Exposição retrospetiva da obra gráfica e pictórica de Bernardo Marques (1898-1962), a qual contou com o especial apoio de Maria Elisa Marques, viúva do artista, que emprestou a maioria das obras expostas.

Esta mostra surgia como a terceira grande aparição pública da obra de Bernardo Marques, artista que evitou sempre expor o seu trabalho individualmente. No seu texto para o catálogo, José Sommer Ribeiro conta: «Só após a sua morte é que se começou a ter uma ideia da enorme quantidade de trabalhos que este artista realizou e nunca tinham sido apresentados. Assim, em 1966, a Fundação Calouste Gulbenkian apresenta obras dos anos 50 a 60, e em 69, a Secretaria de Estado de Informação e Turismo organiza uma exposição retrospectiva.» (Bernardo Marques, 1989)

Comissariada por José Sommer Ribeiro e Maria Helena de Freitas, a mostra desdobrava-se em vários núcleos temáticos, não obedecendo a uma rigorosa ordem cronológica. Através das obras selecionadas é possível compreender alguns dos seus propósitos: apresentar uma visão global do percurso de Bernardo Marques; mostrar como o desenho era para o artista uma prática quotidiana, forma de reflexão e expressão que o acompanha em diferentes momentos; dar a conhecer alguns trabalhos menos conhecidos, como os seus desenhos expressionistas e surrealizantes do final da década de 1930.

O primeiro núcleo era dedicado aos trabalhos realizados durante os anos 20, e reunia uma série de guaches e desenhos a tinta-da-china retratando diferentes classes sociais e as suas atividades, com uma liberdade gráfica que viria a caracterizar a obra de Bernardo Marques, marcada pelo constante experimentalismo.

A vasta produção dedicada à cidade moderna e suas personagens foi reunida num outro núcleo e agrupada segundo afinidades de estilo. Um extenso «inventário de poses e de atitudes», segundo as palavras de Maria Helena de Freitas, captava o grotesco de muitas cenas e personagens: os bailados de São Carlos, as termas e a aristocracia, a prostituição, os académicos e os turistas (Bernardo Marques, 1989). Foram igualmente expostos alguns apontamentos, registos rápidos de ambientes característicos das cidades de Paris, Berlim e Nova Iorque, que denotam a observação cuidada e o olhar perspicaz de Bernardo Marques aquando das suas viagens. Uma vez que estes trabalhos não foram feitos com o intuito de serem expostos, os comissários optaram por apresentá-los numa secção autónoma.

Uma última secção mostrava o afastamento do artista da crítica social, da caricatura da vida moderna, através de trabalhos com temáticas distintas, mas longe do universo que até então marcara a sua produção artística: alguns são inspirados na literatura, outros baseados no seu ambiente de trabalho e na cidade, e ainda uma série de paisagens nas quais a presença humana é inexistente. Fernando de Azevedo reflete sobre esta última fase no texto que escreve para o catálogo, concluindo: «Estas obras de Bernardo Marques, as finais, mostram-nos, principalmente a serenidade que à solidão apetece. Apontam-nos alguém que já vai longe, que se vai afastando, mas que deixa organizada, para espanto dos outros, a sua visão da beleza e simplicidade do mundo.» (Bernardo Marques, 1989)

Depois de apresentada na Galeria do piso 1 do Centro de Arte Moderna, esta exposição viajou até à Casa de Serralves, no Porto, onde esteve patente entre 13 de outubro e 5 de novembro de 1989.

Grande parte das obras expostas, então pertencentes à coleção de Maria Elisa Marques, foram por esta doadas em 2006 ao Centro de Arte Moderna, integrando atualmente a sua coleção.

Mariana Roquette Teixeira, 2018