Exposição retrospetiva da obra cenográfica de José Manuel Castanheira (1952). Inicialmente sugerida pela professora Anabela Mendes, que a havia proposto ao Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE) como atividade paralela à peça O Contrabaixo, de Patrick Süskind (Apontamento de Madalena Perdigão dirigido a José Sommer Ribeiro, 3 out. 1988, Arquivos Gulbenkian, CAM 00049). Esta mostra ganharia uma outra dimensão por determinação de Castanheira.

Após o convite que lhe foi dirigido, o arquiteto e cenógrafo português propôs apresentar «uma visão global sobre todos os trabalhos», dando a conhecer as diferentes fases de conceção e concretização de «cenografias e espaços cénicos para 32 peças de teatro, ao longo de 15 anos (1973-1988) envolvendo a adaptação de 50 salas de espetáculos» (Carta e Projeto de Exposição, 30 nov. 1988, Arquivos Gulbenkian, CAM 00049).

Na carta que acompanha o seu projeto, Castanheira afirma: «Parece-me entretanto que esta Exposição só muito vagamente terá a ver com o projecto Contrabaixo» (Ibid.), e a partir de então a mostra desvincula-se da programação do ACARTE. A ela se associou uma mesa-redonda sobre «O Lugar do Espectáculo», para a qual Castanheira propõe convidar alguns profissionais da área do teatro e da cenografia que se destacavam no panorama nacional e internacional.

Ao longo da Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna (CAM), foram apresentados 33 projetos cénicos, através de desenhos, esquiços, fotografias e maquetas. O material selecionado denota interesse, por um lado, por mostrar o processo de trabalho e as suas diversas fases e, por outro, por dar a ver a «vivência» do(s) espaço(s) criado(s) quando «habitados» pelas personagens em diferentes momentos da peça. Assim, aos esboços juntam-se numerosos registos das peças de teatro, que mostram as diversas possibilidades, os jogos de volumes, cor e luz.

O projeto cenográfico mais antigo apresentado data de 1973 e foi realizado para a peça Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, levada a cena pelo GITT (Grupo de Iniciação Teatral da Trafaria). Da sua produção mais recente, Castanheira apresentou os projetos de cenografia para as três peças em que estivera envolvido no ano da exposição: A Voz Humana, de Jean Cocteau, no Teatro da Graça (Lisboa); O Paraíso Não Está à Vista, de Rainer W. Fassbinder, no TEAR (Porto); e O Urso, de Tchekhov, no GICC (Covilhã).

Esta mostra chamou a atenção da organização da Bienal Universitária de Coimbra, que manifestou interesse em apresentá-la em várias cidades portuguesas como parte integrante da programação organizada entre edições. Esta itinerância contou com o apoio do Centro de Arte Moderna e de entidades locais, como o Fórum Viseu – Casa-Museu Almeida Moreira, o Museu Municipal Santos Rocha, a Fundação Eng. António de Almeida e a Galeria do Refeitório do Mosteiro de Santa Cruz, abrangendo as cidades de Viseu, Castelo Branco, Covilhã, Figueira da Foz, Porto e Coimbra.

Em 1993, o Centre Georges Pompidou apresentava, no âmbito de um ciclo de retrospetivas de obras cenográficas, a mostra «José Manuel Castanheira: Scénographies 1973-1993» (15 setembro a 1 de novembro). Esta reunia algum do material previamente exposto no CAM em 1989, bem como documentação relativa a produções mais recentes, entre as quais a cenografia para a peça O Contrabaixo, a partir da qual na realidade se desencadeara esta sucessão de exposições e a obra cenográfica de Castanheira chegara a outros públicos.

Mariana Roquette Teixeira, 2018