50 Anos de Tapeçaria em Portugal. Manufactura de Tapeçarias de Portalegre

50.º Aniversário da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre

Exposição comemorativa do 50.º aniversário da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian. Comissariada por José Sommer Ribeiro e Fernando de Azevedo, a mostra, focada em aspetos artísticos e históricos, apresentou a atividade desenvolvida pela Manufactura de Portalegre entre os anos de 1946 e 1996.
Commemorative exhibition held by the Calouste Gulbenkian Foundation for the 50th anniversary of the Portalegre Tapestry Manufacturer curated by José Sommer Ribeiro and Fernando de Azevedo. The show presented a historical and artistic perspective on the manufacturer’s activities between 1946 and 1996.

Mostra de caráter retrospetivo, na qual foram exibidas tapeçarias produzidas durante a segunda metade do século XX (1946 a 1996) pela Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, cuja qualidade ímpar de produção é reconhecida a nível internacional. Contou com o apoio de diversos emprestadores – instituições públicas e privadas, e colecionadores particulares.

Foram apresentadas cerca de 60 tapeçarias, selecionadas de entre milhares de obras. Segundo os comissários da exposição, «não seria possível, por razões não só de espaço, mas ainda de necessária síntese, que bem se compreendem, expor o enorme volume de obras – ultrapassa as duas mil – que constituem o corpus de tapeçarias realizadas. Aliás, grande parte delas encontram-se ou colocadas em lugares públicos de onde dificilmente podem ser retiradas, ou no estrangeiro, nem sempre, estas, de acesso possível» (Comunicado de imprensa, 17 set. 1996, Arquivos Gulbenkian, ID: 267754).

As tapeçarias de Portalegre já tinham sido expostas no Brasil, em 1978, no âmbito de uma exposição que reuniu cerca de 29 peças, despertando, desde logo, a atenção de vários artistas, incluindo a de Jean Lurçat, um dos grandes renovadores da arte da tapeçaria moderna. As peças expostas neste contexto foram executadas a partir de cartões de grandes artistas portugueses e estrangeiros – entre eles Almada Negreiros, Carlos Botelho, Le Corbusier e Vieira da Silva – e ilustraram a qualidade das tapeçarias de Portalegre, aspeto corroborado por Lurçat: «Oui, Portalegre, les meilleurs tapissiers du monde.» («Exposições de Arte Portuguesa no Brasil», A Luta, 23 jun. 1978)

A produção de Portalegre começou com o sonho de Manuel do Carmo Peixeiro, nascido em 1893 na Covilhã, que havia estudado engenharia têxtil na Escola de Roubaix, em França. Em 1914, começou a trabalhar numa fábrica de lanifícios de Alenquer e, posteriormente – durante a Segunda Guerra Mundial – decidiu «criar um tipo original de tapeçaria que, além do grande feito decorativo das tapeçarias flamengas da Idade Média, tivesse vantagens de ordem técnica que suprissem os defeitos que [...] lhes tiravam certo valor» (Martins, Expresso, 12 out. 1996).

Segundo o testemunho de José Régio, notável escritor e fonte próxima de Manuel do Carmo Peixeiro, no artigo que escreveu para o jornal O Primeiro de Janeiro, em 1978, desde cedo se presenciou a sua vontade de «criar uma tapeçaria nacional» e a invenção do chamado «ponto de nó», ou «ponto português», em que eram executadas as respetivas tapeçarias e que «já estrangeiros» reconheciam «como originalmente português» (Ibid.).

A Manufactura de Tapeçarias de Portalegre nasceu graças ao esforço conjunto de Manuel do Carmo Peixeiro e Guy Roseta Fino, um industrial têxtil em Portalegre que continuou a obra da sua família na indústria de lanifícios de Portalegre –, os quais «numa convergência de saberes, amor à arte e cultura, correndo riscos financeiros e com a "força e mérito" [...] tornaram realidade, a nível mundial», a produção de tapeçarias de Portalegre. Desde a sua fundação, a Manufactura produziu «centenas de tapeçarias de 208 artistas, cerca de noventa estrangeiros» (Viana, Casa e Decoração, dez. 1996).

A exposição apresentou uma ampla mostra de tapeçarias, cuja diversidade de estilos contava uma história que ia do «decorativismo tradicionalista dos seus começos» até à modernidade. Destacavam-se obras do grande especialista Jean Lurçat – composições grandiosas e coloridas, de grande exigência técnica. Tomando de empréstimo as palavras de Celso Martins, «Jean Lurçat redescobre a […] especificidade [da tapeçaria] enquanto modalidade artística que não pode reduzir-se a “pintura com lã”, e que tem na sua vocação táctil uma originalidade propiciadora» (Martins, Expresso, 12 out. 1996).

Organizada com o apoio de Guy Fino e da sua filha, Elsa Fino, diretora da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, a exposição distribuiu-se ao longo dos três pisos do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP). Na entrada, dedicada à cidade de Lisboa, «numa espécie de saudação à Cidade que acolheu esta mostra», destacaram-se as tapeçarias feitas a partir de obras de Almada Negreiros ou de Carlos Botelho, o que permitiu «apreender, na escala das peças expostas, a qualidade específica da tapeçaria como grande decoração, como parede e revestimento de espaços públicos» (Pomar, Expresso, 5 out. 1996, p. 14).

No piso inferior, com um caráter mais didático e pedagógico, foram apresentados alguns documentos relativos à arte da tapeçaria – jornais, catálogos, revistas, desdobráveis – e a primeira tapeçaria da Manufactura de Portalegre, realizada a partir de um cartão da autoria do pintor portalegrense João Tavares, o primeiro artista a colaborar com a indústria. Os organizadores da exposição optaram também por apresentar uma artífice a trabalhar num tear, algo que captou a atenção dos visitantes e dinamizou o espaço expositivo.

Noutro ponto, o espectador podia comparar «o gosto e os compromissos histórico-nacionalistas (Camarinha, Kapa, Maria Keil) com as propostas de decoração alternativa (em termos ideológicos e estéticos) feitas em 1949 por Pomar, Lima de Freitas e Mário Dionísio [...] ou a curiosa peça abstractizante de Waldemar da Costa, já de 1958» (Ibid.).

A mostra encerrava com peças ligadas à contemporaneidade, demonstrando a atualidade da produção de Portalegre, com artistas como Eduardo Nery, Charrua, Fernando Lemos, José de Guimarães, Rogério Ribeiro, entre muitos outros.

O catálogo da exposição documenta a história das tapeçarias de Portalegre e o seu papel fundamental no reconhecimento da tapeçaria moderna portuguesa. Além do texto de apresentação, assinado por Pedro Tamen, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, o catálogo inclui textos de António Ventura e Rui Mário Gonçalves – que enquadram a Manufactura no âmbito da história e da história da arte –, um texto da autoria dos comissários José Sommer Ribeiro e Fernando de Azevedo, e ainda um outro, assinado por Elsa Fino.

Pedro Tamen, no texto de apresentação do catálogo, salientou o trabalho da arte da tapeçaria e o enorme esforço empreendido para que esta se destacasse no panorama artístico português, principalmente durante os tempos de crise vividos durante e após a Segunda Guerra Mundial. Para Tamen, se esta exposição e respetivo catálogo existiram foi graças a «um exercício discreto de certas virtudes essenciais para o fim em vista». E cita duas: «Primeiro, a esperança, isto é a coragem: só assim se percorre um percurso de tantos obstáculos. Depois, a paciência, que o próprio ponto-por-ponto da tapeçaria metaforiza. Das mais virtudes se poderia falar, mas bastam estas para que se perceba que o que aqui comemoramos – e homenageamos – é a obra de qualidade porque é obra de qualidade.» (50 Anos de Tapeçaria em Portugal. Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, 1996, p. 11)

Citando a imprensa da época, «Rui Mário Gonçalves, integra o renascimento da Tapeçaria portuguesa do século XX numa sinopse em que salienta algumas características da melhor Arte portuguesa desde há séculos: a subtileza, a síntese, o lirismo» (Casa e Decoração, dez. 1996), e «Le Corbusier chamou à tapeçaria "o mural dos tempos modernos", reivindicando para ela um papel importante no acondicionamento visual de novos espaços arquitecturais» (Martins, Expresso, 12 out. 1996).

A exposição foi complementada com a realização de visitas guiadas, orientadas pelo comissário e pintor português Fernando de Azevedo e pelo Serviço Educativo do Museu Calouste Gulbenkian.

Na inauguração estiveram presentes o presidente da FCG, António de Arruda Ferrer Correia, Guy Roseta Fino, conhecido como «o Homem das Tapeçarias», a diretora da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, Elsa Fino, Simone Lurçat, portalegrenses residentes em Lisboa e ainda outras entidades ligadas à cultura e à arte (Patrão, Distrito de Portalegre, 4 out. 1996).

Joana Atalaia, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Tapeçarias de Portalegre

out 1996 – nov 1996
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25163

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite. 1996

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00382

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém textos do catálogo, atas, correspondência interna e externa e recortes de imprensa. 1994 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 15526

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, recortes de imprensa, convite e programa de atividades da FCG. 1996 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 15528

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém informações sobre a edição do catálogo e uma carta da família de Manuel do Carmo Peixeiro. 1996

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA-S004-P0077

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa e recortes de imprensa. 1996


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