José Dominguez Alvarez

Porto, Portugal, 1906 – Porto, Portugal, 1942

José Cândido Dominguez Alvarez nasceu no Porto, filho de pais galegos. Cursou pintura na mesma cidade, onde foi um dos membros principais do grupo modernista +Além. As áridas paisagens do norte da Espanha, que conhece durante uma viagem, influenciaram a sua obra, bem como as lições colhidas em El Greco e nos pintores espanhóis seus contemporâneos. Desta altura datam algumas das suas obras mais emblemáticas, como as paisagens castelhanas e os estranhos retratos de figuras ao mesmo tempo próximas e irreais.

Depois de concluir a sua formação básica, Domingues Alvarez mudou-se para Pontevedra para realizar estudos de comércio. No entanto, desiludido com as perspetivas laborais que esta formação lhe proporcionaria, regressou ao Porto onde, contra a vontade dos pais, se matriculou na Escola de Belas Artes.

Adotou na escola imediatamente uma posição de rutura e, juntamente com um grupo de estudantes dos primeiros anos, publicou em 1929 o manifesto do grupo +Além. Inspirado noutro manifesto, ¡Máis alá!, publicado uns anos antes na Galiza pelo poeta Manuel Antonio e pelo pintor Álvaro Cebreiro, o manifesto +Além criticava o paisagismo tradicional português e defendia a modernidade vanguardista.

A sua participação no grupo +Além fez com que Dominguez Alvarez ganhasse reconhecimento e participasse na sua primeira exposição coletiva, que teve lugar em Novembro de 1929 no Salão Silva Porto. Esta exposição significou para Alvarez um importante apoio. Antes de mais, foi reconhecido pelos seus companheiros de grupo, que consideravam o seu trabalho superior às outras obras expostas. Alguns meses depois voltou a expor no mesmo local, na companhia de Artur Justino, também membro do grupo +Além. Esta exposição foi animada por uma conferência sobre a arte moderna proferida pelo poeta Adolfo Casais Monteiro, que acabaria por se tornar um dos principais defensores da sua obra. Alvarez despertou igualmente a simpatia de outros intelectuais, como Alberto de Serpa, Miguel Torga ou José Régio, que elogiaram sempre o seu trabalho.

As pinturas apresentadas nestas primeiras exposições fazem parte de uma primeira fase da sua obra, conhecida como a fase vermelha (1926-1929), que se caracteriza pela utilização de cores vivas, intensas e pouco trabalhadas. Os temas são preferencialmente paisagens urbanas, bairros populares, os meandros e vielas do Porto, como em Casario com roupa a secar, Sé do Porto e Telhados. Também deste período é a sua série «fábricas», que faz lembrar bastante as pinturas dos arredores milaneses de Mario Sironi (1885-1961).

Em 1929 tem início a etapa que pode ser considerada de consolidação (1929-1936). É também a sua fase mais pessoal, complexa e interessante. Continua a explorar o seu imaginário pessoal, e algumas das suas obras mais significativas são fruto dessa experimentação: Homens tortos, Casario com homens tortos, Casario e figuras de um sonho, etc. São vistas citadinas de conotações expressionistas pelas quais vagueiam bêbados e homens tortos de chapéu alto, sempre vestidos de preto – figuras de uma ingenuidade tremendamente moderna e muito sugestiva.

Foi também durante este período que Dominguez Alvarez realizou uma longa viagem por Espanha, que marcaria profundamente a sua obra. A viagem permitiu-lhe conhecer diretamente a paisagem castelhana, de frequentar os museus espanhóis, de estudar de perto a obra de El Greco e, sobretudo, de conhecer em primeira mão a obra de pintores como José Gutiérrez Solana (1886-1945), Ignacio Zuloaga (1870-1945), Darío de Regoyos y Valdés (1857-1913) ou Aureliano de Beruete y Moret (1845-1912). Os trabalhos destes tiveram um grande impacto em Alvarez, e levaram-no a abandonar o tipo de pintura que tinha feito até então. Fruto desta mudança são paisagens como Segóvia ou Paisagem com castelo. É também sob esta influência que pinta O Bispo, Louco, Homem Compostelano ou Don Quixote, figuras estranhas que se encontram algures entre a proximidade e a irrealidade, geralmente retratadas com cores escuras, opacas, irreais, de grande originalidade nas artes plásticas portuguesas.

Durante estes anos, Dominguez Alvarez deu mostras de um marcada inclinação ibérica e de um enorme interesse em transformar-se num artista de ligação entre Espanha e Portugal, mais concretamente entre a Galiza e o norte de Portugal. De facto, tentou organizar no Porto uma grande exposição de arte galega, para a qual entrou em contacto com artistas como Alfonso Rodríguez Castelao (1886-1950), Francisco Llorens Díaz (1874-1948), Carlos Maside García (1897-1958), Arturo Souto Feijoo (1902-1964) e Laxeiro (José Otero Abeledo, 1908-1996). Contudo, a sua reduzida influência nos meios artísticos dos dois lados da fronteira, o pouco interesse que estes mostraram no seu projeto e as difíceis circunstancias políticas da época fizeram fracassar esta tentativa.

Este desapontamento, bem como o agravamento da tuberculose de que padecia desde muito novo e a desilusão pela deriva política que se vivia na Península (em 1936 renunciou à nacionalidade espanhola), explicam que Dominguez Alvarez tenha acabado por, de certa forma, fraquejar no seu compromisso artístico, e inclusivamente pessoal, confirmando, em ultima instância, aqueles que, desde os seus primeiros passos, o tinham avisado contra os seus «caprichos» modernistas. Tem início aqui aquela que é considerada a sua terceira e última etapa (1937-1942). Uma fase ao mesmo tempo de reconhecimento e desilusão, na qual o pintor renuncia à sua visão específica da realidade, aos retratos sombrios nos quais são percetíveis as influências espanholas, para se ir aproximando cada vez mais da esteira de Joaquim Lopes (1886-1956) ou Marques de Oliveira (1853-1927). Passa a pintar sobretudo paisagens dos arredores do Porto, quase todas de formato pequeno e de grande harmonia cromática; exercícios de grande virtuosismo, extremamente agradáveis e muito melancólicos, mas aos quais falta a modernidade, o ar de irrealidade e atrevimento, que caracterizaram os seus quadros anteriores.

 

António Trinidad

Atualização em 16 abril 2023

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.