XX Bienal de São Paulo. Vieira da Silva – Artista Convidada

Bienal Internacional de São Paulo

Exposição da artista portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), integrada na 20.ª Bienal Internacional de São Paulo como «Sala Especial Internacional». Comissariada por José Sommer Ribeiro e Guy Wellen, esta mostra apresentava uma seleção de obras representativa de 52 anos de trabalho.
Exhibition on Portuguese artist Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) included in the 20th São Paulo International Biennial as the International Grand Hall. Curated by José Sommer Ribeiro and Guy Wellen, the show presented a selection of artworks representing 52 years of work.

Exposição individual de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), integrada na 20.ª Bienal Internacional de São Paulo.

Segundo o seu regulamento, a vigésima edição da Bienal de São Paulo tinha como objetivo «a apresentação das tendências significativas da arte contemporânea e também de carácter histórico ou antropológico», incluindo «mostras especiais, além de outras manifestações», que poderiam ser propostas pelos países participantes (Regulamento da 20.ª Bienal Internacional de São Paulo, 1989, Arquivos Gulbenkian, CAM 00173). Foi neste âmbito que surgiu a proposta de realização de uma «sala especial», como mencionada no catálogo e restante documentação, dedicada à artista portuguesa Vieira da Silva, que em 1961 havia recebido o Grande Prémio da 6.ª Bienal Internacional de São Paulo.

No ano anterior, Vieira da Silva fora homenageada com a grande mostra «Vieira da Silva. Exposição Comemorativa dos 80 Anos», comissariada por Dominique Bozo, e apresentada na Galeria de Exposições Temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian e no Grand Palais, em Paris. Contudo, para Sommer Ribeiro esta exposição na Bienal de São Paulo tinha um significado especial, uma vez que, como o próprio explica, era primeira vez, «depois de 1956, que V. S. admite que a sua representação não seja francesa e tenha dois comissários, Guy Weelen e eu» (Informação de José Sommer Ribeiro para Rita Ferreira, 31 set. 1989, Arquivos Gulbenkian, CAM 00174).

O ano de 1956 fora marcante para o casal Vieira da Silva e Arpad Szenes, pela concessão da nacionalidade francesa. Contudo, já na 2.ª Bienal de São Paulo, em 1953, Vieira da Silva integrara a representação de França. Na sua memória permaneciam lembranças de momentos difíceis, como a recusa da nacionalidade portuguesa, em 1939, quando Arpad – então apátrida, por não ter renovado o passaporte húngaro – fugia da guerra. Apesar de o exílio no Rio de Janeiro ter sido doloroso para a artista, as memórias do bom acolhimento levaram a que se entusiasmasse com esta «sala especial», emprestando duas obras, Le Désastre (1942) e Les Grandes Constructions (1956).

Ao curador da representação portuguesa, nomeado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e pela Secretaria de Estado da Cultura, José Sommer Ribeiro, juntou-se Guy Weelen, escritor, poeta e crítico de arte, que a partir de meados da década de 1950 se tornara colaborador do casal Arpad Szenes e Vieira da Silva, ocupando-se das suas exposições, catálogos, viagens, encontros e inventário das obras.

Com o objetivo de apresentarem uma seleção representativa da obra de Vieira, Sommer Ribeiro e Weelen reuniram um conjunto de pinturas abrangendo um período de 52 anos. Este período iniciava-se com Atelier Lisbonne (1934), que marcara o início da viagem da artista pelas formas geométricas e pela representação do espaço, e terminava com Le Retour d'Orphée (1982-1986), pintura densa e sombria que reflete a dor e a angústia vividas pela artista durante a doença e após a morte do seu marido.

Duas obras realizadas no Rio de Janeiro (Brasil), onde Vieira da Silva estivera exilada entre 1940 e 1947, foram integradas na mostra: Le Désastre (1942) e História Trágico-Marítima (1944). Nestes trabalhos, que denotam a presença da História na pintura da artista e o regresso à figura humana, são representadas multidões homogéneas de pessoas lutando pela sobrevivência em situações trágicas, como a guerra e os naufrágios, remetendo para os tempos difíceis da Segunda Guerra Mundial.

A partir de finais da década de 1940, a pintura de Vieira da Silva, como mostravam as obras expostas, tinha oscilado entre paisagens abstratas, naturais ou urbanas (La Plage, 1947; Les Pigeons de St. Marc, 1949, Paysage de Rumm, 1953; Londres, 1959; Le Port, 1965; La Rivière Bleue, 1965; New Amsterdam I e II, 1970, entre outras), espaços interiores (Intérieur, 1949; Biblioteca, 1949; Bibliothèque en Feu, 1974) e lugares do espírito (Sylvestre, 1953; Le Sommeil, 1969; Le Retour d'Orphée, 1982-1986). Uma vez que a sua obra estava intimamente ligada às suas experiências e vivências, ao ser exposta cronologicamente acabava por revelar diferentes momentos da sua vida, as suas viagens, as suas perdas, o seu fascínio por certos lugares e aspetos da cidade, e o modo como vivera tudo isto através da pintura.

Para acompanhar a exposição foi produzido um catálogo, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, no qual foram reproduzidas todas as obras expostas. Esta opção torna-se ainda mais relevante em face do grave incidente que ocorreu a menos de um mês da abertura da Bienal: o furto da pintura Biblioteca (1949), pertencente ao colecionador Jorge de Brito. A falta de segurança na sala e no restante edifício, como apurado pelo perito da seguradora, contribuiu fortemente para o sucedido. A correspondência revela que lamentavelmente esta obra não foi recuperada (Ofício de José Sommer Ribeiro para Maria Rodrigues Alves, 4 set. 1990, Arquivos Gulbenkian, CAM 00174).

Mariana Roquette Teixeira, 2018

Individual exhibition on Maria Helena Vieira da Silva (Lisbon, Portugal, 1908 - Paris, France, 1992) included in the programme of the 20th São Paulo Art Biennial.
According to its regulations, the twentieth São Paulo Biennial fundamentally aimed to: present the important trends of contemporary art and also historical or anthropological trends, including special exhibitions and other types of shows that could be suggested by participating countries (Regulations of the 20th São Paulo Art Biennial, 1989, Gulbenkian Archives, CAM 00173). This was the background behind the proposal to create a special room, as mentioned in the catalogue and remaining documents, dedicated to the Portuguese artist Vieira da Silva, who in 1961 had received the Grand Prize at the 6th São Paulo Art Biennial.
The previous year, Vieira da Silva had been recognised with a large exhibition Vieira da Silva. Exposição Comemorativa dos 80 Anos, curated by Dominique Bozo and shown at the Calouste Gulbenkian Foundation's Temporary Exhibitions Gallery and at the Grand Palais in Paris. However, the exhibition at the São Paulo Biennial had particular significance for Sommer Ribeiro because, as he explained: It's the first time since 1956 that V.S. has allowed herself to be represented by someone who isn't French, and the exhibition has two curators, Guy Weelen and me (Fax from José Sommer Ribeiro to Rita Ferreira, 31 Sept. 1989, Gulbenkian Archives, CAM 00174).
The year 1956 was an important one for Vieira da Silva and her partner Arpad Szenes because they were granted French nationality. However, at the 2nd São Paulo Art Biennial, in 1953, Vieira da Silva had been part of the French representation. She still remembered difficult times, such as the denial of Portuguese nationality in 1939 when Arpad was fleeing the war and was stateless at the time, having not renewed his Hungarian passport. Although their exile in Rio de Janeiro was painful for the artist, her memories of the warm welcome they received meant she was excited about this Special Room and lent two pieces for it: Le Désastre (1942) and Les Grandes Constructions (1956).
The curator of the Portuguese representation, José Sommer Ribeiro, who was appointed by the Minister of Foreign Affairs and the Secretary of State for Culture, was joined by Guy Weelen, writer, poet, art critic, who from the 1950s onwards had worked with Arpad Szenes and Vieira da Silva, taking care of their exhibitions, travel, meetings and the inventory of their work.
In order to present a representative selection of Vieira's work, Sommer Ribeiro and Weelen gathered a set of paintings that covered a period of 52 years, starting with Atelier Lisbonne (1934), which marked the start of the artist's journey through geometric shapes and the representation of space, and ended with Le Reourt d'Orphée (1982-1986), a dense, dark painting that reflects the pain and torment experienced by the artist during her husband's illness and then death.
Two pieces made in Rio de Janeiro (Brazil), where Vieira da Silva was exiled between 1940 and 1947, were included in the exhibition: Le Désastre (1942) and História Trágico-Marítima (1944), which reflect the presence of history in the artist's painting and the return of human figures. In these pieces, varied crowds of people fight for survival in tragic situations, such as war and shipwrecks, going back to the difficult times of the Second World War.
From the end of the 1940s onwards, Vieira da Silva's painting, as shown in the pieces exhibited, ranged between abstract, natural and urban landscapes (La Plage, 1947; Les Pigeons de St. Marc, 1949, Paysage de Rumm, 1953; Londres, 1959; La Porte ou la Rivière Bleue, 1965; New Amsterdam I and II, 1970, among others), internal spaces (Intérieur, 1949; Biblioteca, 1949; Bibliothèque en Feu, 1974) and places of the spirit (Sylvestre, 1953; Le Sommeil, 1966; Le Retour d'Orphée, 1982-1986). Since her work is intimately connected to her life experiences, displaying it chronologically revealed the different times in her life, her journeys, her losses, her fascination with certain places and aspects of the city, and the way she had lived all that through painting.
A catalogue was produced to accompany the exhibition, published by the Calouste Gulbenkian Foundation (FCG), in which all the pieces in the exhibition were reproduced. This decision became even more important in light of the serious incident that took place less than a month before the Biennial opened: the theft of the painting Biblioteca (1949), which belonged to collector Jorge de Brito. The lack of security in the room and the rest of the building, as identified by the security investigator, played an important role in the theft. Correspondence shows that sadly this piece was not recovered (Fax from José Sommer Ribeiro to Maria Rodrigues Alves, 4 Sept. 1990, Gulbenkian Archives, CAM 00174).

Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

História Trágico-Marítima ou Naufrage

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

História Trágico-Marítima ou Naufrage, Inv. 78PE97

La bibliothèque en feu

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

La bibliothèque en feu, Inv. 79PE96

L'aire du vent

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

L'aire du vent, Inv. PE102

Landgrave

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

Landgrave, Inv. PE103

L'Aqueduc (O Aqueduto)

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

L'Aqueduc (O Aqueduto), Inv. 86PE95


Publicações


Multimédia


Documentação


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00173

Pasta com o processo de produção da exposição da Representação Portuguesa na 20.ª Bienal Internacional de São Paulo. Contém texto para o catálogo da exposição de Vieira da Silva na 20.ª Bienal Internacional de São Paulo e correspondência relativa a esta exposição. 1988 – 1990

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00174

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém apólices de seguro; documentação da peritagem efetuada pela Companhia de Seguros Bonança, motivada pelo desaparecimento da obra «Biblioteca», de Maria Helena Vieira da Silva; correspondência; pedidos de empréstimo; fichas de empréstimo; listas de obras a figurarem na exposição; orçamento para o catálogo; material para o catálogo. 1989 – 1990

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM-S005/01/01-P0074

Coleção fotográfica, p.b.: aspetos (São Paulo) 1989


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