Exposição organizada em parceria pelo Centro de Arte Moderna e pelo Centro de Arte de Ovar, com curadoria de Ana Vasconcelos e Patrícia Rosas. Reuniu um conjunto de 40 obras pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna (CAM), abordando o tema do palco: «Lugar da representação, [que] dá a ver, ilumina, expõe, traz à ribalta […]. Do palco, o artista encara e esquece o público, absorto na sua atuação. No palco ouvem-se os risos, as palmas, os insultos, as vaias.» (O Palco na Coleção do CAM, 2014, p. 4)

Apresentada, num primeiro momento, na Fundação Calouste Gulbenkian em 2013, por ocasião do 30.º aniversário da abertura do CAM, esta mostra nasceu de uma parceria de três anos entre a FCG e a Câmara Municipal de Ovar, visando mostrar obras do acervo do Centro de Arte Moderna em exposições organizadas no Centro de Arte de Ovar.

Depois da realização em Lisboa, no Centro de Arte Moderna, a exposição «O Palco na Coleção do CAM» foi apresentada na Galeria de Exposições Temporárias do Centro de Arte de Ovar, entre março e junho de 2014, e incluiu pinturas, desenhos e gravuras de um conjunto de artistas, entre os quais Bernardo Marques (1898-1962), Jorge Barradas (1894-1971), Mário Eloy (1900-1951) e José Pacheko (1885-1934).

Como complemento à mostra, o CAM publicou um caderno de exposição com a reprodução de algumas das obras expostas e com um texto de uma das curadoras responsáveis, Ana Vasconcelos.

A seleção das obras surgiu a partir do sentido «mais clássico de palco, como o lugar onde se atua, alargando-o em seguida, de modo a incluir diferentes imagens do mundo do espetáculo, desde a música, ao circo, aos bastidores, chegando até ao público nos camarotes ou misturado com os artistas», explicou Ana Vasconcelos. A curadora do CAM sublinhou a diferença entre o público do teatro e o do circo: enquanto o primeiro se destacava pelo espírito conservador, pelos luxuosos camarotes em ambiente de festa ou pelo uso do típico smoking, o segundo parecia revestir-se de um caráter «antiburguês, nómada, libertário, representando na arena os divertidos e arriscados números de amazonas, arlequins, palhaços e domadores» (O Palco na Coleção do CAM, 2014, p. 6).

Entre as obras expostas, contam-se desenhos de Querubim Lapa (1925-2016) com representações do circo; os cenários criados por Sá Nogueira (1921-2002) para a peça de teatro Johnson over Jordan, de J. B. Priestley; as representações de José Pacheko dos figurinos da escola de Isadora Duncan; duas aguarelas de Bernardo Marques, de 1922 e 1929, «num tempo em que as pateadas ainda se ouviam no S. Carlos, habituais entre um público blasé e coscuvilheiro, que ia à ópera para se mostrar e ser visto, e para conhecer as últimas aves canoras de arribação»; ou o malabarista da escada, representado num desenho de Roberto Nobre (1903-1969), que «desafia as leis da gravidade, liberto do palco, e arriscando a cabeça entre as nuvens» (Ibid.).

Joana Atalaia, 2019