Vasco da Gama et l’Inde

Comemorações do V Centenário do Caminho Marítimo para a Índia

Exposição de homenagem a Vasco da Gama e aos quinhentos anos do descobrimento do caminho marítimo para a Índia. A mostra reuniu vários serviços da Fundação Calouste Gulbenkian na sua produção, sendo realizada na Chapelle de la Sorbonne, em Paris. Contou com a presença dos presidentes da República Francesa e Portuguesa na inauguração.
Exhibition paying homage to Vasco da Gama to celebrate 500 years since the discovery of the sea route to India. Several of the Calouste Gulbenkian Foundation’s services worked together to arrange the show which would be staged at the Chapelle de la Sorbonne, in Paris. The presidents of France and Portugal attended the opening.

 

A exposição «Vasco da Gama et l'Inde» esteve patente na Chapelle de la Sorbonne, em Paris, de 11 de maio a 30 de junho de 1998, organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian, em associação com a Chancelaria das Universidades de Paris, a Fundação Oriente e a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. A inauguração teve lugar no primeiro dia de uma conferência internacional consagrada à evocação dos quinhentos anos da viagem de Vasco da Gama à Índia, organizada também pela Fundação em Paris, e contou com a presença dos chefes de Estado dos dois países, Jorge Sampaio e Jacques Chirac.

A conferência – também intitulada «Vasco da Gama et l'Inde» – teve lugar no Grand Salon da Sorbonne e no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, de 11 a 13 de maio de 1998. Na conferência internacional participaram mais de sete dezenas de historiadores portugueses, franceses, indianos e norte-americanos, cujas comunicações, posteriormente publicadas pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), se dividiam em três áreas temáticas: história política-administrativa-militar, história económico-social e história artística-cultural-religiosa. Dos inúmeros conferencistas destacaram-se: Luís Filipe Barreto, João Paulo Costa, João de Deus Ramos, António Vasconcelos de Saldanha, Carmen Radulet, Luís Adão da Fonseca, Pedro Dias, Rui Manuel Loureiro, Joaquim Veríssimo Serrão, António Coimbra Martins, Paul Tessier e Geneviève Bouchon. O encerramento da conferência foi assinalado por um concerto de música da época dos Descobrimentos, intitulado «Musique portugaise de XVIe au XVIIIe siècles», interpretado pelos Segréis de Lisboa, no Grande Anfiteatro da Sorbonne.

Na organização da exposição colaboraram vários serviços da FCG, o que reflete a importância atribuída pela Fundação a esta iniciativa: Serviço Internacional, Centre Culturel Calouste Gulbenkian, Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão e Serviços Centrais.

Tal como afirma José Blanco, administrador da FCG, no catálogo da exposição, desde o seu início que a Fundação quis estar associada a projetos relacionados com a celebração dos Descobrimentos Portugueses, através do apoio a inúmeras iniciativas, como exposições congressos, conferências, seminários, edições e bolsas de estudo.

A exposição foi comissariada por Maria Helena Mendes Pinto e José Manuel Garcia e apresentou um conjunto de peças resultantes do encontro de culturas originado pela viagem de Vasco da Gama, celebrando assim os quinhentos anos da chegada a Calecut, em maio de 1498. Para tal, foram expostos objetos de arte sacra e profana portuguesa, indiana e indo-portuguesa, os quais, segundo René Blanchet, reitor da academia e chanceler das Universidades de Paris, passavam por «testemunhos de uma aventura nascida de um desejo de compreensão do mundo, de uma curiosidade, científica ou não, interessada ou não, que leva os homens a enfrentar o desconhecido, a suportar os calores dos trópicos e do equador, a arriscar-se no oceano. Mapas, livros raros, quadros, móveis, moedas fazem reviver o universo científico, cultural e religioso destes Europeus com temperamento aventureiro» (Vasco da Gama e a Índia, 1998, p. 13).

Para a exposição, foram cedidas obras por diversas entidades internacionais, num total de 53 coleções privadas e públicas, entre elas a Assembleia Nacional francesa, o Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa e o Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque. As peças expostas foram selecionadas pelo seu valor estético e por constituírem um testemunho histórico do encontro das duas culturas.

A Biblioteca de Arte da FCG cedeu para a exposição o livro Primo volume delle navigationi et viaggi nel qual si contiene la descrittione dell'Africa, et del paese del Prete Ianni, con varii viaggi […], edição rara de 1550, assinada por Giovanni Battista Ramusio.

Evocando o navegador que permitiu ao rei D. Manuel tornar-se um dos responsáveis pelo arranque da Idade Moderna e que posicionaria Portugal no centro de um projeto que se alargaria a toda a Europa, a exposição iniciava-se com um conjunto de imagens representativas da figura de Vasco da Gama. Estas imagens incluíam desde desenhos do século XVI a uma aguarela do final do século XIX, passando por duas pinturas a óleo do século XVI e XVIII.

A segunda vertente da exposição era dedicada à Índia enquanto objetivo final da viagem empreendida por Vasco da Gama. Sobre esta vertente, os comissários da exposição afirmaram que «ao serem assinalados diversos lugares e objectos provenientes do subcontinente asiático, e ao ser apresentada uma cultura que não a europeia, pretendeu-se despertar em cada um dos visitantes o desejo de realizar a sua própria descoberta pessoal» (Ibid., p. 16).

Foi a viagem de Vasco da Gama à Índia que deu o mote para o arranque da chamada «Carreira da Índia», ligação marítima anual entre Lisboa e Goa, que permitiu a ida de milhares de portugueses para a Ásia e que esteve na origem da fundação do Estado da Índia, onde foram erguidos conjuntos urbanos e arquitetónicos enriquecidos por intervenções artísticas.

A crescente intensidade da relação entre Portugal e a Índia, no decorrer dos séculos, é demonstrada pela quantidade de objetos que constituem o legado artístico indo-português, apresentados nesta exposição através de pintura, vestuário, ourivesaria, mobiliário e têxteis. A confluência de culturas na arquitetura esteve também presente na exposição através de uma longa série de pinturas oitocentistas, onde se retratavam aspetos de Goa e da sua população.

Tal como lembra Maria Helena Mendes Pinto no catálogo da exposição, a chegada dos portugueses à Índia permitiu dar a conhecer ao Ocidente finos panos de algodão, sedas sumptuosas e bordados característicos de Bengala ou do Guzarate. Trouxe também peças de ourivesaria indiana, representativas da minúcia na execução de filigranas e do trabalho em metais preciosos, assim como do uso de matérias exóticas como madrepérola, tartaruga, corno de rinoceronte e marfim, sendo este último muito usado na execução de esculturas religiosas. A seguir às especiarias e às pedras preciosas, eram os tecidos orientais que mais suscitavam a curiosidade e o desejo dos portugueses, pela cor e diferença de texturas, dos quais sobressaíam as colchas de Bengala.

Apesar da inserção de temas ocidentais na produção artística indiana, como é exemplo a iconografia cristã europeia esculpida em oratórios-relicários, foi no mobiliário e no traje que se deram as manifestações mais claras da arte indo-portuguesa e mais diferenciadas dos hábitos culturais indianos. A indumentária usada pelos portugueses na Índia surge representada em retratos de vice-reis, numa vertente mais ostensiva, e nas figuras de portugueses pintadas em biombos Namban, mas também em relatos, onde os bordados indianos se associam aos trajes civis e às vestes litúrgicas.

O hábito de usar mobiliário na Índia, nomeadamente elementos como assentos altos, foi algo diretamente influenciado pela chegada dos portugueses, já que até aí a população tinha o hábito de se sentar em coxins, alcatifas e esteiras, ou mesmo diretamente no solo. Assim, o mobiliário executado em território dominado pelos portugueses era estruturalmente diferente do mobiliário executado em terras governadas pelo grão-mogol. Na exposição podiam ver-se contadores, mesas, escritórios, arcas e gavetas-escrivaninhas resultantes desta hibridização cultural e artística, ornamentados com motivos geométricos e vegetalistas através de embutidos de pau-santo, marfim e sissó.

Os objetos selecionados foram divididos em cinco núcleos temáticos expositivos, por sua vez divididos em diferentes secções. Assim, a exposição dividia-se em: Parte I – Vasco da Gama e a Índia (subdividida em duas secções: Vasco da Gama; Índia); Parte II – Portugal: Ponto de partida da expansão europeia no mundo (subdividida em cinco secções: O Portugal manuelino; Numismática portuguesa e indo-portuguesa no tempo de Vasco da Gama; Os navios dos Descobrimentos; Artilharia; Náutica); Parte III – A viagem de descobrimento do caminho marítimo para a Índia (subdividida em duas secções: A viagem; Uma nova visão do mundo: a cartografia); Parte IV – O legado de Vasco da Gama (subdividida em cinco secções: A história; Os estabelecimentos portugueses na Índia: séculos XVI e XVII; Drogas e especiarias da Índia; Arte sacra; Arte profana: a) Pintura, indumentária, adornos pessoais e de casa; b) Ourivesaria; c) Têxteis; d) Mobiliário; e) Arquitetura; f) Imagens do século XIX); Parte V – A glorificação de Gama.

Apesar de muito visitada (durante o primeiro mês, a exposição foi vista por 27 mil pessoas), a receção da exposição foi bastante polémica e dividida, como se consegue perceber, nomeadamente, pelos comentários deixados no livro de visitas. Se, por um lado, alguns visitantes elogiaram a iniciativa da FCG de homenagear Vasco da Gama; por outro, houve quem lembrasse a violência e a escravatura associada aos descobrimentos marítimos e a que a exposição não aludia.

Também alguns periódicos portugueses lamentaram que tal homenagem tivesse tido lugar em França e não em Portugal: «É vergonhoso que este Congresso não se tenha realizado nem na capital indiana, nem em Goa e nem em Lisboa, como as [cidades] mais indicadas. As duas primeiras seriam eliminadas porque a Índia a isso se opôs, a nível oficial. E Lisboa? Não teria Vasco da Gama essa honra de ver o nosso País como centro das mesmas? Era como se o aniversário da Revolução Francesa, por exemplo, se realizasse em Lisboa…» (Silveira, O Dia, 17 jul. 1998, pp. 31-32)

 

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

[Vasco da Gama et l'Inde]

11 mai 1998 – 13 mai 1998
Grand Salon de la Sorbonne
Paris, França
Concerto

Musique Portugaise de XVIe au XVIIIe Siècles

13 mai 1998
Grand Amphithéâtre de la Sorbonne
Paris, França

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Fotografias em álbum da inauguração da exposição e da conferência «Vasco da Gama et l'Inde»
Ábum com fotografias do concerto do grupo Segréis de Lisboa

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 03372

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa e apólices de seguro. 1997 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 03376

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa e apólices de seguro. 1997 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 03381

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, informações sobre o seguro das peças e listas de obras com valores de seguro. 1998 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 03382

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa sobre vários aspetos associados à conferência «Vasco da Gama e a Índia» e lista de contactos dos conferencistas. 1998 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 03383

Pasta com recortes de imprensa referentes à exposição. 1998 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 04246

Pasta com documentação referente à produção da exposição e conferência associada. Contém correspondência interna e externa; listas de obras; lista dos emprestadores e formulário de empréstimo. 1997 – 2003

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 04247

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém formulários de empréstimo. 1998 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 04412

Pasta com documentação referente à produção da exposição e conferência associada. Contém correspondência interna e externa, orçamentos, recortes de imprensa, programa da conferência internacional, material gráfico. 1997 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Maria Helena Mendes Pinto), Lisboa / MHMP 00017

Pasta com documentação referente à produção da exposição e conferência associada. Contém plano da exposição e descrição de cada núcleo expositivo, listas de obras (com imagem). 1998 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Maria Helena Mendes Pinto), Lisboa / MHMP 00018

Pasta com documentação referente à produção da exposição e conferência associada. Contém planta da exposição; material fotográfico da montagem, inauguração e aspetos; relatórios. 1998 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Maria Helena Mendes Pinto), Lisboa / MHMP 00019

Pasta com documentação referente à produção da exposição e conferência associada. Contém material de investigação sobre os objetos apresentados. 1998 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05326

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite para a inauguração, lista de convidados, informações sobre o jantar e recortes de imprensa. 1998 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 04902

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, orçamentos, informações sobre o Hotel Meridien, os conferencistas, o jantar, suportes gráficos, programa da conferência e convites. 1998 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 04903

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, orçamentos, informações sobre a Sorbonne, plantas da Sorbonne e da capela, propostas de estratégia por empresas de comunicação, faturas, programa da conferência e informações sobre os conferencistas, informações técnicas, lista de obras, formulários de empréstimo e informações sobre as vendas. 1997 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 04904

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém vários dossiês respeitantes à estratégia de divulgação a exposição, cartaz, recortes de imprensa e press book. 1998 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 04905

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém provas de contacto. 1998 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Maria Helena Mendes Pinto), Lisboa / MHMP 00018

Coleção fotográfica, cor: aspetos: inauguração e montagem (Chapelle de la Sorbonne, Paris) 1998

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 04884

Coleção fotográfica, cor: conferência e concerto (Chapelle de la Sorbonne, Paris) 1998


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