Exposição da obra pictórica, gráfica e cenográfica de Abílio de Mattos e Silva (1908-1985), proposta à Fundação Calouste Gulbenkian pela viúva do artista, Maria José Salavisa.

Apresentada na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01), esta mostra dividia-se em pequenos núcleos, nos quais as obras de Mattos e Silva foram agrupadas por medium.

A sua produção pictórica, um tanto intermitente, foi dada a conhecer ao longo de dois núcleos, começando com obras da década de 1930, período marcado por paisagens, ora desertas ora pontuadas pelos hábitos do quotidiano da Nazaré e de Óbidos, povoações que o artista revisitará ao longo da sua carreira, como demonstram alguns óleos sobre madeira dos anos 50 e o núcleo de desenho.

Aos desenhos a grafite e tinta-da-china juntam-se trabalhos de pequeno formato, como aguarelas e guaches, que caracterizam a sua produção na década de 1940. Os cenários eram os mesmos de outrora, mas o olhar dirigia-se de forma mais incisiva para os costumes e vivências daquelas populações. Encontramos nestes trabalhos o registo cuidado da vida de trabalho árduo dos pescadores da Nazaré e das suas mulheres, responsáveis por amanhar o peixe e tomar conta das crianças. Depois do trabalho, como revela o aparo de Mattos e Silva, as mulheres refugiavam-se nas rezas e os homens no álcool.

Na passagem que ligava estes três núcleos, foram expostas algumas das inúmeras participações de Mattos e Silva no teatro, na ópera e no ballet, quer enquanto figurinista, quer enquanto cenógrafo, desde 1952 até 1970. Por último, foram apresentados alguns dos cartazes que desenhara para a promoção de Óbidos enquanto «Museu de Portugal» e para a Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas.

Cinco anos após a sua morte, Abílio de Mattos e Silva é relembrado através do seu trabalho, o que leva Fernando de Azevedo a constatar: «Quase nada se sabendo dele, eis que verdadeiramente muito dele afinal se viu. E é preciso pensar, voltando a ver-lhe a obra, que esta é, embora próxima de nós ainda, um inigualável testemunho.» (Abílio. Pintura, Desenho, Cenários, Figurinos, 1990, p. 8)

Mariana Roquette Teixeira, 2018