Tau

N.º Inv.
ADD298
Data
c. 1988
Materiais e técnicas
Grafite, tinta acrílica e colagem sobre papel colado em papel
Medidas
5,8 x 3,7 cm (mancha) 10,5 x 7,5 cm (suporte)
Proveniência
Coleção privada
Inscrições

«A. Dacosta»
[frente, canto inferior direito (fora da mancha)]

Esta obra pertence à vasta série Tau, apenas apresentada postumamente, sendo possível a partir de então avaliar a sua importância na produção final de Dacosta. O uso do «T» como elemento central na composição, como observamos aqui, é uma característica desta marcante série, tal como a ausência de outros elementos que perturbem a sua colocação, sendo apenas rodeados pela superfície, por norma monocromática, em tons escurecidos e textura áspera, no caso em tons de azul-escuro.

Após ter visitado o Retábulo de Issenheim (c. 1512-1516), famosa obra encomendada a Mathias Grünewald (c. 1470-1528) pelo Mosteiro de Santo Antão (ou Santo António Abade) de Issenheim para a capela do seu hospital – destinada a doentes do fogo sagrado ou fogo de Santo António -, Dacosta terá começado a projetar o complexo instalativo de pintura numa reflexão sobre estruturas retabulares, desenvolvido a partir da marcante série Tau, que pensava para uma exposição na Galeria 111. O Retábulo de Issenheim seria uma referência central para a série do Tau. O «T» da crucificação associava-se ao «T» que os monges cosiam nas suas vestes e que imprimiam nas coxas dos porcos que tratavam, porcos estes que eram uma das suas principais fontes de autossubsistência e riqueza. Por seu lado, o porco era um dos símbolos de Santo Antão e era a forma do seu bastão.

Devido a um texto que António Dacosta ditou a Bernardo Pinto de Almeida explicando o sentido desta marcante série [ADP291], sabemos que o Tau se relaciona com Santo Antão (ou Santo António Abade) e com os frades Antoninos de Issenheim: «Esta ordem, criada em França nos finais do século XI na sequência de uma grande epidemia de uma doença conhecida pela designação de “fogo sagrado” que espalhou por várias regiões e para cuja cura eram invocadas as benesses de Santo António (o das tentações também conhecido por Santo Antão). (…) O crescente afluxo de peregrinos obrigava os frades a procurar fontes de rendimento através de coletas e também pela criação de porcos. No final do século XIII uma bula de Clemente IV estabelece para os frades o direito absoluto à criação dos “porcos de Santo António”. Estes eram marcados pelo TAU, signo que tem a forma da letra T que os frades traziam também inscrita sobre o hábito que vestiam» (Dias, 2016, p. 314).


Bibliografia


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