Exposição temática e coletiva que abordou as noções de «homenagem» e «esquecimento» a partir de obras do acervo do Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). A iniciativa partiu da Fundação Eugénio Almeida (FEA), em 2008, realizando-se em Évora, no Fórum Eugénio de Almeida.

A curadoria esteve a cargo de Leonor Nazaré, que concebeu a exposição com uma forte componente escultórica, ligada a uma tradição celebrativa e memorial, mas abrangendo igualmente pintura, fotografia e gravura, especialmente em casos em que a escultura é tomada como objecto ou referência.

A seleção de obras procurou refletir a forma como as artes plásticas têm dado expressão às noções de «homenagem» e «esquecimento», enquanto território profícuo para o aprofundamento dos paradoxos e questões filosóficas inerentes a este binómio. A exposição apresentou, em diversos espaços do Fórum Eugénio de Almeida, 42 exemplos, realizados à luz do pensar/fazer contemporâneo de 16 artistas representados na coleção do CAM.

No catálogo da exposição, Leonor Nazaré definia as ideias fundadoras da proposta expositiva: «Homenageamos para não esquecer. A celebração é uma forma de gratidão e a memória um parâmetro da identidade. […] A homenagem tem, de facto, a intenção de lembrar, mas ao abstrair, estilizar, exprimir e substituir pela ficção contribui para o apagamento da realidade daquilo a que se refere. Este é um paradoxo que as obras aqui presentes podem ajudar a equacionar.» (Nazaré, Homenagem e Esquecimento. De Almada Negreiros a Alexandre Estrela, 2009, p. 6)

Este processo de inscrever/esquecer intrínseco à passagem do tempo é apresentado num percurso sugestivo, construído com base numa amostragem da arte moderna e contemporânea disponível na coleção do CAM. Como refere Eduardo Pereira da Silva, presidente do conselho de administração da FEA: «Este aparente paradoxo de evocação, cristalização e esquecimento é o fio comum que tece a selecção de obras presentes […]. De Almada Negreiros a Daniel Blaufuks, passando por Henry Moore ou por Cutileiro, esta visão de parte do acervo do CAM ilustra um percurso possível da arte moderna vs. contemporânea e permite reaproximar transversalmente a diversidade dos valores de cada época e de cada arte ao nosso tempo presente.» (Homenagem e Esquecimento. De Almada Negreiros a Alexandre Estrela…, 2009)

A escolha das obras procurou assim graus de correlação e/ou formulações contrastantes dentro do espectro da «homenagem» ou do «esquecimento», visando identificar intenções diversas: com uma forte componente ritualística e de culto (Stonehenge, de Henry Moore; Sem Título, de José Pedro Croft; Porta Etrusca, de Graça Pereira Coutinho); ligadas à exaltação e consagração celebrativa (Maqueta de Estátua Equestre, de João Cutileiro); alusivas à diluição da memória (O Azul Eterno do Mediterrâneo, de Luís Noronha da Costa; Tasso, de Daniel Blaufuks); ligadas quer à identidade individual, personificável, quer à identidade coletiva, simbólica e anónima (Toucador, de Ana Vieira; Tragédia e Comédia, de Canto da Maya; Sem Título, de Rui Sanches); associadas à homenagem e à cristalização da identidade pelo retrato/autorretrato (Auto-Retrato, de Almada Negreiros; Homenagem a Almada, de Maria Beatriz; Agnus Dei, de Gaëtan; ou a série de fotografias da autoria de Fernando Lemos); negando traços de identidade (A Casa do Esquecimento, de Pedro Cabrita Reis); relativas à apropriação e consequente derivação/deturpação (Instrumental Version, de João Onofre); ou indiciadoras de um olhar crítico sobre a materialidade tecnológica na construção/transmissão da imagem e dos códigos culturais (TV's Back, de Alexandre Estrela) (Ibid.).

A inauguração da exposição contou com a presença do presidente do Conselho de administração da Fundação Eugénio de Almeida, cónego Eduardo Pereira da Silva, e do então presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, Emílio Rui Vilar, e de outras individualidades da área cultural.

Complementarmente à exposição, o Serviço Educativo da FEA desenvolveu um programa de atividades lúdicas e pedagógicas (visitas guiadas, ateliês pedagógicos e lúdicos), incluindo ainda um workshop designado «Monumento, memória e morte», dinamizado pelo artista plástico Rui Sanches.

A revista Artes & Leilões publicou uma crítica da exposição, na qual Cristina Campos assinalava a relevância da iniciativa: «Num exercício curatorial e design expositivo pertinentes […], a exposição "Homenagem e Esquecimento" contribui também para fomentar a consciência da importância de iniciativas de divulgação da arte contemporânea que apostem na descentralização e na promoção de exposições com inquestionável qualidade promovidas em espaços que reúnem condições ímpares e suis generis.» (Campos, Artes & Leilões, jul.-ago. 2009, p. 33)

Esta exposição enquadrou-se na série de iniciativas que o CAM vinha desenvolvendo no sentido de descentralizar e divulgar a sua coleção, por intermédio de parcerias com instituições museológicas de diversas cidades portuguesas (Almada, Sines, Lagos, Tavira, Castelo Branco e Fundão), empenhadas na programação regular de arte contemporânea.

Filipa Coimbra, 2018