XVIII Bienal de São Paulo. Representação Portuguesa

Bienal Internacional de São Paulo

Exposição das obras selecionadas para integrar a XVIII Bienal de São Paulo, comissariada por José Sommer Ribeiro. Foram selecionados cinco artistas: António Dacosta, Júlio Pomar, Sérgio Pombo, Jorge Martins e Lourdes Castro, esta última como representante da arte da performance portuguesa.
Exhibition of works selected to be included in the 18th São Paulo Art Biennial, curated by José Sommer Ribeiro. The selection featured works by António Dacosta, Júlio Pomar, Sérgio Pombo, Jorge Martins and Lourdes Castro, the last of which representing Portuguese performance art.

No ano de 1985, o Ministério da Cultura e dos Negócios Estrangeiros nomeou José Sommer Ribeiro como comissário da representação portuguesa na «18.ª Bienal de São Paulo», função que este já havia desempenhado em edições anteriores. Este ano foi marcado por «profundas alterações» no regulamento, o que agradou ao comissário português, que fez questão de evidenciar tal facto no seu texto para o catálogo da exposição (Representação Portuguesa à 18.ª Bienal Internacional de São Paulo, 1985). Nesta mostra participaram 47 países e 500 artistas e foram expostas mais de 1500 obras.

A Bienal não foi pensada em torno de um tema específico, antes quis «mostrar um espírito, um pensamento metafórico que revelasse o contemporâneo», como afirmou Sheila Leirner, curadora brasileira da bienal (18.ª Bienal de São Paulo. Catálogo Geral, 1985, p. 13). Procurava-se que os artistas refletissem sobre «o Homem e a Vida» e apresentassem linguagens contemporâneas que quebrassem com as já «exaustivamente mostradas na década de 70, associadas a manifestações circunscritas à Arte pela Arte». Pretendia-se, desta vez, a Arte pela Vida, numa tendência característica do momento. Nesse sentido, a Bienal procurou também dar «bastante ênfase ao culto teatral e à temporalidade na arte», destacando a arte da performance (Carta de Sheila Leirner para José Sommer Ribeiro, 6 ago. 1984, Arquivos Gulbenkian, CAM 00100). Era também intenção do presidente do evento, Roberto Muylaert, que a Bienal fosse acessível a todos, uma vez que, segundo ele, esta seria para muitos «a única oportunidade de ter contacto com o mundo das artes plásticas» (18.ª Bienal de São Paulo. Catálogo Geral, 1985, p. 10).

Para criar um percurso claro no espaço expositivo, foram concebidos dois núcleos que se interligavam: o núcleo I, dedicado à arte contemporânea brasileira e internacional, e o núcleo II, com enfoque numa produção histórica, tanto de artistas brasileiros como internacionais. Procurava-se proporcionar um encontro entre artistas locais e estrangeiros, de modo a realizar um projeto artístico comum. Foi no núcleo I que se inseriram os artistas portugueses.

Havia duas modalidades de participação dos artistas/países na Bienal: por convite direto da Bienal ou por uma seleção de artistas propostos pelos próprios países que eles representavam (foi este o caso de Portugal). Tendo em conta os pressupostos da Bienal, José Sommer Ribeiro escolheu cinco artistas que, «apesar de terem percorrido caminhos bem diferentes, produziram obra que se integra perfeitamente no tema desta Bienal. Tais obras têm toda a actualidade e dão um valioso contributo pessoal, liberto de modas fáceis de seguir» (Ibid.).

Em muitos casos, era a própria curadora da Bienal quem sugeria os nomes dos artistas ao comissário de cada país, o que pareceu originar desaprovação por parte dos comissários europeus, que, não concordando com este modelo, avançavam com a sua seleção (Carta de José Sommer Ribeiro para Sheila Leiner, 3 abr. 1985, Arquivos Gulbenkian, CAM 00100).

Para a representação portuguesa, Sheila Leiner também sugeriu que o artista Julião Sarmento fosse um dos artistas portugueses selecionados, uma vez que tinha apreciado o seu trabalho na «Documenta», em Kassel, considerando-o um pintor «que envereda pelos caminhos das pinturas selvagens» (Carta de Sheila Leiner para José Sommer Ribeiro, 15 fev. 1985, Arquivos Gulbenkian, CAM 00100). Contudo, Sommer Ribeiro selecionou cinco outros artistas: António Dacosta (1914-1990), Júlio Pomar (1926-2018), Sérgio Pombo (1947), Jorge Martins (1940) e Lourdes Castro (1930). Este grupo de criadores, nascidos em épocas diferentes – entre 1914 e 1947 –, desenvolviam, à época, trabalhos de relevância no contexto da arte portuguesa contemporânea. Optou-se, igualmente, por apresentar poucos artistas, de forma a expor um maior número de obras de cada um. Esta seria uma estratégia favorável à revelação sucinta do seu percurso individual.

José Sommer Ribeiro ainda equacionou a hipótese de apresentar trabalhos do arquiteto Siza Vieira, que recentemente expusera na Bienal de Paris, mas acabou por abandonar a ideia, uma vez que esta sessão da Bienal não tinha uma área dedicada à arquitetura. Sheila Leiner manifestou dificuldade em integrá-lo no discurso expositivo da mostra, ainda que tenha revelado interesse no seu trabalho (Telegrama de Sheila Leiner a José Sommer Ribeiro, 24 abr. 1985, Arquivos Gulbenkian, CAM 00100). A comissária pretendia também que no núcleo de artistas portugueses se apresentasse ao público brasileiro, pela primeira vez, a abordagem portuguesa da arte da performance (tendo para tal sugerido a apresentação de trabalhos de Egídio Álvaro (1937-2020). Contudo, coube a Lourdes Castro, acompanhada de Manuel Zimbro (1944-2003), representar a arte da performance, através da encenação de um teatro de sombras, Linha do Horizonte, apresentado nos dias 9 e 12 de novembro de 1985, no auditório do Museu de Arte Contemporânea, no Ibirapuera. Para José Sommer Ribeiro, Lourdes Castro era a única artista portuguesa com categoria internacional (Carta de José Sommer Ribeiro para Sheila Leiner, 28 dez. 1984, Arquivos Gulbenkian, CAM 00100).

Esta edição da Bienal de São Paulo contou com a apresentação de três performances. Lourdes Castro e Manuel Zimbro encontravam-se assim no mesmo grupo de artistas que Marina Abramovic (1943), Ulay (1946) e Guto Lacaz (1948). Segundo a crítica, a performance era ainda uma área artística em descoberta, que suscitava controvérsia. As Sombras de Lourdes Castro não foram exceção: «A Bienal continua provocando polêmica, mesmo depois de sua abertura. E, para este mês de novembro, inclui a apresentação de três performances […].» («A loucura anda solta na Bienal», Fôlha da Tarde, 9 nov. 1985)

Os restantes artistas portugueses apresentaram seis pinturas cada um (24 no total), provenientes de coleções particulares, do CAM e do Ministério da Cultura.

Os trabalhos selecionados foram apresentados no núcleo de produção contemporânea. Os de António Dacosta, uma exceção, integraram o núcleo de artistas históricos, num espaço do Pavilhão do Ibirapuera reservado especialmente a artistas considerados determinantes dentro do movimento de arte contemporânea de cada um dos países representados. Numa das críticas à representação portuguesa, destaca-se a relevância da sua obra: «António Dacosta, que veio pela primeira vez ao Brasil, é o principal representante do surrealismo português.» («Dacosta», Jornal da Tarde, 5 out. 1985)

De acordo com a imprensa escrita, é possível concluir que Portugal estava bem representado nesta edição da Bienal. Fernando Lemos, por exemplo, escreve na revista Colóquio/Artes: «E diga-se de passagem, já que a pressa é muita, que os artistas portugueses, apesar de excluída a referência geográfica, estão na melhor lista de valores que justificam esta mostra internacional.» (Lemos, Colóquio/Artes, 1985, pp. 62-64) Refira-se ainda, a alusão no Jornal de Brasília à presença da artista portuguesa Paula Rego, que foi apresentada na Bienal como artista inglesa, e à impossibilidade de Vieira da Silva, a «mais cotada das artistas portuguesas», estar presente na Bienal («Presença Portuguesa», Jornal de Brasília, 13 out. 1985).

Júlio Pomar, Jorge Martins e António Dacosta obtiveram apoio da Fundação Calouste Gulbenkian para a sua representação em São Paulo, uma vez que o Ministério da Cultura não tinha disponibilizado quaisquer verbas para a deslocação dos artistas ao Brasil (Apontamento do Serviço de Belas-Artes, 28 jun. 1985, Arquivos Gulbenkian, SBA 03178). A Fundação desenvolveu ainda esforços junto do Consulado de Portugal em São Paulo para que se organizasse uma receção de acolhimento aos artistas portugueses apresentados nessa bienal (Carta de José Sommer Ribeiro para Mário Quartin Graça, 13 set. 1984, Arquivos Gulbenkian, CAM 00100).

Ana Lúcia Luz, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

S/Título

Jorge Martins (1940-)

S/Título, 1983 / Inv. 84P517

S/Título

Jorge Martins (1940-)

S/Título, 1984 / Inv. 84P519

Estudo para retrato de Sofia

Sérgio Pombo (1947-2022)

Estudo para retrato de Sofia, 1982 / Inv. 83P1469


Eventos Paralelos

Performance

Teatro de Sombras

9 nov 1985 – 12 nov 1985
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM)
São Paulo, Brasil

Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00100

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém despesas com o catálogo da exposição, transporte de obras, textos de apresentação da edição da 18.ª Bienal, textos publicados no catálogo, lista de obras e recortes de imprensa. Correspondência interna e externa. Lista com países, comissários e artistas representados na Bienal. Programação musical da Bienal. Regulamento da 18.ª Bienal Internacional; lista de artistas e obras portuguesas apresentadas na Bienal. Fichas de participação na Bienal. 1984 – 1986

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 03178

Pasta com documentação referente ao pedido de subsídio/apoio de Júlio Pomar para a sua representação na 18.ª Bienal no Brasil. 1985 – 1985

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 03168

Pasta com documentação referente ao pedido de subsídio/apoio de Jorge Martins para a sua representação na 18.ª Bienal no Brasil. 1985 – 1985

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 03154

Pasta com documentação referente ao pedido de subsídio/apoio de António Dacosta para a sua representação na 18.ª Bienal no Brasil. 1985 – 1985

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00332

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Centro de Arte Moderna relacionada com o comissariado da representação portuguesa na 18.ª Bienal de São Paulo, entregue a José Sommer Ribeiro. 1984 – 1984


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