Em finais de Outubro de 1947, ocorreu o primeiro encontro que formaria o designado Grupo Surrealista de Lisboa. Teve lugar na pastelaria Mexicana, na Praça de Londres, e dele fizeram parte António Pedro, Alexandre O’Neill, António Domingues, Fernando Azevedo, Cândido Costa Pinto, Marcelino Vespeira e José-Augusto França. A única exposição realizada pelo grupo, entre 19 e 31 de Janeiro de 1949, no antigo atelier de António Pedro e António Dacosta, reuniu 51 obras, entre pintura, desenho, colagem e objectos; foi apresentado este Cadavre exquis ou Quadro Colectivo – assim designado no catálogo –, que surtiu um grande destaque da crítica à exposição, e um outro Cadavre exquis de Azevedo e Vespeira.
Dividido em cinco partes, o Cadavre exquis executado por António Domingues, Fernando Azevedo, António Pedro, Marcelino Vespeira e Moniz Pereira, respectivamente da esquerda para a direita e de cima para baixo, é uma pintura de grandes dimensões. Com a superfície pictórica totalmente preenchida, este quadro foi realizado conforme o processo tradicional, em que cada artista desconhecia a parte pintada pelos restantes intervenientes. No final, juntaram a criação de cada um, passando o trabalho individualizado a ser colectivo. A unidade desta tela pode ser encontrada nas linhas e formas que se relacionam, como por exemplo, na junção entre a área pintada por Vespeira e Moniz Pereira. Uma das curiosidades deste género de obras reside na percepção das semelhanças existentes entre a parte pintada por cada artista e o conjunto do seu trabalho pictórico. Mas a grande diferença desta pintura face a outras do mesmo género, reflecte-se, no dizer de José-Augusto França, na «primeira experiência que se fez no mundo surrealista, em tais dimensões, já de exigência oficinal»*.
Patrícia Rosas
Janeiro de 2010
* José-Augusto França, A Pintura Surrealista em Portugal, Lisboa, Artis, 1966, p. 11.