Grand Herbier d'Ombres

Exposição individual da artista Lourdes Castro (1930-2022), comissariada por Helena de Freitas. Além do conjunto de desenhos que emprestou o título à mostra, foram apresentados um documentário, material fotográfico e alguns livros e cartazes.
Solo exhibition of work by artist Lourdes Castro (1930-2022). The show, curated by Helena de Freitas, included not only the series of works from which the event derived its name, but additionally a documentary, photographic material, and books and posters.

Exposição de homenagem a Lourdes Castro (1930-2022), organizada pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian e pelo Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian. A exposição foi comissariada por Helena de Freitas e teve projeto museográfico de Teresa Nunes da Ponte.

A mostra centrou-se na apresentação do Grand Herbier d'Ombres, realizado no Funchal no ano de 1972. Complementarmente, foi projetado o documentário La Montagne de Fleurs (2009), de Geneviève Morgan, um vídeo com uma duração de dez minutos que regista a montagem da exposição de Lourdes Castro em 2003 no Museu de Serralves, incidindo particularmente na montagem da peça Montanha de Flores (1988), que terá tido origem, segundo Lourdes Castro, na queda das pétalas de um ramo de gerânios. Neste vídeo, além da artista, participam Manuel Zimbro, artista e companheiro de longa data de Lourdes Castro, João Fernandes, diretor da Fundação de Serralves, e Maria Burmester, assistente do diretor (La Montagne de Fleurs [vídeo], 2009).

Apresentada pela primeira vez em 2002, na exposição «Grande Herbário de Sombras», no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, esta apresentação do Grand Herbier d'Ombres assumiu uma importância simbólica e unificadora de dois tempos e espaços na vida de Lourdes Castro: Paris, local onde a artista viveu e trabalhou durante vinte e cinco anos e que marcou o início a sua pesquisa plástica relacionada com a representação das sombras; e o Funchal, a sua terra natal e onde, em 1972, desenvolveu o Grand Herbier d'Ombres, trabalho que representa o culminar desta fase de experimentação. Começada em 1961, a prática artística que seria resumida na série das Sombras equaciona a dimensão, representação e materialidade da obra, recorrendo a um novo enquadramento através da alteração da dimensão e formato do suporte, substituindo a bidimensionalidade pela perceção tridimensional e utilizando novos materiais como lençóis, plexiglas e acrílico fluorescente recortado.

Integrado neste campo de pesquisa de representação das sombras, Grand Herbier d'Ombres assume a função de inventário de espécies botânicas, que, registadas por fototipia – com papel heliográfico sob luz solar –, sugerem um efeito de desmaterialização do real, conceito essencial na obra de Lourdes Castro (Grand Herbier d'Ombres [folha de sala], 2009, Arquivos Gulbenkian, PRS 05374).

O objeto artístico ganha assim um valor científico, que lhe é conferido pelo método e pela seriação, já que, a par dos desenhos, a artista acrescenta a cada imagem uma etiqueta de que constam o nome científico da planta, o nome vulgar e o seu habitat. Sobre a identificação das plantas, Lourdes Castro comentaria, ao revisitar o seu processo de trabalho em 2002, por ocasião da publicação do Grand Herbier d'Ombres: «Hoje, […] ao reparar nas omissões ou possíveis incorrecções na identificação de algumas espécies, preferi, apesar de tudo, deixar a imagem deste herbário na sua total integridade. Não só traduz melhor as minhas prioridades, como nem por sombras afecta as plantas em si.» (Lourdes Castro, Grand Herbier d'Ombres, nov. 2002, s.p.)

Tal como explica Helena de Freitas no catálogo da exposição, a sombra para Lourdes Castro não é símbolo da obscuridade, mas da luz, que se assume como reveladora de contornos. A representação de sombras significa para a artista a transferência de foco do sujeito/objeto para o que se encontra em redor dele: a luz, a atmosfera, a hora… (Grand Herbier d'Ombres, 2009).

Parafraseando a comissária da exposição, a singularidade desta obra residia no facto de se situar entre o material e o imaterial, representando elementos naturais do dia-a-dia e o seu duplo, ou seja, os mesmos e a sua sombra, a linha que separa o mundo das coisas concretas da realidade invisível. Trata-se da evocação de outras imagens que não as representadas e que permitem ao observador ver mais que o desenhado: «Dans les pages de cet Herbier et dans les ombres de chacune des plantes y représentées, nous voyons beaucoup plus que leur traits. Leur pouvoir évocatoire d'autres images nous place sur le territoire éblouissant de l'utopie.» (Grand Herbier d'Ombres [folha de sala], 2009, Arquivos Gulbenkian, PRS 05374)

Em Paris, a exposição replicou alguns aspetos da mostra de Lisboa, nomeadamente a grande parede de cor violeta, onde se podia ler a frase: «L'intensité de lumière dans l'exposition de ces ombres n'as pas d'autre signification que de leur retarder l'impermanence dans la vulnérabilité du support qui les a fixé.» (Grand Herbier d'Ombres, 2009, s.p.)

Apesar das semelhanças com a mostra de Lisboa, o projeto curatorial da apresentação em Paris agregou um maior número de obras em exposição, distribuídas por várias salas dos dois pisos do número 51 da Avenue d’Iéna. Além dos desenhos de Lourdes Castro, contou com a projeção do documentário de Geneviève Morgan, bem como com um conjunto de fotografias retratando a artista em Paris (na década de 1960) e na sua terra natal, rodeada pela flora da ilha (em 2007, 2008 e 2009), a que se juntaram ainda catálogos e cartazes cedidos por Lourdes Castro para a ocasião.

No texto de apresentação do catálogo da exposição, Emílio Rui Vilar qualificaria o Grand Herbier d'Ombres como «simples, discreto e intenso, além de assinalador do percurso de Lourdes Castro». Tal como para a comissária da exposição, também para o presidente do Conselho de Administração da Gulbenkian esta exposição assumiu um significado duplo, simbólico e celebrativo, representando, no mesmo espaço, dois locais geográficos de grande importância para a artista (Grand Herbier d'Ombres, 2009, s.p.).

A exposição foi divulgada no blogue Duas ou Três Coisas, de Francisco Seixas da Costa, no qual o autor descreve, em traços gerais, a inauguração («A abertura foi no dia 13 de Outubro e o entusiasmo de Lourdes Castro contagiou quem com ela viveu esses momentos, em que recordou os tempos dos anos 50 em que veio para Paris») e convida o público a visitar a mostra. Também o papel da Fundação é elogiado por Francisco Seixas da Costa, que considera o seu «contributo inestimável para a projecção da nossa cultura na capital francesa, conseguindo, com maestria, aliar temáticas cada vez mais diversas» (Costa, «Lourdes Castro», Duas ou Três Coisas, 18 out. 2009).

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Ombre d'Aralia

Lourdes Castro (1930-2022)

Ombre d'Aralia, Inv. GP2256


Publicações


Material Gráfico


Multimédia


Documentação


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05374

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém material para o catálogo, correspondência externa e interna, apólices de seguros, folha de sala, o número 97 da revista «A Phala», orçamentos, informações sobre a montagem, plantas e alçados. 2009 – 2010


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