A Expansão Portuguesa e a Arte do Marfim

Exposição de esculturas em marfim, organizada pela Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian, e comissariada por Francisco Hipólito Raposo. Esta mostra histórica foi mais um contributo para o estudo e preservação da memória dos Descobrimentos.
Exhibition of ivory sculptures organised by the National Commission for the Commemoration of the Portuguese Discoveries, in partnership with the Calouste Gulbenkian Foundation, and curated by Francisco Hipólito Raposo. This historical show represented another contribution to studying and preserving the memory of the discoveries.

Exposição coletiva de arte esculpida em marfim, proposta e integrada nas comemorações da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (CNCDP), organizada em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Comissariada por Francisco Hipólito Raposo, a exposição esteve patente na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 01), de 25 de junho a 15 de setembro de 1991.

Esta mostra, constituída por cerca de 600 peças em marfim dos séculos XVI, XVII e XVIII, provenientes em grande parte de coleções privadas, visou contribuir para o estudo e a perpetuação da memória dos Descobrimentos Portugueses, promovido através de uma série de exposições produzidas pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

Graças a um enorme processo de inventariação e ao contributo de centenas de colecionadores e de algumas coleções públicas, foi possível criar um panorama geral sobre a arte do marfim esculpido, proveniente de diversas zonas do mundo, de África ao Japão. Assim ficava demonstrada a importância e o contributo desses agentes na sua conservação e preservação.

Nas palavras de Francisco Faria Paulino, secretário executivo da CNCDP, no prefácio do catálogo, «esta exposição integra-se num esforço de compreensão desse passado e mostra-nos uma arte sensível e de delicada manufactura, que vem evidenciar duas constantes da acção dos portugueses: a sua influência civilizacional, caracterizada pelos temas escolhidos, e a espacialidade dessa influência que se estende desde África até ao Japão» (A Expansão Portuguesa e a Arte do Marfim, 1991, p. 11).

A exposição concentrou-se em reunir objetos que abrangessem diferentes culturas e etnias, distribuindo-se por cinco grupos principais: o afro-português, o indo-português, o cíngalo-português, o sino-português e o nipo-português. Devido à dificuldade em atribuir origem e datação a algumas peças, à exceção das de origem afro-portuguesa, o comissário da exposição, Francisco Hipólito Raposo, optou por organizar a mostra em torno da temática iconográfica e segundo a cronologia do Antigo e do Novo Testamento. Esta organização permitiu, entre outros aspetos, realizar uma comparação estilística e formal entre diferentes peças com a mesma temática, estratégia que já fora utilizada anteriormente nos diversos estudos de Bernardo Ferrão de Tavares e Távora.

Segundo João Pinharanda: «A partir desta exposição, e dos vastos mas fragmentários estudos já publicados sobre o assunto, será possível (e necessário) estabelecer tipologias formais e de interpretação simbólica e iconográfica, de enquadramento económico e de sociologia do gosto.» (Pinharanda, Expresso, 28 jun. 1991)

O projeto museográfico contou com a colaboração do Serviço de Exposições e Museografia da FCG, a cargo do seu diretor, José Sommer Ribeiro, e do comissário da exposição, Francisco Hipólito Raposo. Algumas dúvidas sobre as origens de algumas peças expostas obrigaram a um sistema de classificação por cores, de acordo com as diferentes regiões abordadas na exposição, algo que facilitou a compreensão do percurso dos objetos expostos, alguns deles com atribuição de mais do que uma cor.

A jornalista Luísa Soares de Oliveira, no artigo que redigiu para o jornal Público, lamentaria que a exposição não tivesse sido acompanhada da «investigação aprofundada que o género pede», observando: «A montagem da exposição, que seguiu o critério exclusivamente iconográfico, faz de imediato ressaltar uma série de questões relacionadas com a sociologia da arte, a que se poderia ter tentado responder. É impossível não nos questionarmos sobre a autêntica produção em série de tantas e tantas peças para uso religioso privado; sobre quem as fez e como; sobre a circulação de modelos e seus itinerários; sobre o modo de trabalhar o marfim; etc., etc. e etc.» (Oliveira, Público, 19 jun. 1991)

O catálogo da exposição conta com um prefácio da autoria de Francisco Faria Paulino e segue a mesma lógica da exposição, estruturando-se com base na iconografia do Antigo e do Novo Testamento – mostrando nomeadamente imagens do Paraíso, da Árvore de Jessé, de Nossa Senhora da Conceição (um dos temas mais representados), da Natividade, da Paixão de Cristo, entre outras. Dentro de cada tema, o leitor é convidado a comparar estilos artísticos utilizados pelas cinco civilizações abordadas, dos mais elaborados aos mais simples. A publicação conta ainda com um mapa que informa sobre os locais de produção exatos das obras e oferece pequenos textos de apresentação sobre cada um desses centros artísticos.

O catálogo termina com a seleção de algumas peças do quotidiano, desde oratórios, gavetas-escritórios, pequenas caixas e almofarizes. Apesar da extensa quantidade de peças de cariz religioso, o trabalho do marfim para as encomendas portuguesas contava com uma variedade imensa de peças laicas, sendo praticamente impossível uma atribuição de origem, excetuando os casos afro-portugueses. Francisco Hipólito Raposo alerta-nos para o facto de a influência da cultura portuguesa ter abrangido «um campo muitíssimo mais vasto, formidável abraço de civilizações que se encontraram, se cruzaram, se completaram, se desenvolveram e se beneficiaram mutuamente» (A Expansão Portuguesa e a Arte do Marfim, 1991, p. 192).

De acordo com Francisco Faria Paulino, a CNCDP reconheceu todo o esforço e trabalho investidos na organização e produção desta exposição, reforçando o agradecimento aos colecionadores que disponibilizaram as suas peças para deleite de curiosos e apreciadores desta vertente artística. Foi graças à cooperação que «existiu entre os Senhores colecionadores e as direcções dos museus que se prontificaram a emprestar as peças, a Fundação Calouste Gulbenkian, que acolhe a Exposição e tecnicamente a realizou, e a Companhia de Seguros O Trabalho que providenciou o seguro das peças» (A Expansão Portuguesa e a Arte do Marfim, 1991, p. 11). Esta parceria resultou do sentido de responsabilidade de todos os agentes envolvidos na iniciativa, uma vez que, salienta igualmente, é necessária a existência de uma sensibilidade e corresponsabilidade entre todos, na investigação e preservação do património cultural.

Para Francisco Hipólito Raposo, a relação artística, cultural, económica e social entre as cinco civilizações apresentadas nesta exposição ofereceu-se como uma «magnífica simbiose poucas vezes igualada na história do mundo e da qual como portugueses só nos podemos orgulhar» (A Expansão Portuguesa e a Arte do Marfim, 1991, p. 192).

A inauguração da exposição contou com a presença de um vasto conjunto de personalidades, entre as quais Aníbal Cavaco Silva e António de Arruda Ferrer Correia.

Joana Atalaia, 2018


Ficha Técnica


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Vasco Graça Moura, Maria Cavaco Silva, Pedro Santana Lopes (à esq.), Aníbal António Cavaco Silva (ao centro), José Blanco (atrás, ao centro), António de Arruda Ferrer Correia e Roberto Gulbenkian (à dir.).

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03443

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém recortes de imprensa. 1991 – 1991

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00669

Pasta com documentação relativa ao processo de produção da exposição. Contém recibos verdes referentes ao empréstimo e devolução de diversas obras de arte que integraram a exposição. 1991 – 1991

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00708

Pasta com convites e programas de diversos eventos organizados pelo Serviço de Belas-Artes. 1975 – 1992

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0226-D00686

Coleção fotográfica, p.b., cor: aspetos e inauguração (FCG, Lisboa) 1991


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.