A exposição «Tapeçarias de Portalegre» foi integrada no Programa de Cultura Portuguesa no Brasil, organizado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, pela Secretaria de Estado da Cultura e pelo Fundo de Fomento de Exportação, com a colaboração da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), da Gravura – Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros e da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre.

Esta iniciativa surgiu após a realização de uma reunião que juntou, no dia 19 de abril de 1978, o representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Mattos Taquenho, o pintor e coordenador do Gabinete das Atividades Externas da Secretaria de Estado da Cultura, Nikias Skapinakis, e ainda o representante do Fundo de Fomento de Exportação. Nessa ocasião foi debatida uma proposta para organizar e apresentar um programa dedicado à cultura portuguesa aquando da visita do presidente da República Portuguesa, António Ramalho Eanes, ao Brasil (Nota interna de José Sommer Ribeiro, 26 abr. 1978, Arquivos Gulbenkian, SEM 00126).

A Fundação Calouste Gulbenkian apoiou esta iniciativa e colaborou na sua organização. A sua participação consistiu sobretudo na produção e apresentação da exposição dedicada às «Tapeçarias de Portalegre», coordenada pelo então diretor do Serviço de Exposições e Museografia da FCG, José Sommer Ribeiro. A mostra apresentou cerca de 30 tapeçarias da autoria de um conjunto de artistas nacionais e internacionais e esteve patente, numa primeira fase, no Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Foi inaugurada no dia 22 de maio de 1978.

Reuniu peças pertencentes à Coleção Gulbenkian e a outras coleções privadas, nomeadamente a da Manucfatura de Portalegre, apresentando cartões de grandes artistas, como Almada Negreiros, Carlos Botelho, Le Corbusier ou Vieira da Silva, e documentando, nas palavras de Jean Lurcat referindo-se à Manufactura de Portalegre, «les meilleurs tapissiers du monde» («Exposições portuguesas no Rio e em S. Paulo», Diário de Notícias, 20 jun. 1978).

A mostra dedicada à produção têxtil organizada pela FCG foi ainda acompanhada por mais duas exposições, cada uma delas dedicada a uma vertente artística intimamente ligada à cultura portuguesa: o azulejo e a gravura. Ambas as exposições foram apresentadas simultaneamente no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a 26 de maio de 1978, contando com o apoio do Fundo de Fomento de Exportação no transporte das peças.

A exposição dedicada à arte da gravura portuguesa, coordenada por Fernando Calhau e apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, apresentou um conjunto de 125 trabalhos de 61 artistas, constituindo-se como uma «importante demonstração da obra dos nossos gravadores» (Ibid.).

Exposta no mesmo espaço da gravura, a arte do azulejo documentou a evolução do azulejo português do século XV ao século XX. Além dos exemplares mais conhecidos, apresentou criações mais contemporâneas de Maria Keil, Querubim Lapa, entre outros. Com o intuito de complementar esta mostra, Rafael Calado dissertou, ao longo de três conferências, sobre o uso do azulejo em Portugal, dos seus primórdios até à contemporaneidade, e sobre a sua utilização no Brasil.

A exposição «Tapeçarias de Portalegre» conheceu um êxito invulgar no Brasil. A inauguração contou com a presença de importantes personalidades, como o presidente da República Portuguesa, António Ramalho Eanes, o embaixador do Brasil, Carlos Alberto da Fontoura, e o diretor do Serviço de Exposições e Museografia (SEM), José Sommer Ribeiro.

Carlos Alberto da Fontoura, num ofício enviado a José Sommer Ribeiro, felicitou o diretor do SEM pelo «trabalho de selecção e de montagem da mostra – um dos acontecimentos de mais alto nível artístico que se verificou em Brasília neste primeiro semestre de 1978» (Carta de Carlos Alberto da Fontoura para José Sommer Ribeiro, 6 jun. 1978, Arquivos Gulbenkian, SEM 00126).

Além dos projetos expositivos, o programa cultural foi ainda marcado por um recital de piano por Sequeira Costa, realizado no Museu de Arte Moderna de São Paulo, e pelas apresentações de três obras de autores portugueses, que tiveram lugar no Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, contando com a colaboração da Secretaria de Estado da Cultura e da Livraria Portugália.

A Universidade de Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, acolheu, no âmbito deste conjunto de iniciativas culturais, uma conferência proferida pela etnógrafa Margarida Ribeiro, subordinada ao tema «Etnografia portuguesa – duas dicotomias e unidade cultural», ao mesmo tempo que o Real Gabinete Português de Leitura «apresentou ao público, também no Rio de Janeiro, uma natural colecção de livros ilustrados, consagrados à história de arte portuguesa» («Exposições portuguesas no Rio e em S. Paulo», Diário de Notícias, 20 jun. 1978).

Decorridos aproximadamente dezassete anos sobre esta iniciativa cultural no Brasil, a Fundação Calouste Gulbenkian organizaria uma exposição dedicada exclusivamente à Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, apresentando um notável conjunto de 60 peças cedidas por instituições públicas e privadas. Esteve patente no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, de 26 de setembro a 15 de dezembro de 1996.

Joana Atalaia, 2018