Seis Décadas de Arte Moderna Brasileira. Colecção Roberto Marinho

Integrando peças de 34 artistas, esta mostra de obras da Coleção Roberto Marinho permitiu perceber a complexidade do Modernismo no Brasil, fenómeno com múltiplas facetas histórico-culturais. Roberto Marinho era então presidente do grupo O Globo, Empresa Jornalística Brasileira, o que intensificou a divulgação na comunicação social de ambos os países.
Exhibition of artworks by 34 artists from the Roberto Marinho Collection, comprising an exploration of the historical and cultural intricacies of the Brazilian Modernist movement. The involvement of Roberto Marinho, then-president of the Brazilian broadcasting group O Globo, resulted in generous media coverage of the show in both countries.

A Coleção Roberto Marinho é uma referência para a arte moderna surgida em contexto brasileiro. Em 1989, «Seis Décadas de Arte Brasileira. Coleção Roberto Marinho» trouxe a Lisboa um acervo de 128 obras de destacados modernistas brasileiros, bem como de artistas de outras nacionalidades que tiveram no Brasil uma etapa do seu percurso.

Ao longo do século XX, a Arte Moderna no Brasil fez-se, de facto, dessa confluência sincrética de culturas, uma característica que a exposição espelhou extensivamente, num arco temporal que ia da década 30 à de 80. Os seus sete núcleos partiam de secções autorais dedicadas a Pancetti (1902-1958), Di Cavalcanti (1897-1976), Grignard (1896-1962) e Portinari (1903-1962), seguindo para contextualizações temáticas em que a emigração no contexto da Segunda Guerra Mundial surge como um fator saliente. Mereceu destaque a pintora de origem portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), exilada no Brasil de 1940 a 1946, que figurou com cinco telas no último núcleo da exposição. De referir também os diversos artistas de origem japonesa que, nos anos 50, tiveram um papel fundamental no campo da abstração. Estiveram também representados vários pintores provenientes de Itália e do Leste Europeu, que, a partir do Brasil, protagonizaram enraizamentos muito específicos de correntes da vanguarda ocidental no contexto sul-americano.

Organizada pelo Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e pela Fundação Roberto Marinho (FRM), «Seis décadas de Arte Brasileira» inauguraria na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 0) a 24 de fevereiro de 1989. Era a terceira etapa de uma itinerância internacional que começara no Brasil, em 1985, no Paço Imperial (Rio de Janeiro), tendo passado, em 1987, pelo Museo Nacional de Bellas Artes de Buenos Aires, Argentina.

Nas três ocasiões, Max Perlingeiro (Acervo-Galeria de Arte e Pinakotheke Cultural) assina a curadoria, assistido por Maria Auxiliadora Silveira Laport. Ambos eram membros do Conselho Curador do projeto Coleção Roberto Marinho, e Perlingeiro dirigia também a Pinakotheke Cultural, coprodutora da mostra. Essa editora brasileira forneceria à FCG os materiais do catálogo, pois as edições anteriores tinham ficado a seu cargo (Ofício de Max Perlingeiro para José Sommer Ribeiro, 26 out. 1988, Arquivos Gulbenkian, CAM 00172). A publicação da FCG seguiu a mesma matriz dos catálogos precedentes, introduzindo ou modificando alguns conteúdos – como o habitual texto de abertura de Sommer Ribeiro, ou uma obra de Tarsila do Amaral que não figurara nas mostras anteriores (Seis Décadas…, 1989).

Em Lisboa, a exposição ficaria patente pouco mais de um mês, até 2 de abril de 1989. Uma nota interna do Serviço de Exposições e Museografia da FCG (SEM) regista um total de 15 485 visitantes, informação que, segundo a mesma nota, terá sido enviada por fax a Max Perlingeiro, a 20 de julho de 1989. Entre outras informações, a mesma nota refere uma cópia da notícia do evento transmitida pela RTP (Rádio Televisão Portuguesa) (Nota do Serviço de Exposições e Museografia, [20 jul. 1989], Arquivos Gulbenkian, SEM 00412).

Um telex endereçado a José de Azeredo Perdigão (presidente da FCG) a 6 de fevereiro de 1988 revela que a ideia de apresentar a Coleção Marinho em Lisboa é esboçada no Rio de Janeiro, no início desse ano. O remetente, António Gomes da Costa, informa que, na condição de representante da Fundação Cultural Brasil-Portugal (FCBP), estava em conversações com António Cunha Gameira, presidente do Conselho de Gestão da Sociedade Financeira Portuguesa (SFP) para a realização do evento, surgindo a FCG como instituição preferencial para o acolher. A SFP oficializaria a proposta num memorando de março de 1988 (Ofício da Sociedade Financeira Portuguesa, 8 mar. 1988, Arquivos Gulbenkian, CAM 00172). Além de funcionar como mediador institucional, a SFP patrocinaria a mostra, garantindo os seguros das obras com a Bonança Seguros, empresa que também surge como mecenas, financiando a publicação do catálogo. A TAP (Transportes Aéreos Portugueses) asseguraria o transporte das peças.

À data, o jornalista e colecionador Roberto Marinho era presidente de O Globo – Empresa Jornalística Brasileira, detentora da TV Globo e do jornal O Globo. Esteve presente na inauguração, onde pôde contar com a presença de Maria Barroso, mulher do presidente da República. Fotografias dos Arquivos Gulbenkian mostram-no lado a lado com José Azeredo Perdigão, proferindo um discurso que seria mais tarde publicado no jornal que dirigia (O Globo, 7 mar. 1989, p. 3). São recortes desse periódico os que mais abundam na vasta revista de imprensa a que a investigação teve acesso, nomeadamente num dossiê enviado à FCG pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (Arquivos Gulbenkian, SEM 00412). O próprio António Gomes da Costa, um dos principais promotores da iniciativa, anunciaria a exposição nesse periódico (O Globo, 25 fev. 1989, p. 16).

Dois dias antes da inauguração, Marinho marcara presença num outro evento, no Centro de Estudos Brasileiros, Embaixada do Brasil em Portugal. Tratou-se da «primeira exibição de [um] vídeo sobre a restauração arquitectônica do Brasil e Portugal, realizado pela Fundação Roberto Marinho em colaboração com […] RTP e […] TAP [e que] faz parte do programa "Globo Ciência"» (Ofício de Alberto da Costa e Silva para José Sommer Ribeiro, 17 fev. 1989, Arquivos Gulbenkian, CAM 00172). A imprensa brasileira destacou conjuntamente os dois eventos, transparecendo a sua importância estratégica para a posição da TV Globo no mercado português de difusão audiovisual. Além do jornal O Globo, também houve menções no Jornal de Brasília, Correio Braziliense, Jornal do Comércio, A Voz de Portugal e Portugal em Foco.

A relação entre a FCG, a FRM e a FCBP remonta a 1984, aquando de um intercâmbio de obras literárias no âmbito do «Programa para a Divulgação das Literaturas Contemporâneas Portuguesa e Brasileira no Brasil e em Portugal» junto do Instituto Português do Livro e do Instituto Nacional do Livro (Brasil) (Arquivos Gulbenkian, INT 01781).

No decurso desta exposição foram encetadas conversações para uma colaboração mais continuada entre a FCG e a FRM. Um dos frutos mais recentes dessa cooperação foi a exposição «Fernando Pessoa. Plural como o Universo», apresentada entre 2010 e 2012. No Brasil, essa itinerante passaria pelo Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, e pelo Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro. Terminaria na FCG, em Lisboa.

Daniel Peres, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Maria Barroso (à esq.), Roberto Marinho (ao centro) e Madalena de Azeredo Perdigão (à dir.)
Roberto Marinho (à esq.) e José de Azeredo Perdigão (à dir.)
Roberto Marinho (à esq.) e José de Azeredo Perdigão (à dir.)
Maria Barroso (à esq.), Roberto Marinho (ao centro), José de Azeredo Perdigão (ao centro), Madalena de Azeredo Perdigão (ao centro)
Roberto Marinho (ao centro), José de Azeredo Perdigão (ao centro) e Madalena de Azeredo Perdigão (à dir.)
Roberto Marinho (ao centro), José de Azeredo Perdigão (ao centro) e Madalena de Azeredo Perdigão (à dir.)

Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Biblioteca de Arte Gulbenkian, Lisboa / Dossiê BA/FCG

Coleção de dossiês com recortes de imprensa de eventos realizados nas décadas de 80 e 90 do século XX, organizados de forma temática e cronológica. 1984 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00172

Pasta contendo documentação referente à produção da exposição. Contém catálogos de apresentações anteriores no Brasil e na Argentina. 1988 – 1989

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00172

Pasta contendo documentação referente à produção da exposição. 1988 – 1989

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D02226

Coleção fotográficas, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 1989

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM-S005/01/01-P0065

Coleção fotográficas, p.b., cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 1989 – 1989


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