Brasil: 60 Anos de Arte Moderna. Colecção Gilberto Chateaubriand

Grande exposição de artes plásticas, que incluiu obras da coleção de Gilberto Chateaubriand. Foram apresentadas 177 obras, das 3000 presentes naquela coleção, trabalhos de pintura a óleo e guache, escultura, desenho e gravura do modernismo brasileiro.
Large visual arts exhibition featuring Brazilian modernist artworks belonging to the Gilberto Chateaubriand (1925) collection. Opening at the Temporary Exhibitions Gallery of the Calouste Gulbenkian Foundation, the show presented 177 oil paintings, gouaches, drawings and prints from among the collection's 3000 artworks.

A exposição «Brasil. 60 Anos de Arte Moderna. Coleção Gilberto Chateaubriand» inaugurou a 12 de julho de 1982 na Galeria de Exposições Temporárias, piso 0, tendo terminado a 22 de setembro do mesmo ano. Esta exposição foi pensada no seguimento da exposição «Do Moderno ao Contemporâneo», realizada de maio a julho de 1981 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, uma mostra de arte moderna e contemporânea brasileira com obras da coleção de Gilberto Chateaubriand e comissariada por Wilson Coutinho e Fernando Cocchiarale.

A inauguração contou com a presença de Nascimento Brito, diretor do Jornal do Brasil, João Carlos de Almeida Braga e António Carlos Almeida Braga, da Fundação Cultural Brasil-Portugal.

A 15 de dezembro de 1981, Gilberto Chateaubriand tinha proposto a José Blanco, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, a realização de uma exposição que integrasse parte das obras da sua coleção de pinturas brasileiras, «nos “Salões Gulbenkian” em meados de 1982» (Carta de Gilberto Chateaubriand para José Blanco, 15 dez. 1981, Arquivos Gulbenkian, SEM 00257).

A iniciativa da exposição resultava da parceria entre este colecionador e a Fundação Cultural Brasil-Portugal, instituição criada com o objetivo de promover atividades de caráter técnico-científico, cultural, artístico e filantrópico entre as comunidades luso-brasileiras, para fortalecimento das relações institucionais entre os dois países.

A 2 de março de 1982, José Sommer Ribeiro propôs mesmo que esta mostra de arte brasileira substituísse a exposição programada para a celebração dos «25 anos da Fundação Calouste Gulbenkian» ainda em projeto e pensada para os meses de julho, agosto e setembro, uma data importante pelo maior afluxo de turismo nacional e estrangeiro a Lisboa. Ao mesmo tempo, esta exposição permitiria um «contacto muito proveitoso, no que diz respeito à obtenção de obras para o Centro de Arte Moderna» (Apontamento do Serviço de Exposições e Museografia, 2 mar. 1982, Arquivos Gulbenkian, SEM 00257).

A escolha de Wilson Coutinho, técnico e crítico de arte, para comissariar a exposição deveu-se à sua relação de grande proximidade e confiança com Gilberto Chateaubriand e ao facto de dispor de um grande conhecimento sobre a coleção, tendo sido o organizador da exposição «Do Moderno ao Contemporâneo».

A exposição incluía pinturas a óleo, guaches, desenhos e gravuras, e tinha como objetivo contribuir para o estudo e divulgação da evolução da arte moderna brasileira desde 1922, ano da realização da Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal de São Paulo, acontecimento que marca, para a maioria dos historiadores e críticos, a «explosão modernista» no Brasil.

A exposição abrangeu um período de sessenta anos de produção artística, apresentando um leque estilístico e técnico muito variado. Tal como diz Walther Moreira Salles no texto introdutório do catálogo da exposição: «É, sem dúvida, um dos períodos mais ricos e de maior interesse para os estudiosos, onde o talento e a “brasilidade” de uma plêiade de artistas notáveis provocaram a abertura de novos caminhos e o gosto de novas experiências.» (Brasil. 60 Anos de Arte Moderna. Colecção Gilberto Chateaubriand, 1982)

A exposição mostrou 177 obras, das 3000 presentes na coleção Gilberto Chateaubriand, coleção tratada como um projeto contínuo que «busca e absorve a atualidade das pesquisas relacionadas como as artes plásticas e com constantes novas aquisições», e que começou a ser formada em 1917, ano em que se organizou em São Paulo a exposição de Anita Malfatti, considerada a primeira exposição de arte moderna realizada no Brasil.

A curadoria da exposição de 1982, da responsabilidade de Manuel Francisco do Nascimento Brito, criou um percurso cronológico das obras, organizado por décadas, que percorria a história da arte moderna brasileira. Assim, na década de 1920 estavam expostos trabalhos de artistas precursores do modernismo, como Lasar Segall e Anita Malfatti; nos anos 30, artistas como Cícero Dias e Portinari, que mostravam a influência europeia na arte brasileira, concretamente através do cubismo e do expressionismo. Da década de 1940, eram mostradas propostas de temática paisagística, sob a influência de Matisse. Os anos 50 estavam representados por obras abstratas de artistas da escola de Paris, como Maria Leontina, António Bandeira, Manabu Mabe e Frans Krajcberg, tendência contrariada pelo aparecimento das novas figurações dos anos 60 e, na década de 1970, das obras de pendor maioritariamente político.

Além de artistas brasileiros, a exposição incluiu também o trabalho de artistas portugueses cuja produção houvesse sido realizada no Brasil, como Maria Helena Vieira da Silva, Artur Barrio, António Manuel e Ascânio MMM.

A montagem da exposição, na Galeria de Exposições Temporárias da FCG, foi considerada de qualidade superior, em relação à anteriormente apresentada no Rio de Janeiro, por, ao expor menos obras, permitir uma leitura mais fluida do espaço e melhor fruição dos trabalhos selecionados.

A maioria dos artigos destaca a relação de cumplicidade entre Portugal e Brasil e a importância da coleção de Gilberto Chateaubriand, pela sua dimensão, testemunho histórico e valor monetário. Entre os textos publicados, destacam-se os de José Luís Porfírio, Mário de Oliveira e Manuela de Azevedo. José Luís Porfírio, ainda que criticando a conceção do catálogo e afirmando que «pena é que o catálogo não complete a sua função com um quadro cronológico do modernismo brasileiro», considera a exposição «bem contada» mas sem surpresas ou arrojos inovadores na montagem (Porfírio, Expresso, 18 set. 1982). Também Mário de Oliveira, apesar de notar a ausência de alguns artistas, acaba por tecer uma apreciação positiva: «Mas não podemos esquecer que esta exposição é de uma colecção particular, e neste aspecto ela é francamente positiva, pois mostra-nos o que foi a evolução da arte moderna no Brasil até à chegada dos pintores do Concretismo. Ao Serviço de Exposições e Museografia da Fundação Gulbenkian, uma nota alta por tão excelente montagem da exposição.» (Oliveira, JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 1982)

Já Manuela de Azevedo, no artigo que escreveu para o Diário de Notícias, lamenta a «pobre» representação da escultura nesta exposição que apenas se compôs de dois trabalhos (Azevedo, Diário de Notícias, 17 jul. 1982).

Apesar de o encerramento da exposição estar projetado para dia 26 de setembro, sendo esta a data que surge em todos os recortes de imprensa consultados, existe a informação, num telegrama assinado por Sommer Ribeiro e datado de 24 de setembro de 1982, de que a exposição terminou no dia 22 de setembro, em virtude de as peças se terem de encontrar no Brasil a 26 do mesmo mês. É igualmente neste telegrama que se encontra a informação do número de visitantes, que totalizou 54 281, durante os dois meses em que a exposição esteve aberta ao público.

Carolina Gouveia Matias, 2017

The exhibition Brasil - 60 anos de Arte Moderna. Coleção Gilberto Chateaubriand opened on 12 July 1982 at the Temporary Exhibitions Gallery, Lower Ground Floor, and closed on 22 September of the same year. The exhibition was thought up following the Do Moderno ao Contemporâneo exhibition held between May and July 1981 at the Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, an exhibition of modern and contemporary Brazilian art with pieces from the Gilberto Chateaubriand collection curated by Wilson Coutinho and Fernando Cocchiarale.
The opening was attended by Nascimento Brito, editor of the Jornal do Brasil, and João Carlos de Almeida Braga and António Carlos Almeida Braga, of the Fundação Cultural Brasil - Portugal.
On 15 December 1981, Gilberto Chateaubriand suggested to José Blanco, member of the board of the Calouste Gulbenkian Foundation (FCG), that an exhibition be held of some of the works in his collection of Brazilian paintings at the 'Gulbenkian Rooms' in mid-1982 (Letter from Gilberto Chateaubriand to José Blanco, 15 Dec. 1981, Gulbenkian Archives, SEM 00257).
The initiative for the exhibition was the result of a partnership between the collector and the Fundação Cultural Brasil - Portugal, an institution that was set up to promote technical, scientific, cultural, artistic and philanthropic work in the Luso-Brazilian communities to strengthen institutional relations between the countries.
On 2 March 1982, Sommer Ribeiro even proposed that the exhibition of Brazilian art should replace the exhibition scheduled to celebrate 25 years of the Calouste Gulbenkian Foundation, which was still being planned and had been considered to take place in July, August and September, important dates because of the higher number of Portuguese and foreign tourists in Lisbon. At the same time, this exhibition would enable very fruitful contact with regard to obtaining works for the Modern Art Centre (Note by the Exhibitions and Museography Department, 2 Mar. 1982, Gulbenkian Archives, SEM 00257).
The choice of Wilson Coutinho, art critic and technician, to curate the exhibition was due to his close relationship with Gilberto Chateaubriand and the fact that he was very knowledgeable about the collection, having organised the Do Moderno ao Contemporâneo exhibition.
The exhibition included oil paintings, gouaches, drawings and prints and aimed to contribute to the study and dissemination of the evolution of Brazilian modern art since 1922, when the Week of Modern Art was held at the Teatro Municipal de São Paulo, an event that marked the modernist explosion in Brazil for most historians and critics.
The exhibition covered a 60-year period of artistic production, presenting a huge range of styles and techniques. Just as Walther Moreira Salles says in the introduction to the exhibition catalogue: It is undoubtedly one of the richest and most interesting periods for scholars, where the talent and Brazilianness of a list of noteworthy artists led to new paths opening and a taste for new experiences (Brasil. 60 anos de Arte Moderna. Colecção Gilberto Chateaubriand, 1982).
The exhibition included 177 of the 3,000 works in the Gilberto Chateaubriand collection, which was treated as a continuous project that seeks out and absorbs current research related to visual arts with constant new acquisitions. It began to be formed in 1917, the year when an Anita Malfatti exhibition was organised in São Paulo, believed to the be first exhibition of modern art held in Brazil.
The curator of the 1982 exhibition was Manuel Francisco do Nascimento Brito, who set up a chronological sequence for the works, organised by decade, running through the history of modern Brazilian art. Hence the 1920s section included works by the forefathers of modernism, such as Lasar Segall and Anita Malfatti, the 1930s included artists like Cícero Dias and Portinari, who reflected the European influence on Brazilian art, particularly cubism and expressionism. The 1940s showed pieces dealing with the theme of landscapes, under Matisse's influence. The 1950s were represented by abstract artists of the School of Paris, such as Maria Leontina, António Bandeira, Manabu Mabe and Fans Krascberg, a trend countered by the emergence of new figurations in the 1960s and, in the 1970s, mostly political works.
As well as Brazilian artists, the exhibition also included work by Portuguese artists made in Brazil, such as Maria Helena Vieira da Silva, Bárrio, António Manuel and Ascânio MMM.
The set-up of the exhibition in the FCG's Temporary Exhibitions Gallery was considered to be better than the previous set-up in Rio de Janeiro because, by displaying fewer works, it enabled a more fluid interpretation of the space and better enjoyment of the selected pieces.
Most articles emphasise the close relationship between Portugal and Brazil and the importance of Gilberto Chateaubriand's collection, through its size and historical and monetary value. Texts were published, including some by José Luís Porfírio, Mário de Oliveira and Manuela de Azevedo. José Luís Porfírio, although criticising the design of the catalogue, saying that it was a shame the catalogue does not meet its function with a chronological framework of Brazilian modernism, believed the exhibition to be well told but without any surprises or innovative audacity in the way it was laid out (Porfírio, Expresso, 18 Sept. 1982). Mário de Oliveira, although noting the absence of some artists, also expressed his positive appreciation: But you can't forget that this exhibition is of a private collection, and in that respect it is genuinely positive, since it shows us the evolution of modern art in Brazil until the arrival of the painters of the concrete movement. The Gulbenkian Foundation's Exhibitions and Museography Department deserve a mention for such a well-designed exhibition (Oliveira, JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 1982).
Manuela de Azevedo, on the other hand, in an article she wrote for the Diário de Notícias, bemoans the poor representation of sculpture in the exhibition, comprising only two works (Azevedo, Diário de Notícias, 17 Jul. 1982).
Although the exhibition was due to end on 26 September, and this is the date found in all the press cuttings consulted, there is information in a telegram dated 24 September 1982 and signed by Sommer Ribeiro that the exhibition ended on 22 September because the pieces needed to be in Brazil on the 26th. This telegram also includes information on the total number of visitors, around 54,281, over the two months in which the exhibition was open to the public.

Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita oficial

[Brasil: 60 Anos de Arte Moderna. Colecção Gilberto Chateaubriand]

2 ago 1982
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria Principal / Galeria Exposições Temporárias (piso 0)
Lisboa, Portugal
Ciclo de cinema

[Brasil: 60 Anos de Arte Moderna]

26 ago 1982 – 29 ago 1982
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Visita oficial. José Sommer Ribero e José de Azeredo Perdigão (à dir.)
Visita oficial. José de Azeredo Perdigão (ao centro), Dário Moreira de Castro Alves, Embaixador do Brasil em Portugal e José Sommer Ribeiro (à dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00257

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convites, orçamentos, correspondência interna e externa, elementos para o catálogo e recortes de imprensa. 1982 – 1983

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D02154

5 provas, p.b.: visita oficial (FCG, Lisboa) 1982

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D02164

10 provas, p.b.: objetos (FCG, Lisboa) 1982

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0108-D00365

14 provas, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1982

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0108-D00366

49 provas, p.b.: aspetos (FCG, Lisboa) 1982

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0108-D00367

88 provas, p.b.: inauguração (FCG, Lisboa) 1982


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