A Idade de Ouro do Mobiliário Francês. Da Oficina ao Palácio

Ciclo «Conversas»

A exposição «A Idade de Ouro do Mobiliário Francês. Da Oficina ao Palácio», inaugurada no dia 5 de março de 2020 e organizada pelo Museu Calouste Gulbenkian (MCG), na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), em Lisboa, esteve patente entre 6 de março e 28 de setembro de 2020, na Galeria do Piso Inferior – Coleção do Fundador (anteriormente designada Galeria de Exposições Temporárias do MCG). A data inicialmente prevista para encerramento da exposição, o dia 1 de junho de 2020, foi alterada uma vez que a mostra esteve encerrada entre 12 de março (uma semana após a abertura) e 17 de maio, em virtude das medidas adotadas para combate da pandemia de Covid 19. A exposição reabriu ao público no dia 18 de maio – Dia Internacional dos Museus – e foi prolongada até 28 de setembro de 2020 (com o número de visitantes por sala, em simultâneo, limitado a 25 pessoas).

A mostra foi integrada no ciclo «Conversas», criado por Penelope Curtis (diretora do MCG entre setembro de 2015 e agosto de 2020), para promover a criação de novos olhares sobre as peças da Coleção Gulbenkian, em diálogo com outras perspetivas e áreas do saber. Ao Diário de Notícias, Clara Serra, curadora da exposição, afirma, a este propósito, que «a conversa (…) não acaba aqui [nas salas da exposição]. A galeria do século XVIII do museu é uma continuação desta exposição», acentuando a continuidade discursiva entre o projeto expositivo em questão e o programa museológico desenvolvido nas Galerias da Exposição Permanente do MCG. Neste caso particular, apresentava-se uma seleção de peças de mobiliário francês datadas do século XVIII, provenientes da coleção do Museu Calouste Gulbenkian e de outras coleções de instituições nacionais e estrangeiras. Como se lê no caderno da exposição, no texto assinado por Helen Jacobsen, investigadora e conservadora na The Wallace Collection, uma das instituições representadas na mostra: «uma das atrações do mobiliário parisiense era a grande diversidade ao nível dos acabamentos e do tipo de revestimento aplicado às peças, que permitiam um número aparentemente ilimitado de estilos e inovações.» (A Idade de Ouro do Mobiliário Francês. Da Oficina ao Palácio, 2020, p. 17)

A exposição teve curadoria de Clara Serra, conservadora da coleção de mobiliário e têxteis do Museu Calouste Gulbenkian, e foi realizada em parceria com a Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, uma colaboração que, para Clara Serra, permitiu «imprimir à exposição um lado mais prático, tornando‑a muito mais rica e possibilitando um entendimento mais alargado das questões relativas à produção do mobiliário naquela época» (A Idade de Ouro do Mobiliário Francês. Da Oficina ao Palácio, 2020, p. 7).

No âmbito deste protocolo, a mostra reuniu num mesmo espaço expositivo o processo de produção das peças de mobiliário, explicando as várias fases de execução – da matéria-prima, a madeira, até à peça final, folheada e marchetada com madeiras exóticas, bronzes cinzelados e dourados ou placas de porcelana de Sèvres ou mármore –, o contexto oficinal em que foram produzidas e a apresentação formal e estilística de cada uma das peças selecionadas para integrar a exposição.

Tendo como subtítulo «Da oficina ao palácio», a mostra apresentava a produção do mobiliário desde a conceção inicial do desenho, presente nas gravuras de L’Art du Menuisier en Meubles (1772), de André-Jacob Roubo (1739-1791) ou nas pranchas da L’Encyclopédie (1751-1772), de Diderot e D’Alembert, ao material em bruto das pranchas de madeira, à variedade de ferramentas, ceras, betumes e apresentação de uma bancada de marceneiro até à sofisticação do móvel final, de exímia qualidade técnica e estética criado para os ambientes requintados da aristocracia e alta burguesia endinheirada. Como sublinha Carla Carbone na Artecapital: «mais do que revelar peças do século XVIII, a exposição desvenda modos de fazer, ferramentas, costumes e corporações de marceneiros, de acordo com o estilo da época. (…) A exposição levanta assim o véu por detrás da conceção e execução destas belas peças, dos artesãos e ebanistas envolvidos, bem como da complexa tensão existente entre as suas diversas corporações.» (Carbone, Artecapital, set. 2020).

Desta seleção, resultou um conjunto de peças emblemáticas de um período em que o mobiliário francês atingiu uma relevante qualidade técnica e artística. Nas palavras da curadora, o projeto pretendeu, «partindo de alguns móveis emblemáticos, (…) analisar, de forma não exaustiva, o que está por detrás da execução destas peças deslumbrantes, os artesãos envolvidos, as várias oficinas, os materiais, as técnicas, as ferramentas, entre outros, elementos indispensáveis para se chegar a este nível de excelência.» (Ibid.)

De entre o conjunto apresentado, destacam-se Cómoda (Paris, c. 1770-1775), de Claude-Charles Saunier (1735-1807), do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, Bonheur du Jour (Paris, 1770-1775), de Charles Topino (c. 1742-1803), do Musée des Arts Décoratifs, em Paris, Cómoda (Paris, 1720-1730), de Antoine Criaerd (ativo entre 1720-1750), da Casa-Museu Medeiros e Almeida, em Lisboa, Secretária de cilindro (Paris, 1773) (Inv.2082), de Jean-Henry Riesener (1734-1806) e Mesa-secretária (Paris, c. 1772) (Inv.2267), do ebanista Martin Carlin (1730-1785), ambas adquiridas por Calouste Sarkis Gulbenkian, na década de 1930. Trata-se de um conjunto de «fascinantes exemplos da Idade de Ouro do Mobiliário francês, exibindo uma qualidade técnica e artística sem precedentes» (Comunicado de imprensa, 2020, Arquivos Gulbenkian, ID: 227636). Além das peças de mobiliário, a exposição apresentava, no início do percurso, duas pinturas de pequenas dimensões, com representação de cenas de interior burguês, provenientes da Coleção Gulbenkian, da autoria do pintor de origem sueca, Niklas Lafrensen (1737-1807).

Num projeto museográfico assinado por Mariano Piçarra, designer de exposições do MCG, o percurso expositivo desenrolava-se por entre diversos eixos estruturais que cruzavam o espaço interior da sala, compartimentando-a em secções temáticas. Num dos eixos centrais da sala, encontrava-se exposta a Maquete de uma oficina de marcenaria (1783), uma peça cedida pelo Musée des Arts et Métiers, que recriava, em miniatura, o atelier de um marceneiro ou ebanista setecentista, em França.

O projeto estava dividido em oito núcleos temáticos, «I. O Século de Ouro do Mobiliário Francês», «II. O Desenho. Onde tudo começa», «III. As Oficinas e o Sistema Corporativo», «IV. As Madeiras», «V. Marcenaria e Ebanisteria», «VI. Os Acabamentos», «VII. Os Bronzes Dourados» e «VIII. Os Móveis do Século XVIII», identificados por um texto introdutório e com algumas das peças com texto de contextualização histórica. As peças selecionadas, num total de 18 obras e 110 objetos (entre ferramentas e materiais utilizados na produção das peças de mobiliário), estavam dispostas em plintos, painéis e vitrinas em que a cor dominante, o azul - remetendo para o cromatismo de muitos dos revestimentos em porcelana de Sèvres utilizado no mobiliário deste período - combinava com as bases de plintos e vitrinas, em preto, e com os painéis em tons de bronze e no tom natural da madeira.

À entrada da sala de exposição, estava disponível para consulta do visitante uma folha de sala (em português, inglês ou francês) com o contexto histórico e caracterização estilística da evolução do gosto no mobiliário francês durante o século XVIII, um período compreendido entre o fim do reinado de Luís XIV (1715) e a Revolução Francesa (iniciada em 1789).

O programa de eventos associados ao projeto expositivo foi fortemente prejudicado pelas restrições impostas pela pandemia Covid 19. Foram canceladas diversas atividades, entre as quais diversas visitas à exposição – como a da curadora da exposição, Clara Serra, prevista para o dia 6 de março de 2020, a visita conjunta à exposição e às oficinas da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva (FRESS) intitulada «Do Ver e do Fazer», orientada por Clara Serra e Margarida Serra, colaboradora do Serviço Educativo da FRESS, para o dia 21 de março desse ano, a visita «Evolução das técnicas da marchetaria no mobiliário francês do século XVIII», programada para o dia 3 de abril, com orientação de Clara Serra e de Jacky Cavallari, ebanista formado na École Boulle, em Paris, e, por fim, a visita «A Natureza no Mobiliário Francês Setecentista», organizada no âmbito da programação do 50.º comemoração do Dia da Terra, orientada pela curadora Clara Serra e pelo biólogo e investigador de história e filosofia da Ciência, Luís Mendonça de Carvalho.

Ainda no âmbito das medidas restritivas associadas à pandemia, foi, igualmente, cancelada, a palestra intitulada «O desenho de mobiliário na França do século XVIII», de Peter Fuhring, prevista para o dia 28 de maio de 2020, e foram reconvertidas para transmissão online a conferência de Helen Jacobsen, conservadora das Artes Decorativas francesas do século XVIII na The Wallace Collection, em Londres, intitulada «Vida e obra. Uma visão da vida dos ebanistas parisienses do século XVIII», anteriormente marcada para o dia 15 de abril de 2020 e realizada em 3 de setembro desse ano, e a «Conversa online. Os ebanistas também são contemporâneos», no dia 10 de fevereiro de 2021, foi realizada ainda no âmbito da exposição, que contou com a participação da curadora Clara Serra, do ebanista Jacky Cavallari e do ebanista da FRESS, Diogo Amaro.

No relatório final da exposição, lê-se que «no regresso à “normalidade”, o público respondeu timidamente, mas os números foram sempre crescendo de semana para semana, à medida que a confiança foi aumentando. O número de visitantes, dadas as circunstâncias foi muito positivo e encorajador, ainda que tenha ficado aquém do projetado (cerca de 17 500 visitantes)» (Relatório, 30 out. 2020, p. 5, Arquivos Gulbenkian, ID: [cota brevemente disponível]). A exposição registou um total de 6 971 visitantes (entre público nacional e estrangeiro), com a fixação do limite de 25 visitantes em simultâneo na sala de exposição e uma redução drástica da marcação de visitas por parte das escolas e de grupos organizados.

A exposição e a programação associada tiveram uma moderada divulgação nos meios de comunicação social. De entre os diversos artigos em periódicos (imprensa e digital), e tendo sido identificadas 29 referências no dossiê de imprensa da exposição (Dossiê de imprensa, 2020, Arquivos Gulbenkian, ID: 412635), destacam-se os artigos de Lina Santos «Quando a França inventou e pôs as escrivaninhas na moda», no Diário de Notícias (6 mar. 2020), o de José Cabrita Saraiva, no Sol (7 mar. 2020), «Joias de Madeira nas vésperas da revolução francesa» e o de Sónia Dias, intitulada «Da Oficina ao Palácio», publicada no Correio da Manhã (13 mar. 2020), bem como o de Elsa Furtado, na C&H. Magazine de Cultura, Lazer e Viagens (3 mar. 2020), o de Carla Carbone, na Artecapital (set. 2020) ou a notícia na Revista Bica (15 set. 2020). A mostra foi igualmente noticiada em canais televisivos, como a SIC Notícias e a RTP1.

Isabel Falcão, 2022


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Cómoda Cressent

Charles Cressent (1685-1768)

Cómoda Cressent, Inv. 240B

Desconhecido

c. 1780 / Inv. 6

Jean-François Oeben (me.1761)

c. 1761-1762 / Inv. 749

Jean-Henry Riesener (me. 1768)

1773 / Inv. 2082

Martin Carlin (me.1766)

c.1772 / Inv. 2267

Cena de Interior

Niklas Lafrensen (1737-1807)

Cena de Interior, C. 1790 / Inv. 239

O Romance Perigoso

Niklas Lafrensen (1737-1807)

O Romance Perigoso, c. 1781 / Inv. 251


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[A Idade de Ouro do Mobiliário Francês. Da Oficina ao Palácio]

12 set 2020 – 19 set 2020
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galeria de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Beleza e Mestria do Mobiliário Francês do século XVIII

6 mar 2020 – 26 set 2020
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galeria de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Filipa Santos (centro)
Filipa Santos (dir.)
Filipa Santos
Filipa Santos
Filipa Santos
Filipa Santos
Clara Serra; José Neves Adelino
José Neves Adelino (à esq.)
Mariano Piçarra
António Monteiro
Mariano Piçarra

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