SCIAL e às bolachas Nacional. É um período de grande produtividade gráfica daquele que é, segundo António Rodrigues, «o melhor grafismo moderno feito em Portugal» (Ibid., p. 16).

Os anos seguintes constituem um período dedicado a ilustrações de caráter mais plástico, como as da revista Imagem, do álbum publicitário para o pó-de-arroz Worth e para publicações como La Dernière des Amazones, de Georges Readers, continuando, no entanto, uma linha de grafismo estilizado, durante a década de 1940, nas publicações do SPN/SNI, à qual aplicou uma imagética associada à cultura popular portuguesa, presente através de figuras simbólicas como a varina.

Dando continuidade ao estilo imagético produzido na década anterior, embora com alguns momentos de experimentalismo pictórico, os anos 50 são marcados pela colaboração com a Guimarães Editores e a Livros do Brasil. Finalmente, nos últimos anos da produção gráfica de Bernardo Marques, existe uma melancolia latente nas capas que ilustrou e que resulta da falta de tempo do artista para se dedicar à pintura em prol do trabalho gráfico.

Durante a exposição, foi emitida uma banda sonora com músicas dos anos 20 aos anos 50, cedidas pela Fonoteca do Serviço de Música da FCG. No âmbito de ambas as exposições dedicadas à obra de Bernardo Marques, foi realizada uma mesa-redonda no Museu do Chiado, a 25 de novembro de 1998, que reuniu Marina Bairrão Ruivo, José-Augusto França, Maria Helena de Freitas e Raquel Henriques da Silva.

A divulgação da exposição pela imprensa portuguesa destacou o caráter inédito de muitas das obras selecionadas, como no artigo da revista Tempo Livre, e elogiou a montagem, como na crítica do jornal Público, tanto pela sala escolhida, que «privilegia os pequenos formatos e as características utilitárias de quase todas as peças presentes», como pela ordenação não cronológica das peças, que «privilegia diálogos entre diferentes obras, relaciona suportes, modos de expressão, objetivos» (Oliveira, Público, 3 dez. 1998).

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Mesa-redonda / Debate / Conversa

Bernardo Marques (1898 – 1962)

25 nov 1998
Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00409

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, apólices de seguro, lista de obras, lista de convidados, correspondência interna e externa, formulários de empréstimo de obras e recortes de imprensa. 1997 – 1999

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM-S005/01/01-P0222-D02861

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1998

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM-S005/01/01-P0222-D02862

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1998


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