Horizontes. Waltercio Caldas

Primeira grande exposição individual do artista brasileiro Waltercio Caldas (1946) em Portugal. Foram apresentadas 24 obras, algumas delas criadas especificamente para o espaço do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. A curadoria foi assegurada por Jorge Molder.
First large solo exhibition of work by Brazilian contemporary artist Waltercio Caldas in Portugal. It featured 24 works, some of which were specifically created for the Modern Art Centre José de Azeredo Perdigão. Jorge Molder curated the show.

Exposição individual do artista brasileiro Waltercio Caldas (1946) apresentada no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) no período de 18 de julho de 2008 a 11 de janeiro de 2009. Numa iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a mostra reuniu 24 obras, algumas delas criadas especificamente para a ocasião. Apresentando esculturas, instalações e desenhos de Waltercio Caldas, esta mostra foi tida como a primeira grande exposição do artista em Portugal.

Mais que uma antologia ou retrospetiva, a exposição «Horizontes» apresentou-se como uma oportunidade de dar a conhecer ao público português a produção artística e os «horizontes» de trabalho do artista brasileiro, como afirmou Jorge Molder, curador da exposição, no catálogo da mostra. As obras criadas especificamente para o espaço disponível na Nave do CAMJAP são exemplo da preocupação site specific do artista.

Devedor do legado neoconcretista, Waltercio Caldas assume um lugar preponderante na arte brasileira da segunda metade do século XX, além de se mostrar totalmente enquadrado nas preocupações internacionais do momento artístico do pós-guerra. A aposta na relação entre obra e espaço enquadra-se naquilo a que a historiadora de arte norte-americana Rosalind Krauss chamou «campo expandido da escultura». Consequentemente, a produção artística de Waltercio Caldas vai para além do conceito tradicional de escultura, procurando refletir sobre a centralidade de elementos que normalmente são tratados como secundários, nomeadamente o espaço que envolve a obra de arte. Torna-se, pois, difícil categorizar a produção artística de Caldas, cujos trabalhos frequentemente «brincam» com as noções de tridimensionalidade e bidimensionalidade, deslocando-as das fronteiras conceptuais tradicionalmente associadas às disciplinas da escultura e do desenho.

Característica basilar das obras de Waltercio Caldas, esta recusa de uma categorização rígida garante-lhes uma certa incerteza. O seu horizonte é assumido como uma espécie de território indefinido no qual visível e invisível coexistem, numa conexão impronunciável. Como afirma Paulo Venancio Filho no catálogo da exposição: «Talvez seja esta sua sistemática estratégia, desidentificar-se de qualquer categoria unívoca e permanecer nesse contínuo estado de coerente incerteza.» (Horizontes. Waltercio Caldas, 2008, p. 26)

Propondo fortes desafios à visão e à reflexão, as obras conduzem a uma «visibilidade reflexiva» (termo cunhado pelo crítico e historiador de arte brasileiro Paulo Sergio Duarte), que nos interpela a cada momento da sua produção artística. Obrigada a fazer apelo constante à reflexão, a visão vai sendo posta em causa, transformada até pelos materiais, como se estes ganhassem novas características e propriedades. Essa mutação potencial da nossa percepção perante ela confere à obra uma certa imaterialidade.

Exemplo desse exercício da visão em constante alteração é aquele a que nos conduz a obra que abre a exposição, Anda uma coisa no ar, indutora de metamorfoses operadas pelo olhar do observador. Os materiais diversos deixados sobre uma mesa comprida (carvão, vidro, cristal e aço inoxidável) parecem estar ali para que o observador os examine minuciosamente, treinando a inteligência visual. Percorrer as diferenças entre os materiais, os pesos e as superfícies permite igualmente entender o processo de metamorfose dos materiais como no caso em que faz alusão à transformação do carvão em diamante.

A presença de diversos desenhos do artista deixa perceber a forte relação que o desenho, a escultura e a arquitetura assumem no seu processo criativo, mais uma vez no pressuposto da recusa de categorização. Caldas estabelece uma ligação umbilical entre desenho e escultura, ambos definidores de espaços: o desenho através de linhas, a escultura através de objetos.

O trabalho realizado com o espaço na escultura advém da forte dimensão arquitetónica da sua obra em geral, e mais explicitamente nos diversos projetos criados para o espaço público com caráter permanente, nomeadamente para as cidades de Punta del Este, no Uruguai (1983), São Paulo (1989), Leirfjord, na Noruega (1994), Rio de Janeiro (1996), Santa Catarina (2000) e Porto Alegre (2005). À data da realização da exposição em Lisboa, encontrava-se em preparação um projeto para a cidade de Santiago de Compostela, em Espanha. Também nestes casos, e apesar do caráter permanente das obras, a efemeridade e a mudança do ponto de vista são constantemente sugeridas.

A relação entre arte e vida na obra de Caldas é evocada por Jorge Molder do seguinte modo: «A obra deste artista deixa adivinhar uma enorme ousadia perante a realidade, como se a sua observação de um modo mais profundo e diferente pudesse modificar também a nossa aproximação a ela.» (Horizontes. Waltercio Caldas, 2008, p. 5)

Representou o Brasil nas Bienais de São Paulo (1983, 1987 e 1996), Mercosul (1997, 2005, 2007), Coreia (2004) e Veneza (1997 e 2007), bem como na Documenta de Kassel (1992). À data da exposição em Lisboa, Waltercio havia exposto recentemente na Galeria Denise René, em Paris (2005), e na Galeria Elvira González, em Madrid (2007), usufruindo de um reconhecimento nacional e internacional alargado no panorama da arte contemporânea.

As suas obras fazem parte de importantes acervos, como os do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, do MoMA de Nova Iorque, da New Gallery, em Kassel, e do Phoenix Art Museum, no Arizona. Após a sua mostra em Lisboa, a FCG adquiriu três obras da coleção do artista e que atualmente pertencem ao acervo da Coleção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian: Asa Olhos de Água, ambas de 2008, e Eureka, de 2001.

Foi editado um jornal da exposição, bem como um catálogo com textos de Jorge Molder e do historiador brasileiro, Paulo Venancio Filho (entre outros), e um ótimo registo fotográfico da exposição em Lisboa, mostrando as obras no espaço expositivo da Nave do CAMJAP. O catálogo seria lançado a 4 de novembro de 2008 como um dos eventos fortes da programação associada à exposição.

Foi realizado um ciclo de conversas dedicadas à arte brasileira, subordinadas às seguintes temáticas: «Waltercio Caldas e a sua geração de artistas», por Paulo Venancio Filho; «Neoconcretismo», por Paulo Herkenhoff; «Lygia Clark e Hélio Oiticica», por Guy Brett. Durante os meses de novembro e dezembro de 2008, a exposição foi o mote para a apresentação de vídeos sobre artistas brasileiros contemporâneos, através do projeto «Série RIOARTE – Vídeo-arte Contemporânea», destacando-se a produção de 24 artistas brasileiros – nomeadamente, Waltercio Caldas, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Lygia Clark, Sergio Camargo, Antonio Dias, entre outros –, alguns dos quais já anteriormente expostos na FCG.

Inaugurada a 17 de julho de 2008, a exposição contou com a presença do artista e seria visitada por 24 860 pessoas ao longo de cerca de seis meses. Com término inicialmente previsto para 4 de janeiro de 2009, prolongar-se-ia por mais sete dias, encerrando a 11 de janeiro.

Patrícia Simões, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Asa

Waltercio Caldas (1946-)

Asa, 2008 / Inv. EE67

Eureca

Waltercio Caldas (1946-)

Eureca, 2001 / Inv. EE69

Olhos d'água

Waltercio Caldas (1946-)

Olhos d'água, 2008 / Inv. EE68


Eventos Paralelos

Exibição audiovisual

Série RIOARTE. Vídeo-Arte Contemporânea

6 nov 2008 – 7 dez 2008
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Hall
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

[Exposição Horizontes. Waltercio Caldas]

20 jul 2008 – 7 dez 2008
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Nave
Lisboa, Portugal
Ciclo de conferências

Conversas sobre Arte Brasileira

20 nov 2008 – 4 dez 2008
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala Polivalente
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

José Domingos Rego
Leonor Nazaré (ao centro)
Waltercio Caldas (à esq.)
Cristina Sena da Fonseca (ao centro)
Helena de Freitas (ao centro)
Emílio Rui Vilar (à esq.), Teresa Gouveia (ao centro) e Jorge Molder (à dir.)
António Pinto Ribeiro (esq.)
José António Nunes de Oliveira (à esq.) e Patrícia Rosas (ao centro, à dir.)
Jorge Molder (à esq.), Emílio Rui Vilar (ao centro, à esq.), Waltercio Caldas (ao centro, à dir.) e Teresa Gouveia (à dir.)
Emílio Rui Vilar (à esq.), Waltercio Caldas (ao centro) e Teresa Gouveia (à dir.)
Teresa Gouveia (à esq.), Jorge Molder (à esq.), Waltercio Caldas (ao centro) e Emílio Rui Vilar (à dir.)
Teresa Gouveia (à esq.), Emílio Rui Vilar (à esq.), Waltercio Caldas (ao centro) e Jorge Molder (à dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25187

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite e documentação relativa aos eventos paralelos da exposição. 2008 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21336

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, notas de pagamentos, jornal de exposição, documentação sobre programação paralela e pesquisa curatorial para a conceptualização da exposição. 2008 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00581

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém notas de pagamentos, seguros, transportes, documentação relativa a eventos paralelos e correspondência. 2007 – 2009

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 10783

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2008

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 10782

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2008


Exposições Relacionadas

Aparício

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1984 / Sede Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

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