António Pedro

Praia, Cabo Verde, 1909 – Moledo, Portugal, 1966

António Pedro da Costa nasceu a 9 de Dezembro de 1909, na Cidade da Praia, Cabo Verde, descendente de uma família do Alto Minho pelo lado paterno e irlando-galesa pela mãe. A sua ação cultural extravasou as especializações disciplinares: criou pintura, cerâmica, dramaturgia, poesia, litografia, cenografia, e trabalhou para jornais, revistas, rádio e televisão.

Estudou entre 1921-1925 no colégio jesuíta de La Guardia, na Galiza, frequentando a seguir dois anos de Direito, em Coimbra (1928-1930), e um de Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras de Lisboa (1930-1931). Com dezasseis anos realizou uma primeira exposição de desenhos e caricaturas (de professores seus do liceu) em Viana do Castelo, e no ano seguinte publicou o seu primeiro livro de poesia, intitulado Os meus sete pecados capitais. Foi um dos organizadores do I Salão dos Independentes (1930) e participou nas exposições do Secretariado de Propaganda Nacional em 1939, 1942 e 1944.

A sua intervenção no panorama cultural português assumiu também dimensões políticas. Com 19 anos fundou e dirigiu o semanário monárquico A Bandeira, e codirigiu, em 1931, com Dutra Faria o semanário nacionalista Acção Nacional. Esteve também ligado à publicação Revolução, Diário Sindicalista da Tarde (1932-1933), e envolveu-se na campanha presidencial de Norton de Matos em 1949.

A sua produção pictórica é forjada a partir da década de 30, e encontra-se marcada pela sua vivência e experiência em Paris, para onde partiu em 1934. Neste período estuda no Institut d’Art et d’Archéologie da Sorbonne com os professores Henri Focillon (1881-1943) e Charles Lalo (1877-1953), entre outros. Ao mesmo tempo trabalha nas academias livres de desenho. Durante a estadia de dois anos na capital francesa assina o manifesto do «Dimensionismo», de 1934, juntamente com Marcel Duchamp (1887-1968), Robert Delaunay, Wassily Kandinsky (1866-1944), Joan Miró, Francis Picabia, Jean Arp e Alexander Calder (1898-1976), e expõe os seus poemas «dimensionais» no Salon des Surindépendants (1935). No ano seguinte, já em Portugal, realiza a sua primeira exposição individual, 20 Poemas Dimensionais e outros Desenhos, na Galeria UP, um espaço dedicado à arte moderna que António Pedro fundou em Dezembro de 1932.

Com António Dacosta e a escultora britânica Pamela Boden (1905-1981) realiza, em Novembro de 1940, uma exposição de pintura na Casa Repe, onde explora propostas ligadas ao surrealismo. Depois de viver um ano entre S. Paulo e o Rio de Janeiro (1941), aceita ser o correspondente da secção portuguesa da BBC em Londres durante os dois derradeiros anos da II Guerra Mundial (Janeiro de 1944 a Outubro de 1945). Neste período, mantém-se ligado ao Grupo Surrealista de Londres, participando na exposição Surrealist Diversity realizada na Arcade Gallery, que contou com a participação de artistas como Jean Arp, Giorgio de Chirico (1888-1978), Max Ernst, Miró, Victor Brauner (1903-1966), Paul Delvaux (1897-1994), René Magritte (1898-1967), Paul Klee (1879-1940), Alberto Giacometti, Man Ray e Pablo Picasso. Regressando em 1946 a Portugal, integra o Grupo Surrealista Português, fundado em 1947, e colabora na 1ª Exposição Surrealista de 1949.

António Pedro manteve, ainda assim, reservas significativas em relação ao movimento surrealista. Nos folhetins de Horizonte, saídos entre Novembro de 1946 e Junho de 1947 e posteriormente reunidos em Introdução a uma História da Arte (1948), encontram-se expendidas algumas das suas convicções artísticas. A par da importância que atribui ao sonho e aos dados irracionais como fonte de inspiração, defende a preponderância da qualidade formal e da perícia técnica no ato criativo: «Esta, entre outras menores, a minha discordância com a tese surrealista ortodoxa (…) Ofício e técnica teoricamente denegados pelos surrealistas puros levariam a obra de arte, ou o seu equivalente, a estagnar na escrita ou no desenho automáticos.»* Sobre esta divergência escreveu Fernando de Azevedo que «António Pedro não se perfazia de forma inteira na prática do automatismo, prática que apaixonou a maioria dos seus companheiros do grupo português e para alguns deles foi descoberta decisiva.»**

No Verão de 1951 António Pedro abandona Lisboa para se instalar na sua casa familiar em Moledo do Minho, onde se dedicará à produção de cerâmica. Envolveu-se também na encenação, sobretudo desde finais dos anos 40, criando e dirigindo vários grupos teatrais, entre os quais o Teatro Experimental do Porto (1953-1962). Paralelamente a estas atividades manteve colaborações constantes com revistas (Mundo Literário, Horizonte, Presença, ABC, Cadernos de Poesia, a série Córnio) e jornais (Diário de Lisboa, Diário de Notícias, Comércio do Porto). Criou em 1942 a Variante – «revista de arte viva», como escreveu no primeiro número –, no mesmo ano em que publica a novela surrealista Apenas uma Narrativa. Em 1965 escreve o texto «Sentido e expressão do nu no Renascimento e no Barroco», para a obra O Nu na Arte Ocidental, somente publicado em 1975. Em 1966 publica o seu último livro, Pequeno Tratado de Encenação. Morre neste ano, a 17 de Agosto, com 57 anos de idade.

Em 1979 a sua pintura foi alvo de uma grande retrospetiva organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1982 a Biblioteca Nacional de Portugal organizou uma exposição de Desenhos e Manuscritos, a partir do espólio de António Pedro que a biblioteca conserva desde Julho de 1980.

 

Catarina Crua

Novembro de 2011

 

* António Pedro. Introdução a uma História da Arte: Génese e características do fenómeno estético. Lisboa: Horizonte, 1948, p.68.

** Fernando de Azevedo. “O Ensaísta”, in António Pedro, 1909 -1966: pintura, escultura, cerâmica, poesia, romance, teatro, teoria crítica, política, jornalismo. Catálogo de exposição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979, p. 39.

Atualização em 16 abril 2023

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