Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)
História Trágico-Marítima ou Naufrage, Inv. 78PE97
Bienal Internacional de São Paulo
Exposição individual de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), integrada na 20.ª Bienal Internacional de São Paulo.
Segundo o seu regulamento, a vigésima edição da Bienal de São Paulo tinha como objetivo «a apresentação das tendências significativas da arte contemporânea e também de carácter histórico ou antropológico», incluindo «mostras especiais, além de outras manifestações», que poderiam ser propostas pelos países participantes (Regulamento da 20.ª Bienal Internacional de São Paulo, 1989, Arquivos Gulbenkian, CAM 00173). Foi neste âmbito que surgiu a proposta de realização de uma «sala especial», como mencionada no catálogo e restante documentação, dedicada à artista portuguesa Vieira da Silva, que em 1961 havia recebido o Grande Prémio da 6.ª Bienal Internacional de São Paulo.
No ano anterior, Vieira da Silva fora homenageada com a grande mostra «Vieira da Silva. Exposição Comemorativa dos 80 Anos», comissariada por Dominique Bozo, e apresentada na Galeria de Exposições Temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian e no Grand Palais, em Paris. Contudo, para Sommer Ribeiro esta exposição na Bienal de São Paulo tinha um significado especial, uma vez que, como o próprio explica, era primeira vez, «depois de 1956, que V. S. admite que a sua representação não seja francesa e tenha dois comissários, Guy Weelen e eu» (Informação de José Sommer Ribeiro para Rita Ferreira, 31 set. 1989, Arquivos Gulbenkian, CAM 00174).
O ano de 1956 fora marcante para o casal Vieira da Silva e Arpad Szenes, pela concessão da nacionalidade francesa. Contudo, já na 2.ª Bienal de São Paulo, em 1953, Vieira da Silva integrara a representação de França. Na sua memória permaneciam lembranças de momentos difíceis, como a recusa da nacionalidade portuguesa, em 1939, quando Arpad – então apátrida, por não ter renovado o passaporte húngaro – fugia da guerra. Apesar de o exílio no Rio de Janeiro ter sido doloroso para a artista, as memórias do bom acolhimento levaram a que se entusiasmasse com esta «sala especial», emprestando duas obras, Le Désastre (1942) e Les Grandes Constructions (1956).
Ao curador da representação portuguesa, nomeado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e pela Secretaria de Estado da Cultura, José Sommer Ribeiro, juntou-se Guy Weelen, escritor, poeta e crítico de arte, que a partir de meados da década de 1950 se tornara colaborador do casal Arpad Szenes e Vieira da Silva, ocupando-se das suas exposições, catálogos, viagens, encontros e inventário das obras.
Com o objetivo de apresentarem uma seleção representativa da obra de Vieira, Sommer Ribeiro e Weelen reuniram um conjunto de pinturas abrangendo um período de 52 anos. Este período iniciava-se com Atelier Lisbonne (1934), que marcara o início da viagem da artista pelas formas geométricas e pela representação do espaço, e terminava com Le Retour d'Orphée (1982-1986), pintura densa e sombria que reflete a dor e a angústia vividas pela artista durante a doença e após a morte do seu marido.
Duas obras realizadas no Rio de Janeiro (Brasil), onde Vieira da Silva estivera exilada entre 1940 e 1947, foram integradas na mostra: Le Désastre (1942) e História Trágico-Marítima (1944). Nestes trabalhos, que denotam a presença da História na pintura da artista e o regresso à figura humana, são representadas multidões homogéneas de pessoas lutando pela sobrevivência em situações trágicas, como a guerra e os naufrágios, remetendo para os tempos difíceis da Segunda Guerra Mundial.
A partir de finais da década de 1940, a pintura de Vieira da Silva, como mostravam as obras expostas, tinha oscilado entre paisagens abstratas, naturais ou urbanas (La Plage, 1947; Les Pigeons de St. Marc, 1949, Paysage de Rumm, 1953; Londres, 1959; Le Port, 1965; La Rivière Bleue, 1965; New Amsterdam I e II, 1970, entre outras), espaços interiores (Intérieur, 1949; Biblioteca, 1949; Bibliothèque en Feu, 1974) e lugares do espírito (Sylvestre, 1953; Le Sommeil, 1969; Le Retour d'Orphée, 1982-1986). Uma vez que a sua obra estava intimamente ligada às suas experiências e vivências, ao ser exposta cronologicamente acabava por revelar diferentes momentos da sua vida, as suas viagens, as suas perdas, o seu fascínio por certos lugares e aspetos da cidade, e o modo como vivera tudo isto através da pintura.
Para acompanhar a exposição foi produzido um catálogo, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, no qual foram reproduzidas todas as obras expostas. Esta opção torna-se ainda mais relevante em face do grave incidente que ocorreu a menos de um mês da abertura da Bienal: o furto da pintura Biblioteca (1949), pertencente ao colecionador Jorge de Brito. A falta de segurança na sala e no restante edifício, como apurado pelo perito da seguradora, contribuiu fortemente para o sucedido. A correspondência revela que lamentavelmente esta obra não foi recuperada (Ofício de José Sommer Ribeiro para Maria Rodrigues Alves, 4 set. 1990, Arquivos Gulbenkian, CAM 00174).
Mariana Roquette Teixeira, 2018
História Trágico-Marítima ou Naufrage, Inv. 78PE97
La bibliothèque en feu, Inv. 79PE96
L'aire du vent, Inv. PE102
Landgrave, Inv. PE103
L'Aqueduc (O Aqueduto), Inv. 86PE95
Pasta com o processo de produção da exposição da Representação Portuguesa na 20.ª Bienal Internacional de São Paulo. Contém texto para o catálogo da exposição de Vieira da Silva na 20.ª Bienal Internacional de São Paulo e correspondência relativa a esta exposição. 1988 – 1990
Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém apólices de seguro; documentação da peritagem efetuada pela Companhia de Seguros Bonança, motivada pelo desaparecimento da obra «Biblioteca», de Maria Helena Vieira da Silva; correspondência; pedidos de empréstimo; fichas de empréstimo; listas de obras a figurarem na exposição; orçamento para o catálogo; material para o catálogo. 1989 – 1990
Coleção fotográfica, p.b.: aspetos (São Paulo) 1989
1969 / Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo
1973 / Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo
1975 / Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo
1971 / Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo
1987 / Pavilhão Engenheiro Armando de Arruda Pereira, São Paulo
1989 / Pavilhão Engenheiro Armando de Arruda Pereira, São Paulo
1994 / Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo
1985 / Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo