Bill Viola

Exposição itinerante que trouxe a Lisboa, pela primeira vez, uma seleção de trabalhos em vídeo e instalação do artista norte-americano Bill Viola (1951), nas quais abordava diferentes estados de consciência. Esta mostra surgiu na sequência de uma visita de Madalena de Azeredo Perdigão a uma exposição do artista apresentada no Museum of Modern Art de Nova Iorque.
Travelling exhibition presenting the work of US artist Bill Viola (1951) in Portugal for the first time, featuring a selection of video and installation works exploring different states of consciousness. The show was staged following the visit of Madalena de Azeredo Perdigão to one of the artist's exhibitions held at the Museum of Modern Art in New York.

Exposição itinerante da obra de Bill Viola (1951), apresentada na Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna (CAM).

A ideia de trazer a Lisboa a obra do artista norte-americano Bill Viola surgiu na sequência de uma visita de Maria Madalena de Azeredo Perdigão à exposição «Bill Viola: Installations and Videotapes» (1987), apresentada no Museum of Modern Art de Nova Iorque. Num ofício dirigido a José Sommer Ribeiro, diretor do Centro de Arte Moderna, a diretora do ACARTE reforça a sua intenção do seguinte modo: «[…] talvez se recordará, o artista Bill Viola foi um daqueles em que pensámos, quando foi criado o ACARTE […]. Este artista tem continuado a sua brilhante carreira […]. Parecendo-me que o Centro de Arte Moderna e o ACARTE deviam colaborar para realizar uma acção nestes domínios, entrei em contacto com Bill Viola que se mostrou muito interessado na apresentação das suas obras em Lisboa.» (Apontamento do Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte, 12 abr. 1988, Arquivos Gulbenkian, CAM 00056)

Antes de inaugurar no Centro de Arte Moderna, esta exposição passou por várias instituições europeias, entre 1988 e 1989: Riverside Studios (Londres), Douglas Hyde Gallery (Dublin) ou Museo de Arte Contempora´neo de Sevilla.

A mostra era composta pela instalação-vídeo Reasons for Knocking at an Empty House (1982) e por um conjunto de painéis fotográficos produzidos pelo Museum of Modern Art (MoMA) para a exposição de 1987, de forma a mostrar lado a lado alguns stills de vídeos de Viola. Como explica Greg Hilty, diretor de exposições dos Riverside Studios: «We incorporated these successfully into our show in a separate exhibition space […] they give an overview of the video work and examples of other installations.» (Carta de Greg Hilty para Maria Madalena de Azeredo Perdigão, 6 jan. 1989, Arquivos Gulbenkian, CAM 00056)

No caso da mostra no CAM, os referidos painéis constituíram um importante complemento, uma vez que o programa de Videotapes, exibido na Sala Polivalente, se circunscrevera a três dias. A alguns stills de Chott el-Djerid (A Portrait in Light and Heat) (1979) e I Do Not Know What It Is I Am Like (1986), integrados no programa, juntavam-se outros vídeos, como Information (1973), Hatsu Yume (First Dream) (1981), e imagens de duas instalações de vídeo e som, Heaven and Hell (1985) e The Theater of Memory (1985). Deste modo, era apresentada uma visão geral do percurso de Bill Viola, desde as suas primeiras experimentações com vídeo até à incorporação do vídeo em instalações, conjugando-o com elementos não eletrónicos.

A peça de maior destaque na exposição era a instalação-vídeo Reasons for Knocking at an Empty House (1982), dedicada a Phineas Gage, um empregado dos caminhos de ferro no século XIX que fora objeto de vários estudos científicos por ter sobrevivido a um acidente que se antevia mortal, tendo sido atingido por uma barra de ferro com cerca de um metro que lhe atravessou o cérebro. Apesar de, após o incidente, ter mantido as faculdades sensoriais, a memória e a linguagem, a sua personalidade alterou-se drasticamente, tornando-se um ser associal e irracional.

Composta por um monitor de TV sobre um plinto e uma cadeira de madeira com auscultadores integrados, que, vista de longe, lembra as primeiras cadeiras elétricas, esta instalação possui uma ambiência enigmática. Para que a autenticidade da peça fosse mantida, foi construída, na Sala de Exposições Temporárias do CAM, uma estrutura, segundo as indicações do artista, que servia igualmente para isolar a instalação dos restantes elementos expostos.

Ao entrar nesse espaço, mantido na penumbra, o espectador seria de imediato atraído pela imagem luminosa que o ecrã emitia, um vídeo no qual o artista surge com uma fisionomia alterada, perturbada, provocada pelo isolamento e privação do sono ao qual foi submetido ao longo de três dias. De tempos a tempos, uma personagem entra nessa sala de isolamento, aproxima-se e atinge o artista bruscamente na cabeça com uma revista enrolada, impedindo-o de adormecer. Quando esta cena passa na TV, a sala de exposições, até então em total silêncio, é invadida por um forte clamor.

Ao sentar-se na cadeira, a mesma onde o artista se encontra no vídeo, e ao colocar os auriculares, o espectador passa a ouvir não só os sons emitidos pelo corpo de Viola (respiração, engolir em seco, etc.) e do ambiente que o rodeia, mas também um fluxo de memórias da infância do artista. Desde modo, é como se o espectador ocupasse o lugar do artista, habitando o seu corpo e mente. Através desta peça, Bill Viola abordava questões de identidade e explorava diferentes estados de consciência.

O programa de Videotapes, organizado para ser exibido na Sala Polivalente do CAM, contígua ao espaço expositivo, incluiu os seguintes vídeos: Chott El-Djerid (A Portrait in Light and Heat) (1979), The Reflecting Pool – Collected Work 1977-80 (1980), Anthem (1983) e I Do Not Know What It Is I am Like (1986). Na sequência desta mostra, a videotape Hatsu-Yume (First Dream) (1981) foi adquirida pelo CAM.

Mariana Roquette Teixeira, 2018

This itinerant exhibition of the work of Bill Viola (1951) was presented at the Temporary Exhibition Gallery of the Modern Art Centre (CAM).

The idea of bringing the work of the American artist Bill Viola to Lisbon emerged after a Maria Madalena de Azeredo Perdigão’s visit to the exhibition Bill Viola: Installations and Videotapes (1987) at the Museum of Modern Art (MoMA) in New York. In an official letter addressed to José Sommer Ribeiro, Director of the CAM, Maria Madalena de Azeredo Perdigão, the Director of the Department of Artistic Creation and Art Education (ACARTE) reinforces her intention as follows: "perhaps you will remember, the artist Bill Viola was one of those we thought about when ACARTE was created (...). This artist has continued his brilliant career (...). Thinking the Modern Art Centre and the ACARTE should work together to act in these areas, I have contacted Bill Viola, who was very interested in presenting his works in Lisbon. "(Note from the Department of Artistic Creation and Art Education, 12 Apr 1988, Gulbenkian Archives, CAM 00056)

Before being held at  CAM, the exhibition travelled, to several European institutions between 1988 and 1989, such as Riverside Studios (London), Douglas Hyde Gallery (Dublin) and Museo de Arte Contemporáneo de Sevilla.

The show consisted of the video installation Reasons for Knocking at an Empty House (1982) and a set of photographic panels produced by the MoMA for the 1987 exhibition, in order to show side by side some stills of videos of Viola. As Greg Hilty, the Director of Exhibitions at Riverside Studios, explains: "We incorporated these successfully into our show in a separate exhibition space (…) they give an overview of the video work and examples of other installations" (Letter from Greg Hilty to Maria Madalena de Azeredo Perdigão, 6 Jan. 1989, Gulbenkian Archives, CAM 00056).

In the case of the CAM, these panels were an important complement since the Videotapes program, displayed in the Multipurpose Room, was limited to three days. In addition to a few stills of Chott el-Djerid ([A Portrait in Light and Heat]) (1979) and I Do Not Know What It Is I Am Like (1986), included in the program, other videos like Information (1973), Hatsu Yume ([First Dream]) (1981) and images of two video and sound installations, Heaven and Hell (1985) and The Theater of Memory (1985) were added. Thereby, an overview of the path of Bill Viola was presented, from his first experiences with video to the incorporation of video itself in installations, combining it with non-electronic elements.

The most prominent piece on display was the video installation Reasons for Knocking at an empty house (1982), dedicated to Phineas Gage, a 19th century railway construction worker who had been the object of several scientific studies, since he survived an accident deemed to be fatal, as he was hit by a metre-long iron rod, which was driven through his brain. After the accident, despite keeping his sensory faculties, his memory and speech, his personality altered drastically, becoming an a-social being. 

Composed of a TV set on a plinth, and a wooden chair with integrated earphones, which from a distance reminded of the first electric chairs, this installation produced an enigmatic atmosphere.  In order to preserve the authenticity of the piece and following the artist’s instructions, a structure was built in the Temporary Exhibitions Gallery at the CAM, to isolate the installation from the other exhibits. 

Entering that space, kept in semi-darkness, the spectator would immediately be attracted by the bright image from the screen emission, a video in which the artist appears with an altered and distressed expression,  caused by isolation and sleep deprivation he had been submitted  for three days. From time to time, one character enters this isolation room, approaches the artist and hits him abruptly on the head with a rolled up magazine, preventing him from falling asleep. When this scene is screened on the TV set, the exhibition room, kept in total silence until then, is invaded by a loud clamour.      

As the spectator sat on the chair, the same where the artist sits in the video, and put the headphones on, he will hear not only the sounds produced by Viola’s body (breathing, gulping, etc.) and the environment surrounding him, but also the flux of childhood memories of the artist. In this way it was as if the spectator was taking the place of the artist, inhabiting his body and mind. Through this piece, Bill Violla approached identity issues and explored different states of consciousness.

The Videotapes programme, organized to be featured in the CAM´s Multipurpose Room, next to the exhibits area, included the following videos: Chott El-Djerid (A Portrait in Light and Heat) (1979), The Refleting Pool - Collected Work 1977-80, Anthem (1983) and I Do Not Know What It Is I am Like (1986). After this event, the videotape Hatsu-Yume (First Dream) was acquired by the CAM.


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Exibição audiovisual

Bill Viola. Mostra de Vídeo

20 jul 1989 – 22 jul 1989
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala Polivalente
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

José Sommer Ribeiro

Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/004-D00492

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1989


Exposições Relacionadas

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