A Educação do Príncipe. Obras-primas da Colecção do Museu Aga Khan

Exposição itinerante de obras de arte islâmica pertencentes à Coleção do Museu Aga Khan, organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo Aga Khan Trust for Culture. A mostra apresentou diversas peças artísticas (cerâmicas, vidros, metais, têxteis, arte do livro, etc.), que deram a conhecer o percurso educativo dos príncipes na cultura islâmica.
Travelling exhibition of Islamic artworks belonging to the Collection of the Aga Khan Museum organised by the Calouste Gulbenkain Foundation and the Aga Khan Trust for Culture. The show included diverse artistic pieces (ceramics, glasswork, metalwork, textiles, book art, etc.) in a display which traced the educational trajectory of the princes of Islamic culture.

Exposição que trouxe ao Museu Calouste Gulbenkian (MCG) um amplo conjunto de peças de arte islâmica, atualmente pertencentes ao acervo do Museu Aga Khan, projeto museológico que se encontrava então em construção. A mostra foi organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e pelo Aga Khan Trust for Culture (AKTC), na Galeria de Exposições Temporárias do MCG, entre 13 de março e 6 de julho de 2008, sob o alto patrocínio do presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, e do príncipe Karim al-Husayni, Aga Khan.

Com o título «A Educação do Príncipe. Obras-primas da Colecção do Museu Aga Khan», a exposição reuniu mais de uma centena de peças, que abrangeram cerca de mil anos de história (do século IX ao século XIX), e uma vasta área geográfica que vai desde a Península Ibérica até ao Extremo Oriente. Através de têxteis, joias, cerâmicas, arte do vidro, trabalhos em madeira, metais, arte do livro, miniaturas, manuscritos, entre outros, o público teve a oportunidade de presenciar algumas das mais importantes peças de arte islâmica pertencentes à coleção privada do Aga Khan, posteriormente depositada no Museu Aga Khan, em Toronto, aquando da sua fundação em 2014.

No âmbito desta exposição, a FCG é referida enquanto uma das instituições que foram estudadas para a criação do novo Museu Aga Khan. Ao visitar a FCG em 1983, o Aga Khan ficou deveras impressionado com o projeto, apercebendo-se do «potencial de uma instituição, que integra um museu, em termos de educação e de abrangência das suas actividades». A Fundação terá servido, inclusivamente, como um «modelo» para o Museu Aga Khan, pela «forma como a apresentação de obras de arte permite despertar uma consciência das afinidades que se encontram no centro da diversidade e do pluralismo cultural» (A Educação do Príncipe. Obras-primas da Colecção do Museu Aga Khan, 2008, p. 11).

A criação do Museu Aga Khan partiu da iniciativa do AKTC, que elegeu como objetivos principais contribuir «para a educação no campo das artes e da cultura em geral» e «oferecer uma abordagem única e novas perspectivas sobre as civilizações islâmicas e revelar os laços culturais que ao longo da História nos unem a todos» (Texto do príncipe Karim al-Husayni, Aga Khan, 2008, Arquivos Gulbenkian, MCG 03614). Projetado pelo consagrado arquiteto japonês Fumihiko Maki, o edifício museológico alberga hoje as coleções privadas do Aga Khan, do Institute of Ismaili Studies em Londres, e do príncipe Sadruddin Aga Khan (A Educação do Príncipe…, 2008). O AKTC faz parte do Aga Khan Development Network (AKDN), uma instituição privada e internacional que trabalha com o principal objetivo de melhorar as condições de vida e de providenciar oportunidades a populações mais desfavorecidas. O AKDN conta com várias organizações – dedicadas à saúde, arquitetura, educação, entre outras – e coordena todas as atividades culturais, incluindo o Museu Aga Khan e o Prémio Aga Khan de Arquitetura.

«A Educação do Príncipe. Obras-primas da Colecção do Museu Aga Khan» distribuiu-se por dois núcleos principais, que foram depois subdivididos. O primeiro núcleo, «A Palavra de Deus», anunciou-se com a apresentação de manuscritos e fólios do Alcorão, o livro sagrado do islão, importante para o ensino ético e religioso dos príncipes. Este núcleo apresentou diversos suportes em que surgiam passagens do texto sagrado, como por exemplo «um prato de porcelana da China, um friso de azulejos, uma trave de madeira, uma placa de aço, uma concha de madrepérola, e até uma folha de castanheiro» (Vieira, Artes & Leilões, jun. 2008).

Tendo em conta o predomínio da arte do livro, a mostra dedicou-se também à caligrafia. Para Maria Queiroz Ribeiro, conservadora responsável pela coleção de arte islâmica do MCG, a caligrafia constitui um «elemento primordial da decoração que percorre toda a arte islâmica» (Vieira, Artes & Leilões, jun. 2008, p. 14).

O segundo núcleo, «O Poder do Soberano», apresentou objetos ligados a importantes cortes do mundo islâmico (Fatímidas, Otomanos, Safávidas, Qajars e Mogóis), desde «delicadas jóias em filigrana de ouro dos Fatímidas às requintadas peças lacadas dos Qajars». As obras expostas neste segmento da exposição ilustraram «o ensino da escrita, a aprendizagem da arte equestre e da caça, da música e da literatura» (Robalo, Expresso, 12 abr. 2008).

Ainda no âmbito do segundo núcleo, a mostra apresentava o subnúcleo intitulado «Na Senda dos Príncipes», com objetos representativos da educação e do conhecimento das cortes muçulmanas, destacando o «elevado nível de desenvolvimento na Matemática, na Astronomia e na Medicina» (A Educação do Príncipe…, 2008).

A apresentação desta exposição itinerante no MCG pôs em diálogo duas notáveis coleções de arte oriental: a coleção do príncipe Aga Khan e a de Calouste Sarkis Gulbenkian. De acordo com a opinião da comissária Maria Queiroz Ribeiro, as obras da Coleção Aga Khan complementaram, em perfeita harmonia, as peças da Coleção Gulbenkian, apesar de os dois acervos terem sido reunidos com propósitos díspares (Vieira, Artes & Leilões, jun. 2008, p. 13). «Enquanto Calouste Gulbenkian reuniu a sua colecção movido sobretudo pelo seu interesse e gosto pessoal, a Colecção Aga Khan é mais objectiva, revelando uma preocupação de dar uma visão abrangente da cultura islâmica», explicou Maria Queiroz Ribeiro, referindo ainda que esta exposição foi particularmente interessante «pela variedade de materiais e suportes que apresenta e pela diversidade de épocas que retrata» (Ibid.).

Antes de ter sido apresentada em Lisboa, a mostra esteve patente no Palazzo della Pilotta, em Parma, em março de 2007, seguindo, no mesmo ano, para o Institute of Ismaili Studies, em Londres, e para o Musée du Louvre, em Paris. Durante os dois anos seguintes, a exposição viajou para Toledo, Berlim, Moscovo e São Petersburgo (Ibid.).

O catálogo – editado pela FCG, em conjunto com o Aga Khan Trust for Culture (AKTC) – conta com apresentações do presidente da FCG, Emílio Rui Vilar, do diretor do MCG, João Castel-Branco Pereira, e do príncipe Aga Khan. Apresenta diversos ensaios de especialistas ligados à arte e cultura islâmica, como Sheila Canby, conservadora das coleções islâmicas do British Museum de Londres, ou Azim Nanji, diretor do já referido Institute of Ismaili Studies, igualmente localizado em Londres. A publicação apresenta ainda uma extensa cronologia, um glossário e um quadro cronológico com as principais dinastias do mundo islâmico.

Paralelamente à mostra, a FCG organizou um ciclo de conferências que apresentaram diversos temas ligados à arte e cultura islâmica (Programa de conferências, 2008, Arquivos Gulbenkian, MCG 03614). Foi também realizada uma cerimónia de entrega do Prémio Aga Khan de Arquitetura, criado há mais de trinta anos, que distingue «criações arquitectónicas contemporâneas de relevo assim como projectos inovadores que apresentem soluções para os problemas do meio construído nas sociedades muçulmanas» (A Educação do Príncipe…, 2008).

Coincidindo com uma época de grande tensão entre o mundo muçulmano e o Ocidente, a apresentação das coleções Aga Khan em Lisboa (que contou com um total de 30 000 visitantes até à data de encerramento) constituiu-se como «um convite para uma visita ao futuro museu a instalar em Toronto no seu enquadramento arquitectónico final» e pretendeu, por outro lado, promover a relação e o conhecimento entre estas duas realidades com o intuito de evitar «não um confronto de civilizações, mas sim a ignorância de ambas as partes» (Ibid., p. 9).

Joana Atalaia, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Ciclo de conferências

[A Educação do Príncipe. Obras-primas da Colecção do Museu Aga Khan]

5 mai 2008 – 26 mai 2008
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Ciclo de conferências

Prémio Aga Khan de Arquitectura

8 mai 2008
Fundação Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Conferência «Rotas comerciais e inovação nas artes islâmicas», proferida por Jessica Hallet
Conferência «Rotas comerciais e inovação nas artes islâmicas», proferida por Jessica Hallet
Conferência de imprensa. Maria Queiroz Ribeiro (ao centro)
Conferência «A águia bicéfala: insígnia do sultão?», proferida por Nasser Rabbat
Conferência «A Águia Bicéfala. Insígnia do sultão?», proferida por Nasser Rabbat
Visita oficial dos Reis da Suécia à Fundação Calouste Gulbenkian. Emílio Rui Vilar e Reis da Suécia (Sílvia e Carl XVI Gustav)
Conferência «Pluralismo e diversidade: expressões do Islão no mundo de hoje», proferida por Azim Nanji
Visita oficial dos Reis da Suécia à Fundação Calouste Gulbenkian. João Castel-Branco Pereira, Maria Queiroz Ribeiro e Reis da Suécia (Sílvia e Carl XVI Gustav)
Conferência «Pluralismo e diversidade: expressões do Islão no mundo de hoje», proferida por Azim Nanji
Visita oficial dos Reis da Suécia (Sílvia e Carl XVI Gustav) à Fundação Calouste Gulbenkian
Conferência «Reconciliando conservação e desenvolvimento: o Programa Aga Khan para as Cidades Históricas», proferida por Stefano Bianca. Nuno Vassalo e Silva
Visita oficial dos Reis da Suécia à Fundação Calouste Gulbenkian. Emílio Rui Vilar e Reis da Suécia (Sílvia e Carl XVI Gustav)
Conferência «Reconciliando conservação e desenvolvimento: o Programa Aga Khan para as Cidades Históricas», proferida por Stefano Bianca
Visita oficial de Maria Cavaco Silva. Emílio Rui Vilar e Maria Cavaco Silva
Conferência «As colecções de arte islâmica do Museu Aga Khan e do Museu Calouste Gulbenkian: convergências e complementaridades», proferida por Maria Fernanda Passos Leite, Maria Queiroz Ribeiro e Ladan Akbarnia (da esq. para a dir.)
Visita oficial de Maria Cavaco Silva. Emílio Rui Vilar, Maria Cavaco Silva e Maria Fernanda Passos Leite
Conferência «As colecções de arte islâmica do Museu Aga Khan e do Museu Calouste Gulbenkian: convergências e complementaridades», proferida por Maria Fernanda Passos Leite, Maria Queiroz Ribeiro e Ladan Akbarnia (da esq. para a dir.)
Visita oficial de Maria Cavaco Silva. Emílio Rui Vilar, Maria Cavaco Silva, Maria Fernanda Passos Leite e João Castel-Branco Pereira
Visita oficial de Maria Cavaco Silva. Maria Cavaco Silva e Maria Fernanda Passos Leite
Visita oficial de Maria Cavaco Silva. Maria Cavaco Silva e Emílio Rui Vilar
Visita oficial de Maria Cavaco Silva. Maria Cavaco Silva e Maria Fernanda Passos Leite
Visita de D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa. D. José Policarpo, Emílio Rui Vilar, Nuno Vassalo e Silva e Maria Fernanda Passos Leite
Visita de D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa. D. José Policarpo, Nuno Vassalo e Silva e Maria Fernanda Passos Leite
Visita de D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa. D. José Policarpo, Nuno Vassalo e Silva e Maria Fernanda Passos Leite
Visita de D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa. D. José Policarpo, Nuno Vassalo e Silva e Maria Fernanda Passos Leite
Conferência de imprensa. Maria Queiroz Ribeiro (ao centro)
Conferência de imprensa. Luis Monreal
Conferência de imprensa. João Castel-Branco Pereira
Prémio Aga Khan de Arquitectura. Farrokh Derakhshani e Emílio Rui Vilar
Prémio Aga Khan de Arquitectura. Nasser Rabbat, Bartolomeu Costa Cabral e Fernando Varanda
Prémio Aga Khan de Arquitectura. Paulo Providência, Mariana Correia e Fernando Varanda
Prémio Aga Khan de Arquitectura. Gonçalo Byrne, Vasco Costa e Nasser Rabbat
Prémio Aga Khan de Arquitectura. Farrokh Derakhshani, Nasser Rabbat, José Gil e Fernando Varanda
Conferência de imprensa. João Castel-Branco Pereira e Luis Monreal
Hussain Aga Khan, Amyn Aga Khan, Emílio Rui Vilar e Khaliya Aga Khan
Luis Monreal, Amyn Aga Khan e Emílio Rui Vilar (da esq. para a dir.)
Emílio Rui Vilar
Amyn Aga Khan e Emílio Rui Vilar
Mário Soares, Emílio Rui Vilar e Amyn Aga Khan
Emílio Rui Vilar e Amyn Aga Khan
Amyn Aga Khan,Luis Monreal, Emílio Rui Vilar, Maria Queiroz Ribeiro e Benoît Junod
Amyn Aga Khan, Emílio Rui Vilar, José Pinto Ribeiro, Jorge Sampaio e Luis Monreal
Teresa Gouveia e Amyn Aga Khan
Emílio Rui Vilar, Amyn Aga Khan, José Pinto Ribeiro e Jorge Barreto Xavier
Amyn Aga Khan e João Castel-Branco Pereira

Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03572

Pasta com documentação referente à produção de exposição. Contém plano preparatório da distribuição de peças para a exposição. 2008 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Presidência), Lisboa / PRES 02229

Pasta com a transcrição dos discursos proferidos ao longo do ano de 2008. Contém o discurso do presidente da FCG no dia da inauguração da exposição; convite. 2008 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Presidência), Lisboa / PRES 02230

Pasta com materiais de divulgação e transcrição dos textos dos discursos proferidos ao longo do ano de 2008. Contém programa de conferências relativo à entrega do Prémio Aga Khan de Arquitetura. 2008 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03614

Pasta com documentação referente à produção de exposição. Contém recortes de imprensa, informações sobre os visitantes, informações sobre as iniciativas do Aga Khan Trust for Culture (AKTC), correspondência de caráter organizativo do catálogo, exposição, museografia, conferências e regresso das peças. 2007 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03422

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém material de divulgação e recortes de imprensa. 1994 – 2008


Exposições Relacionadas

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