A 12 de outubro de 1993, inaugurou no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, sede da delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, uma exposição de desenhos do artista multidisciplinar José de Almada Negreiros (1893-1970).

A exposição, que encerrou a 16 de dezembro de 1993, inseriu-se num conjunto de ações culturais que marcaram o centenário do nascimento de Almada Negreiros e que visaram a divulgação da sua obra, então pouco conhecida do público francês. A par da exposição, seria realizada uma sessão de leituras de textos de Almada (poesia e prosa), pelo ator Pierre Baillot, no âmbito do programa «La Fureur de Lire», bem como uma conferência em português, por Celina Silva (Universidade do Porto), intitulada «Almada Negreiros: itinéraire poétique», e uma conferência em francês, pelo historiador de arte José-Augusto França, intitulada «Almada Negreiros, peintre du Portugal par cœur». Além destas iniciativas, a biblioteca da delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em França organizou uma exposição bibliográfica subordinada ao tema «Almada Negreiros: vie et œuvre».

«Almada. Dessins» resultou de uma colaboração entre o Centre Culturel Calouste Gulbenkian e o Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian e almejou ser uma exposição panorâmica do desenho de Almada Negreiros, embora incompleta, como admite José Sommer Ribeiro, diretor do CAM, num dos textos de introdução ao catálogo. Este contém ainda um texto de Miguel Torga, sobre a importância do modernismo de Almada Negreiros na mudança do pensamento cultural e artístico português, e uma biografia do artista, assinada por José-Augusto França, aos quais se segue a reprodução das obras expostas.

A programação da exposição e a seleção dos trabalhos expostos – cedidos, na sua totalidade, pelo CAM – foi da responsabilidade conjunta de José Sommer Ribeiro e Maria de Lourdes Belchior, diretora do Centre Culturel Calouste Gulbenkian.

Parte importante e transversal da obra do artista nascido em São Tomé e Príncipe, o desenho de Almada destaca-se pelo seu traço de grande síntese e pelo tratamento que este confere aos volumes, com a aplicação de chiaroscuro. Os 34 desenhos expostos apresentaram um conjunto de trabalhos realizados entre a primeira década e a década de 30 do século XX, no qual Almada explorou diversos materiais, como aguarelas, grafite, tinta-da-china e pastel sobre papel ou cartão, alguns deles publicados nas revistas Sempre Fixe e Contemporânea. Neles podemos ver temas muito caros a Almada Negreiros, como saltimbancos, bailarinas e figuras de circo, arlequins e pierrots, marinheiros e retratos femininos, dos quais se destaca o retrato de Sarah Affonso, datado de 1938.

Tanto a exposição como a conferência proferida por José-Augusto França foram divulgadas na revista Colóquio/Artes.

Carolina Gouveia Matias, 2018