Amigos de Paris. Lourdes Castro, René Bertholo, José Escada, Jorge Martins

Exposição fora de portas organizada pela Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva em colaboração com o Centro de Arte Moderna da FCG. Comissariada por Ana Vasconcelos e Melo e Marina Bairrão Ruivo, a mostra reuniu obras de quatro artistas próximos do casal Vieira da Silva e Arpad Szenes: Lourdes Castro, René Bertholo, Jorge Martins e José Escada.
Outdoor exhibition organised by the Arpad Szenes-Vieira da Silva Foundation in collaboration with the Calouste Gulbenkian Foundation’s Modern Art Centre. Curated by Ana Vasconcelos e Melo and Marina Bairrão Ruivo, the show featured works by four artists who were close to the Vieira da Silva and Arpad Szenes couple: Lourdes Castro, René Bertholo, Jorge Martins e José Escada.

Exposição organizada pela Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva (FASVS), em colaboração com o Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Comissariada por Ana Vasconcelos, curadora do CAM, e por Marina Bairrão Ruivo, diretora da FASVS, reuniu trabalhos de quatro artistas próximos do casal Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva: Lourdes Castro (1930-2022), René Bertholo (1935-2005), Jorge Martins (1940) e José Escada (1934-1980). Pretendeu mostrar trabalhos de início de carreira que ilustrassem «um período crucial da produção dos artistas enquanto jovens» e que apontassem «já futuras direcções de pesquisa» (Amigos de Paris. Lourdes Castro, René Bertholo, José Escada, Jorge Martins, 2012, p. 6). Aos trabalhos provenientes da FASVS, juntaram-se obras cedidas pelo CAM e obras de coleções privadas.

O relacionamento de Arpad Szenes (1897-1985) e de Vieira da Silva (1908-1992) com este grupo de artistas teve início com a ida do casal para Paris (movido pela necessidade de um maior estímulo cultural e intelectual), onde viveu em situação de exílio entre 1940 e 1947, período durante o qual, ainda assim, nunca cessou o contacto com artistas e intelectuais portugueses.

Os anos de 1950 foram de grande desenvolvimento e reconhecimento das obras de Arpad Szenes e Vieira da Silva, o que, conjugado com a necessidade de vários outros artistas portugueses saírem do país, levou a que fossem frequentemente procurados em Paris. Acrescia a esta situação a criação da FCG em 1956, cuja política de apoio às artes, através da atribuição de bolsas de estudo no estrangeiro, levou a um «êxodo criativo, motivado por dissidência cultural ou política convergida sobretudo para Paris» (Amigos de Paris. Lourdes Castro, René Bertholo, José Escada, Jorge Martins).

Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes foram um importante elo neste processo, ao receberem generosamente os artistas portugueses que chegavam a Paris com poucos recursos, interessando-se por aquilo que tinham para contar e providenciando materiais e trabalhos seus, para que pudessem vender em situações de dificuldade financeira. Por seu turno, os artistas recebidos pelo casal doavam por vezes os seus trabalhos, em jeito de agradecimento, o que constitui hoje um dos núcleos do acervo da FASVS. Além destas doações, o casal fazia questão de adquirir telas, num apoio não isento de sentido crítico. Nas palavras de Vieira da Silva: «Nós ambos acompanhamos com muito interesse o desenvolvimento artístico dos jovens pintores portugueses que aqui nos procuram, incutindo-lhes coragem e orientando-os quanto possível no início das suas carreiras.» (Carta de Maria Helena Vieira da Silva para José de Azeredo Perdigão, 11 set. 1958, Arquivos Gulbenkian, ID: 267643)

No texto que assinam no caderno de exposição, as curadoras frisam também o carinho e a vontade que o casal tinha de apoiar o trabalho dos jovens artistas, lembrando que, na correspondência trocada, «é comum encontrar expressões como "os meus queridos bolseiros" ou "nos chers enfant". A troca de correspondência e fotografias documenta a ternura sincera que partilhavam» (Amigos de Paris. Lourdes Castro, René Bertholo, José Escada, Jorge Martins, 2012, p. 5).

A relação de Lourdes Castro e René Bertholo com Vieira da Silva e Arpad Szenes remontava ao grupo KWY, fundado por Castro e Bertholo em Paris, juntamente com Costa Pinheiro (1932-2015), Gonçalo Duarte (1935-1986), João Vieira (1934-2009), José Escada, Jan Voss (1936) e Christo (1935-2020), do qual resultaram doze publicações com o mesmo nome, todas assinadas por Vieira da Silva e Arpad Szenes, que nela colaboraram com a cedência de matrizes para a edição de serigrafias. A pesquisa que Lourdes Castro conduzia na altura, baseada na representação de sombras em plexiglas e na construção de objetos-caixa, esteve presente nesta exposição, através da cedência de alguns trabalhos pertencentes à coleção do CAM, como Sombra Projectada de René Bertholo (1965), In the Café (1964) e Caixa Azul (1963).

De René Bertholo foram mostrados vários desenhos e pinturas produzidos na década de 1960, caracterizados por passagens entre a abstração e a figuração e que integram, de forma irónica e poética, elementos do dia-a-dia para a construção de um inventário do quotidiano vivenciado. Foram ainda expostos objetos mecânicos com motores elétricos, como Nuvem com Superfície Variável – III (1967).

A ligação de José Escada, elemento do grupo KWY, a Vieira da Silva e Arpad Szenes, teve início em 1959, quando o artista ganhou uma bolsa de estudo da FCG para estudar pintura em Paris, sob a orientação do casal. As obras expostas refletem este período de grande experimentação de materiais e técnicas, visível nos desenhos a grafite e tinta-da-china e, mais tarde, continuado nas pinturas a óleo sobre tela, como em Auto-retrato (1972) e no trabalho a chapa de ferro sobre madeira intitulado Relevo Espacial (1974).

Jorge Martins não fez parte do grupo KWY nem foi bolseiro da FCG. Foi, no entanto, um dos artistas mais próximos de Vieira da Silva e de Arpad Szenes, devido ao longo período em que viveu em Paris e trabalhou nos seus ateliês, na capital francesa e em Yèvre-le-Châtel. O trabalho exposto data das décadas de 1960 e 1970 e é o resultado de uma investigação pictórica, escultórica e fotográfica sobre a forma e a luz, como exemplificam os trabalhos Precious Stones (1965) e La Couleur et la Lumière (1973).

O apoio do casal aos jovens artistas, pelos quais exercia influência junto da FCG, incluiu pedir que as suas bolsas de estudo fossem prolongadas, conforme atesta o conjunto de cartas trocadas entre Maria Helena Vieira da Silva, Arpad Szenes, José de Azeredo Perdigão (presidente da FCG), Artur Nobre de Gusmão (diretor do Serviço de Belas-Artes da FCG) e Maria José de Mendonça (diretora do Serviço de Museu da FCG). Numa destas cartas, referindo-se a Lourdes Castro, René Bertholo e Eduardo Luiz (1932-1988), Vieira da Silva revelou que, apesar de lhe chegarem numerosos pedidos de ajuda, apenas acedia quando acreditava no trabalho dos artistas: «[…] foi precisamente porque os acho dignos de todo o interesse. Não foi por acaso, nem por condescendência passiva. Ao contrário, tive muitas lutas com pessoas que queriam que as recomendasse e que não recomendei por não as conhecer, por não estar certa das suas qualidades.» (Carta de Maria Helena Vieira da Silva para Maria José de Mendonça, 24 jun. 1959, Arquivos Gulbenkian, ID: 267642)

O papel da pintora foi reconhecido pelo Estado português em 1988, ano em que Vieira da Silva celebrou oitenta anos e em que a FCG lhe dedicou uma exposição antológica («Vieira da Silva. Exposição Comemorativa dos 80 Anos»). Neste ano, a pintora foi também condecorada com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade pelo presidente da República Mário Soares, distinção destinada a personalidades que lutaram contra a ditadura e, como lembrou Francisco Montalto Cambim, na sua dissertação de mestrado, «no seu caso específico, também destinada a reconhecer o apoio que sempre deu a artistas portugueses exilados» (Cambim, 1970 – O Ano de Vieira da Silva em Portugal. A grande retrospetiva na Fundação Calouste Gulbenkian, set. 2017, p. 19).

O pequeno caderno que acompanhou esta exposição inclui um texto assinado por Marina Bairrão Ruivo em colaboração com Ana Vasconcelos, onde se dá conta do contexto que envolve as obras expostas, algumas das quais reproduzidas a cores na publicação.

A exposição foi divulgada pela plataforma digital PPorto.pt, num artigo ilustrado pela obra Caixa de Madeira (1963), de Lourdes Castro, pertencente à coleção do Centro de Arte Moderna.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Cordilheira

Jorge Martins (1940-)

Cordilheira, 1970 / Inv. 83P515

La Couleur et la Lumière

Jorge Martins (1940-)

La Couleur et la Lumière, 1973 / Inv. 81P516

Precious Stones

Jorge Martins (1940-)

Precious Stones, 1965 / Inv. 94P338

s/título

Jorge Martins (1940-)

s/título, 1965 / Inv. DP1225

s/título

Jorge Martins (1940-)

s/título, 1965 / Inv. DP1223

s/título

Jorge Martins (1940-)

s/título, 1962 / Inv. DP1224

Auto-Retrato

José Escada (1934-1980)

Auto-Retrato, 1972 / Inv. 82P629

S/Título

José Escada (1934-1980)

S/Título, 1973 / Inv. 83P1012

S/Título

José Escada (1934-1980)

S/Título, 1963 / Inv. DP1067

S/Título

José Escada (1934-1980)

S/Título, 1965 / Inv. DP1066

S/Título (Relevo Espacial)

José Escada (1934-1980)

S/Título (Relevo Espacial), 1974 / Inv. 95P347

Caixa Azul

Lourdes Castro (1930-2022)

Caixa Azul, Inv. 99E808

Caixa madeira

Lourdes Castro (1930-2022)

Caixa madeira, Inv. 99E809

In the Café

Lourdes Castro (1930-2022)

In the Café, Inv. 92P300

Letras e duas casas

Lourdes Castro (1930-2022)

Letras e duas casas, Inv. 10P1622

Letras e Pente

Lourdes Castro (1930-2022)

Letras e Pente, Inv. 10P1623

Odalisque d' Après Ingres

Lourdes Castro (1930-2022)

Odalisque d' Après Ingres, Inv. 67P291

Outubro

Lourdes Castro (1930-2022)

Outubro, Inv. 60P245

Sombra de Abacateiro

Lourdes Castro (1930-2022)

Sombra de Abacateiro, Inv. DP1393

Sombra Projectada de Marta Minujín

Lourdes Castro (1930-2022)

Sombra Projectada de Marta Minujín, Inv. 10P1624

Sombra projectada de René Bertholo

Lourdes Castro (1930-2022)

Sombra projectada de René Bertholo, Inv. 81P566

Duas janelas

René Bertholo (1935-2005)

Duas janelas, 1964 / Inv. 65P267

Nuvem com Superfície Variável - III

René Bertholo (1935-2005)

Nuvem com Superfície Variável - III, 1967 / Inv. 01E1215

Pintura

René Bertholo (1935-2005)

Pintura, 1959/60 / Inv. 60P246

sem título

René Bertholo (1935-2005)

sem título, 1964 / Inv. 97DP1714


Publicações


Documentação


Periódicos


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